segunda-feira, outubro 31, 2005

“É cantar sem medo”

Não ficaria de consciência tranquila se não esclarecesse que sou adepto do Sporting (eu sei que ninguém diria, mas não o consigo esconder). Confesso que, muito (mas mesmo muito) a lés do que por lá se passa, vou torcendo pela doméstica Naval. E que poder gritar a meio de um jantar repleto de adeptos benfiquistas “Golo! Chega-lhes Fogaça!” me enche a alma de satisfação.
Fui, até, incapaz de evitar uma sonora gargalhada quando, aos 80’ de jogo, os tais adeptos rejubilaram de genuína alegria com o empate do Nuno Gomes, frente à Associação Naval 1º de Maio, em pleno Estádio José Bento Pessoa, na Figueira da Foz.

Esta Naval pode já nada ter a ver com a sua origem, pode até ser um clube descaracterizado; uma marca, infelizmente, à má imagem de outros. Mas este lado irracional tempera-se com afectos e é vacilante. Sábado, só me restou fazer de conta que isto não interessava, embarcar na marcha; com o Tejo mais perto do que o Mondego.
Lx
PS – O título é, obviamente, plagiado de uma das melodias mais emblemáticas lá do meu “Big Bang”. E conseguisse eu também cantar sempre assim.

sábado, outubro 29, 2005

Reprogramar a birra

A questão é que o tipo tem personalidade. E faz birras. E eu que aguente. Está aqui mesmo em frente, consigo vê-lo da janela, paradinho há já 2 dias.
Nunca gostei de despertadores, mas ao sábado de manhã abomino-os. Contudo, quando o carro se lembra de não abrir, pois que me levanto à procura de uma solução. Os fins-de-semana sem carro são particularmente irritantes – precisamente ao contrário dos dias de semana (onde o “6” é impera). Parece que há uma loja de rádios, alarmes e diversos não especificados na Passos Manuel; tinham-me dito que poderia ser da bateria, mas acho que com o passar do tempo já lhe identifico melhor as motivações.
Ontem, houve mais um conviva que passou a gostar de cerveja Belga (eventualmente com algum excesso de entusiasmo), e o que eu sei é que não apetecia nada estar de pé. Nada a fazer, a não ser tentar aproveitar o facto. Não conheço lá muito bem o comércio da Passos Manuel, apesar de passar por lá quase todos os dias no tal de “6”. Estava à procura daquela loja; tinha, portanto, de olhar com atenção para todas, há stands que não vendem alarmes, oficinas que reparam só os plásticos, lojas de sapatos com um aspecto velhíssimo, material de cozinha, mercearias. Ao Sábado de manhã o comércio tem um stress mais descontraído. Ou então foi a Chimay.
Está fechado, phonix que está fechado. Volta atrás, mas espera lá que aquilo não é um stand, diz ali: “não sei quê e alarmes”. Ninguém parece particularmente interessado em atender-me, provavelmente é a minha barba por fazer que me confere um certo toque de classe, até combina com a indumentária. E as olheiras.
“E tal, por favor, será que me pode ajudar”
“É pá, o carro não abre, isso é muita mau!”
Finalmente abro os olhos e apercebo-me que estou num spot de “Tunning ya, props, cena fatela.” Só eu sei…
“Népia, vai ali à loja, lá é que te podem ajudar e coiso”
“Mas não está fechado?”
“Não, tipo o gajo tá ali no café, mas, olha bacano, ele tá agora a entrar”
Correcto e afirmativo “Ó Kapa, Props malta, vou ali numa de desenrasca, Yo!”.
Nova corrida, nova viagem. Bom dia e aquelas coisas, carro não abre, comandos com pilha, não deve ser bateria; “Hoje, não tenho cá o electricista”. E eu, Ok, submarino ao fundo…
“Espera aí que tenho aqui o nº dele.” Hã?! Vai-me dar o nº dele? Queres ver que o Tunning é o último reduto da fraternidade? Dá-me o telemóvel dele para a mão, para que eu passe o nº para o meu, enquanto discute uns altifalantes, entusiasticamente acompanhado por outro aficionado. Meio aparvalhado, lá aponto o nº (entretanto escolho um nº para mandar para o espaço, “lista de contactos cheia”, está bonito isto hoje). “É pá, telefona-lhe, pode ser que ele te desenrasque, chama-se Sérgio”.
E agora? Vou telefonar a um tipo ao sábado de manhã, tipo esse que não está a trabalhar, para vir até minha casa aturar o beicinho do carro? Vou dar uma volta a pé na paralela, vamos lá ver se não há por aí outra loja. Folhas secas no chão, até é porreiro andar em cima das folhas. Lisboa, um cão ainda desconhecido deixou o seu estimado contributo para que eu colocasse em causa a validade desta última tese. Primeira grande resolução do dia, estou farto de andar a pé, vou comprar o “Expresso” e tomar o pequeno-almoço, “and I shall say this only once”. Ucal e pastel de nata, se bem que o que me apetecia era mesmo um chá. Ai…
“Está?” “Olhe, bom dia, eu obtive o seu nº através da loja ali da Passos Manuel” (nunca decoro a #$*&= dos nomes). “Sim, tem pilha” “Bem, só aqui tenho um código, numa chapa” “Não, não tenho a certeza se é de origem, mas o comando não tem nenhuma marca” “Pois, dois comandos e nenhum abre” “Complicado, estou a ver” “Ao pé do Jardim Constantino, na padaria” “Rotunda da Estefânia? Golf Preto?” “Eu de calças de ganga e t-shirt” “OK”.
Afinal o tipo estava a trabalhar, mas noutra oficina. Nova marca pessoal no “engole pastel de nata ao sábado de manhã”. Tinha andado a passear pelas ruas durante algum tempo, a passar pelos mesmos sítios algumas vezes. Agora estava parado na rotunda, a olhar para os carros, a confundir Polos com Golfs e até preto com branco. Quando chegar a casa vou mas é dormir. Os transeuntes começam também a olhar fixamente para mim. Deve ser empatia, penso. Aquela senhora ali no táxi, pela forma como me olha, parece estar a encarar a minha performance de espera na rotunda como uma actividade profissional. Com jeito ficava a saber o meu valor de mercado, hehehe! Aquilo sim é um Golf, e sim, é preto.
Entro no carro, o tipo a falar ao telemóvel enquanto lhe dou as indicações para chegar ao grevista.
“Sérgio”
“Jq, muito prazer” “Pois, não reage”
“Vamos lá então” “Sabes o código? É que se rodarmos umas vezes para a esquerda e outras para a direita o alarme activa ou desactiva”
Pois, está bem, com essa é que me lixaste…
O Golf dele parado no beco, há ali um que quer sair. “Eh pá, tira aí o carro enquanto eu vejo isto”. Siga. Eu tinha a mania que não percebia nada de alarmes, carros e electricidade. Agora tenho a certeza. Absoluta. Parecia-me uma linguagem binária, a carregar sequencialmente nos botões. Eis que se encontra tudo reprogramado passado um quarto de hora, com direito a carro a funcionar e nível das pilhas dos comandos verificado. Estou com (mais) cara de estúpido (entretanto já passou, hehehe!).
“Bem, obrigadíssimo, quanto é que eu lhe devo?”
“Deixa lá isso” - Hã?! Deixa lá isso?!
“Espere lá, teve a deslocação, esteve a trabalhar, desenrascou-me, quanto é que eu lhe devo?”
“Não é nada, quando precisares tens o nº”
Não era suposto já não se encontrarem tipos destes?
Lx

PS – Foto do World Press Photo, visto na semana passado e ainda sem direito a Post. Agora sim, vou dormir.

sexta-feira, outubro 28, 2005

Samba social

Numa altura em que muito se fala de afectos e de segurança social, veio à conversa o próximo espectáculo deste senhor em Portugal (imagem retirada do sítio oficial). Como a grande maioria do grande público, conheci-o através desta cidade; o que eu desconhecia era o trabalhão que a preparação do filme deu.
Já tinha ouvido dizer que o conceito era arrojado e que excluía (na sua maioria) participações famosas. Mas só agora li a explicação na primeira pessoa. Por se tratar de um misto de projecto cinematográfico e social (o primeiro com manifesto êxito), nem imagino o que este Meirelles terá ouvido por se ter lembrado de tal coisa.
Por exemplo, do lado de cá da irmandade atlântica, ouvi um reputado senhor dizer, em frente a outros da mesma espécie e sem nunca ter sido desmentido; que, em Portugal, quem está “abrangido” pela Segurança Social se encontra devidamente “protegido”. E que, os pobres, são apenas os excluídos deste sistema (imigrantes ilegais, marginais, etç). Confesso que o Curriculum me impressiona, mas lá que tenho as minhas dúvidas, lá isso tenho.
Quanto ao Jorge em causa, confesso que o que ouvi até agora não me convenceu. Talvez o problema seja o meu “samba”.
Lx

quarta-feira, outubro 26, 2005

Procurem a Procuração

"Fora da política"
José Vitor Malheiros

Comentário
Jornalista
Público, 25 de Outubro de 2005

«Na apresentação da sua candidatura à Presidência da República, Cavaco Silva voltou a sublinhar um aspecto que sempre constituiu um ponto forte da sua imagem e que já se percebeu que vai estar, mais uma vez, no cerne da sua campanha: o seu estatuto de não-político, de alguém que não vive da política e que possui uma competência "real", que se encontra para além das ilusões retóricas da política.
Trata-se de um caso exemplar da perspectiva tecnocrática, que considera que existem soluções técnicas óptimas para os problemas sociais e que a sua resolução depende, apenas, de reunir as competências necessárias.
A ideologia e a política são para os tecnocratas, no melhor dos casos, um manto anódino de fantasia que se lança sobre o mundo real sem lhe alterar a substância e, no pior caso, uma arte do embuste. A tecnocracia vê as ideologias como possibilidades "estilísticas" da política, mas considera que os problemas reais apenas são abordáveis e resolúveis por quem detenha as competências técnicas adequadas.
Cavaco apresenta-se como o homem que detém essas competências e espera convencer os eleitores de que se encontra para além da retórica, no mundo da acção e não da palavra, que não perde tempo a discutir quando pode resolver e que a sua competência pode transformar, enquanto a política dos outros apenas consegue maquilhar.
Esta mensagem é tanto mais atraente quanto maior for a realidade e a percepção da crise social - não é por acaso que a época de ouro da tecnocracia foi a Grande Depressão americana -, mas radica numa falácia.
Se houvesse uma solução técnica óptima para os problemas sociais ela já teria sido encontrada - ou sentiríamos, pelo menos, que estamos cada vez mais próximos de a encontrar. Na realidade, e ao invés de existir um solução técnica universal mágica para o desemprego ou para a segurança social, a procura de soluções (numa sociedade democrática) passa pelo confronto pacífico dos vários interesses, pelo debate e pela negociação. A democracia tenta produzir consensos sociais negociados e implica escolhas - é uma questão de eleições, em mais do que um sentido. E essas escolhas mudam com o tempo, estão sujeitas a humores e ilusões, manipulações e chantagens, sonhos e receios. E dependem até (isso sim) do leque de possibilidades técnicas que é posto à disposição dos cidadãos.Isto não significa que a política não exija líderes com competência e determinação - significa apenas que isso não chega. Exige também cidadãos. E as competências que os líderes devem possuir não se situam fora da política - são, essencialmente, competências políticas, que permitem que um dirigente equacione escolhas, faça propostas à sociedade e mostre capacidade de liderança para as transformar em realidade. São qualidades nobres e necessárias.
Uma das contradições na candidatura de Cavaco é que ele adopta a pose tecnocrática de ministro, enquanto se candidata ao menos técnico e ao mais político dos cargos públicos. Se o Primeiro-ministro pode pôr em prática uma política, o Presidente da República não pode. Pode apenas discursar, lançar debates, promover iniciativas, intermediar e arbitrar.
Cavaco apresenta-se não apenas como um profissional competente mas sublinha que é alguém cuja competência se encontra "fora da política" - como se a política fosse coisa nenhuma ou apenas a arte da indecisão, da ignorância ou do acaso (senão da venalidade). A mensagem é subliminal, mas está lá. E esta ideia de política é errada e é perigosa. Era-o quando Cavaco era primeiro-ministro e é-o hoje. Não é perigosa porque Cavaco seja um ditador em potência: é perigosa porque não contribui para melhorar a política e a democracia, porque apela à menoridade dos portugueses ao prometer-lhes uma tutela em vez de lhes exigir cidadania e participação, é perigosa porque não exige esforço nem qualidade mas pede apenas a mais passiva das fés. Cavaco nem pede que o sigam a lado nenhum, pede apenas que lhe passem uma procuração.»
Lx

Na minha também não!

"Ninguém da família vai fazer campanha"
Ana Sá Lopes
Comentário
Público, 23 de Outubro de 2005

«Ontem, a primeira página do Expresso era dominada por uma notícia interessante: "Maria Cavaco Silva antecipa campanha presidencial do marido - One Man Show". O Expresso, que passou o "dia d" com o casal Cavaco e quatro netos, recolheu uma informação preciosa da mulher do candidato a Presidente: "Ninguém da família vai fazer campanha".
A possibilidade de desenvolver uma qualquer mitologia, política ou outra, passa por criar o efeito de "verosimilhança". Não interessa se for falso, desde que seja verosímil. A ideia de verdade não é para aqui chamada, nem nunca foi. De resto, a verdade obriga a um grande esforço de recolha de elementos e não tem lugar no tempo veloz da tomada de uma decisão política (que, como toda a gente sabe, é uma decisão que resvala habitualmente para o campo da irracionalidade, próprio da tomada de uma decisão afectiva).
É no efeito de verosimilhança, e não na velha dicotomia verdadeiro-falso, que se desenrola boa parte da acção política. Mas isto não é novo, está particularmente bem explicado nos "simulacros" de
Baudrillard e, de resto, sempre assim foi, desde os primórdios da democracia romana.
A peça do Expresso de ontem é um monumento a essa "sabedoria". Não é qualquer sujeito político que põe a família a fazer campanha, abre as portas ao semanário mais vendido em Portugal, mostra os netos e as suas conversas com os netos, e consegue depois transmitir ao povo uma informação superior: "Ninguém na família vai fazer campanha". É quase comovente a ingenuidade colectiva que leva a um assentimento perante a formulação que se anula a si própria. O acontecimento revelado pelo Expresso - Cavaco a explicar aritmética aos netos: "Se o João tem sete balões e dá três à Maria com quantos fica?" e Maria a esclarecer que "se for letras é com a avó", a família fotografada feliz na primeira página - convive serenamente com a tonitruante declaração de Maria: "Ninguém na família vai fazer campanha". O acto de campanha que enuncia a não campanha pode ficar nos anais do "marketing". A mensagem que está subjacente é exactamente a mesma do famoso vídeo Dinis-Bárbara-Carrilho, com a diferença de que Cavaco Silva percebe muito mais do assunto e não leva o recato do lar para a apresentação da candidatura. Mostra-o, simplesmente, ao Expresso. "One man show", é Maria quem o diz.
A mitologia cavaquista - e a adesão popular que conseguiu durante quase 10 anos - é um dos fenómenos mais interessantes da política contemporânea portuguesa. Vinte anos depois de ter chegado ao poder com a aura de "político não profissional" e "especialista em finanças", Cavaco Silva regressa invocando a sua categoria de "político não profissional" e "especialista em finanças". É como se o hiato de dez anos em que Cavaco Silva esteve afastado da vida política activa, depois de ter sido derrotado nas presidenciais por Jorge Sampaio, tivessem o condão de apagar todo o "disco rígido" do passado profissional de Cavaco Silva enquanto político e enquanto gestor de finanças do país. Ao candidato só faltou, no Centro Cultural de Belém, vestir a toga branca e virginal com que os candidatos ao senado de Roma se passeavam na rua de modo a ser facilmente identificados. O cavaquismo nunca existiu e o disco rígido nacional, aparentemente, foi destruído por uma qualquer incapacidade do cérebro informático.»
Lx

Prefácio

Se calhar, por esta altura, já não valerá a pena disfarçar. Sim, creio que talvez já tenham percebido: eu e o Cavaco não temos aquela proximidade candidato - cidadão eleitor. E, também já mo fizeram saber, que isto, de andar a fazer “pastes” de artigos que os outros escrevem, tem tanta validade como conseguir correr os 10 km – por muito que me doam as pernas, Homem que é Homem faz as maratonas e escreve os posts pelo caminho.
No entanto... bem, no entanto, achei estes dois artigos seguintes interessantes (os dois posts em cima):
Lx

domingo, outubro 23, 2005

“Army of me”

Já conseguia ver a linha de partida e sentia algum nervoso miudinho. Não daquela ansiedade, da das competições; hoje a questão resumia-se a conseguir acabar. De preferência antes da hora e cinco minutos.
Os treinos tinham sido alguns, escassos, contudo, para encarar confiante os 10 Km em causa. Normalmente, estava a ficar-me pelos 5/6, mas, há duas semanas, por sugestão de um colega de sala (verdadeiro "camelo doente" destes eventos, com presença regular nas meias), eu e outro dos de hoje experimentámos alinhar na sugestão dada:
Cais do Sodré – Algés – cais do Sodré; +/- 16 km: 1h 34m 31s e quase que tinha ali o filho.
Volvida uma semana, sem o entusiasta, Cais do Sodré – Torre de Belém – Alcântara uns metros; cerca de 10 km: 1h 3m 2s e ai que ainda me doem as pernas de há uma semana.

Um chinfrim danado, com uns tipos a sugerirem que o meu aquecimento passasse pelo Body-Combat. Que me perdoem os adeptos da coisa (malta fixe, o problema deve ser meu) mas não, obrigado. Já tinha feito alguns alongamentos e, como suspeitava, o joelho esquerdo ainda não estava lá muito apto. Evitem-se então palermices.
Partida, os 2 primeiros mil foram para descobrir o ritmo e o grupo de 4 dividiu-se em dois de 2. Eu nos de trás. Algum calor, vamos ver o que isto dá. Muita gente a passar-me, eu a passar alguns. A primeira subida, é pequena (menos de 25 m), está bem, mas isto está a custar. Aparece a placa dos 2 e eu descubro que ao joelho direito, afinal, também lhe parece que não.
Fase dura, sente-se o calor; o objectivo é acabar, calma. Até aos 4 lembrei-me das más ideias. O programa, ontem, até tinha sido propositadamente calmo, até só fui beber um café a seguir… mas 5 horas de sono, estava-se a adivinhar. As “traineiras” (não são nenhumas destas, mas pertencem à mesma laia). Pois, devia ter comprado daquele, mais adequado; os gémeos queixam-se. Os anos de nicotina. E os de pouco exercício. Os de mau exercício. Tenho de ter mais disciplina nisto.
Passam 4. Já suo bastante. Primeiro abastecimento; não, não bebo nada, pode ser pior. Também não arrisco molhar-me, posso ficar mais pesado.
Estou perto da água. As marginais são excelentes invenções. Lembro-me de casa. Lembro-me de que gosto disto, de que se lixe, que já me estão a doer menos. Bandas a tocar, a primeira um jazz bastante cool – boa malha. A seguir djambés, também não está mal. Rockalhada, “Chega-lhes! Mete no mi, solta a pedaleira!” Cada um já distorcia como podia, o meu solo começava-se a desinibir. Ao meu lado, conversas pérfidas: “Então, também estás por cá?” “Sim, sim, hoje vim a esta” “E isso está bom?” “Claro, se vou à maratona de Nova York, isto tem de ser fácil” “Pois, mas eu este ano vou à de Paris”. À de Paris? À de Nova York? Está tudo doido? Maratonas? Eu aqui sofrer aos 6, na marginal…
7 Km. Sim, agora é altura de balanços. Estou bem, até estou admirado (continuam a passar por mim velhos, velhas, crianças e afins, estar bem é pensar que posso acabar). Acho que acabo. Eh pá, acho mesmo. O calor sobe, mas só faltam 3. Apanhamos um do grupo da frente. “Dor de burro”. Recupera algum alento e acompanha-nos cerca de 1 km e meio, antes de voltar a parar. Não desiste.
8 km, começa-me a apetecer acelerar um pouco. Mas ao outro não: “Segue, o meu joelho…”. Bem, o que eu quero é acabar, a táctica era “puxar” no último, caso me sentisse bem. Seja, dos 8 aos 9 vou relativamente lento (passa por mim tudo o que é gente… até tipos com calções do Benfica…). Mas isto vai, uma ligeira descida e uma ténue subida.
9. A placa dos 9. A bastarda da placa dos 9. “Ok, vou tentar dar-lhe!” “Ok, eu também”. E comecei a passar alguns tipos. Alguns tinham-me passado há escassos segundos. Todos sofremos, a questão deve ser quem sofre menos. Mas não pode ser só sofrimento, começo a pensar nas coisas boas; no banho, no almoço, nesta coisa do ar livre ao Domingo de manhã (Com tanta gente já de pé! Caramba!), num dos solos de ontem. Estou a chegar à rotunda, depois é só voltar. Se calhar “azimbrei-lhe” demais, este ritmo é exagerado. Mas é para seguir, com a passada larga as pernas doem menos, a “caixa” que aguente.
A meta e o caraças! Já a vejo. Eh pá tá quase, he pá, queres ver que chego lá, afastem-se calções do Benfica, maratonistas de Nova York e o camandro; vou acabar esta treta (eles não se afastam, hehehe). Huuuuuuu! Os “tapetes” registam o tempo do chip, caramba, deixa pisar esta porcaria bem, pisa phonix, se eles não me registam o tempo só me resta escrever um post sobre esta treta. É que não me posso esquecer disto; hoje Carcavelos é linda, é sensual, é jeitosa, dança bem e traz sonhos bonitos!
Bem, feitas as contas, tudo acabou (um com um tempo viperino, abaixo dos 50’, ui!). Autocarro para a estação de caminho de ferro, mas primeiro gatorades, fruta (sobretudo laranja partida aos quartos, que soube a picanha), águas e queques. Organização: sim senhor, é assim que estas coisas se fazem. Com a t-shirt e a revista, acho que já recuperei os 5€ (hehehe!).
Desgraçados dos habituais transeuntes do comboio, o excelso e apurado odor desta fornada (apenas parte dos cerca de 5000 participantes) deve agudizar o amor e a saudade à habitual ronha matinal de domingo. E o bitaite, cá está ele mais uma vez, galifões, que acabámos isto. Mas é genuína a alegria, sobretudo dos mais entradotes, quarentões de sorriso aberto. Ambiente fraternal, deve ser isso. A rapaziada quando se junta nestas coisas recupera qualquer coisa do bom ritmo cardíaco.
Lx

PS – o título, era o que eu sentia que os “cotas” me transmitiam, enquanto corriam que nem uns desalmados.

Presidenciais II – “O regresso do Jedi”

Depois da ponderação possível, o óbvio, é escrever sobre o Aníbal.
A semana passada perguntaram-me se eu já sabia em quem ia votar nas presidenciais, dei por mim a dar uma esfrega valente ao interlocutor sem nunca ter respondido à pergunta. Não fiz de propósito, infelizmente (ou não) é neste pé que me encontro. Não consigo decidir. Em jeitos de aviso à navegação, isto hoje caminha a passos largos no mesmo sentido. Como tal, é da maior prudência dispersar para o post (blog?) mais próximo.
Porquê falar do Cavaco. Não, não é só porque, tudo indica, ele substituirá o Jorge Pá. No meu caso, é porque eu comecei a ligar a política na segunda era do reinado Cavaquista, quando este ganhou a segunda maioria absoluta (contra o Pá). O JAF recordou os fantasmas dele no Porto; eu revi um na televisão.
Ironia das ironias, foi também na altura em que comecei a ler o “Expresso”; hoje o corpo editorial deste semanário é um indefectível apoiante do professor (nada tenho contra isso, perdoem-me é o “Maquievelismo” de registar como coincidência que a mandatária para a Juventude de Cavaco Silva tenha sido a capa da “Actual” da semana passada). Na altura, este fazia uma oposição subtil e intelectualóide à pobreza de espírito que grassava à volta da tralha cavaquista (não consigo esquecer-me desses vultos como Duarte Lima, de Couto dos Santos, então ministro da educação, na pública e única televisão portuguesa, a não responder às perguntas dos convidados, candidamente coadjuvado pelo agora director de programação da TVI, José Eduardo Moniz; do papel de Fernando Nogueira, o Jorge Coelho da altura).
Tenho, portanto, um grave problema de atitude para com a figura e o culto da figura de Cavaco.
A imprescindibilidade das filiações partidárias para o acesso a cargos na administração pública, pelo que me lembro, foi aí que engrenou à bruta. Mais tarde a brincadeira repetiu-se (e repete-se). Só muda a cor da tralha. Hoje, para ser administrador de uma empresa petrolífera basta ter sido presidente da câmara do Porto, para administrador de participações financeiras da Caixa basta ter sido ministro da Juventude e Desporto ou presidente da Fundação para a Prevenção e Segurança (segundo se diz, com o 12º ano – perdoem-me o racismo académico). Mas, para mim, o Cavaquismo foi o início. Portanto, não lhe consigo reconhecer de barato as "hossanas" que agora se cantam.
As minhas memórias dessa altura também feitas de progresso terceiro mundista, construído a partir de obras de fachada. Tudo bem que algumas são discutíveis (na altura, choquei-me com o CCB; hoje, confesso que vou lá; mas mesmo aqui lhe apanhámos o jeito de quintuplicar, do orçamento para a execução). Aquela atitude sobranceira, aquele propagar da teoria do Portugal enquanto oásis económico (que o tempo veio desmentir), as auto-estradas como único investimento público de relevo, o esvaziamento das competências do parlamento (que, entretanto, ninguém encheu), o esbanjamento de fundos estruturais (pagos por contribuintes alemães) sem critério, não me sai da memória. A tal renovação do nosso tecido industrial dirigido à melhoria do nosso perfil de exportações, para produtos de alto valor acrescentado, que hoje tanto o preocupa; ou mesmo os elevados padrões de formação dos Portugueses, que nos permitam ganhos de competitividade real, sem a necessidade de recorrer à desvalorização da moeda (hoje impossível, mas utilizada na altura) poderiam aí ter começado.
Tem inflexibilidade e determinação, mas dispenso o folclore. O Messias que tudo sabe, o “Déspota Iluminado”, como diria Hobbes (não é o Tigre, é a suspeita inspiração do mesmo) recordam-me aquela história de ele ter em sua posse “dados seguríssimos” acerca da vitória de Fernando Nogueira nas legislativas que marcaram a sua saída do Governo (ganhas por Guterres).
Se calhar, acho que a “cor” do Presidente tem de ser diferente da de um Governo de maioria absoluta, mas não consigo ficar indiferente a alguns tiques. E, no fundo, talvez tenha é mesmo pena, pena que Cavaco não me convença. Nesse caso, talvez tudo fosse mais tranquilo.
Bom, por fim, uma breve referência ao primeiro incidente. Pode ser elucidativo de que ninguém controla tudo, nem mesmo Cavaco. Depois do habitual estudo ao pormenor do local, da decoração do cenário, dos acompanhantes, da inacessibilidade face aos apoiantes, do silêncio da “entourage”, dos oito minutos de duração do discurso, do teor “económico” do mesmo (desemprego, falta de competitividade, ultrapassados pela Grécia e tal), só mesmo uma “jota” para “lixar” o Professor: “Allez, Cavaco, Allez!” gritavam meia dúzia de laranjinhas atrás da multidão que seguia, em séquito, o D.Sebastião, à saída do CCB, sobressaltando o próprio candidato. Ninguém pode estar 100% tranquilo!
Lx
PS – Nunca aqui foi dito, mas evidentemente que as opiniões (políticas ou outras) que eu escrevo não vinculam mais ninguém. Ou seja, o outro gajo não tem culpa. Foto do "Público".

quinta-feira, outubro 20, 2005

"Porto Sentido"...

...ás vezes digo em conversa que, apesar de ser adepto do FCP e de ter tirado o curso no Porto, não tenho especial ligação à cidade, ou não nutro por ela especial simpatia.

Nesta última semana descobri que talvez não seja assim. Os defeitos que punha na minha vida portuense estão ligados aos problemas que qualquer cidade grande traz. Percebi então que aquela cidade é também um pouco minha e me diz um pouco mais do que outras...

Cinco anos depois e com a vida estabilizada a 120 km (também já não é assim tão longe), continuam a ser muito familiares aquelas ruas e passeios, especialmente de noite. Nas caminhadas pelas ruas, à noite, sinto-me em casa o que, com a companhia certa, desperta a vontade de conversar aquelas conversas que se desenrolam com muita calma...e nem os meus medos e fantasmas atrapalham. Pelo contrário compõem o cenário.

O que se passou então nesta semana de especial?

No fim-de-semana lugar fui às comemorações dos 10 anos da entrada na faculdade. No meu caso foram quase 30 horas seguidas de programa que incluíram: visita às caves do vinho do Porto, lanche e jantar na muy moderna e bonita Ribeira de Gaia (a que eu apelidei de Gaia 2.0), a dolorosa visão através da TV de 90 minutos de futebol, a invasão de um jantar de psicólogas, a visita a um bar fashion, 50 minutos de sono, pequeno-almoço numa casa-de-pasto (vulgo tasca) junto à estação de S.Bento, viagem pelo Douro acima de comboio, viagem pelo Douro abaixo de barco com almoço e eclusas de 30 metros incluídos (vão ver ao dicionário o que são eclusas), pit-stop no “cubo” da Ribeira, jantar na churrasqueira da rotunda...tudo regado com muito moscatel (do Douro, claro), muito vinho do Porto, muita nostalgia e alguma camaradagem...

Ontem fui pela primeira vez ver um jogo do FCP ao Estádio do Dragão, eu que, qual adepto desnaturado, em 5 anos de vida no Porto nem sequer tinha ido ao Estádio das Antas. Fiquei surpreendido pela descontracção do ambiente no jogo, confirmei a extrema beleza do estádio e que este, sendo moderno, faz com que assistir a um jogo de futebol já não tenha de ser um bicho-de-sete-cabeças desconfortável, frio e molhado. Descobri também que, no que toca a verbalizar impropérios ao árbitro, jogadores e equipa técnica, sou um amador e dos maus. De facto, é preciso uma capacidade quase atlética para saltar com aquela velocidade da cadeira e soltar um seco e potente “Oh, meu morcão filho-da-#$%& azeiteiro!!!”...no entanto, vi reformados a fazê-lo na maior.

Ganhámos aos italianos, o que deu um balão de oxigénio ao velho holandês, de quem eu apesar de tudo, continuo a gostar. Assisti atentamente ao Figo, mas confesso que quem me siderou foram os dois “patrões” argentinos: o nosso, o Lucho e o deles, o Verón.

E assim regressei a casa de sorriso nos lábios, cachecol azul-e-branco novo sobre os ombros e já com alguma saudade...

O título é da canção Rui Veloso claro, as fotos são da produção interna, e documentam os dois finais de festa: no Douro e no estádio.

quarta-feira, outubro 19, 2005

Melancolia disponível a Norte

«Esgotou o espectáculo dos Sigur Rós em Lisboa a 20 de Novembro, no Coliseu. Por esta razão foi já marcada uma data extra, mas a Norte, no Coliseu do Porto, no dia 19 de Novembro. Os islandeses vêm a Portugal numa altura em que promovem o último álbum, “Takk”, que em português quer dizer “obrigado”. Os bilhetes para o espectáculo no Coliseu do Porto têm preços de 25 e 26 euros.»
Lx

Ficam desde já avisados!

Parece-me caricato que, por esta altura, já seja necessário esclarecer que este orçamento é para ser dos outros, daqueles, diferentes dos últimos:

"Em primeiro lugar, este é um Orçamento de verdade – porque assenta num quadro macro-económico realista, com previsões em linha com as das principais instituições nacionais e internacionais; porque se baseia numa avaliação séria e rigorosa da situação das finanças públicas e porque não recorre aos artifícios orçamentais das receitas extraordinárias, da sub-orçamentação ou do abuso das cativações para esconder dotações virtuais."

E que agora os ministérios tenham de conhecer o orçamento:

"Criação da figura do Controlador Financeiro em cada Ministério, na dependência do Ministro de Estado e das Finanças e do respectivo Ministro, para assegurar o planeamento e controlo da gestão financeira;"

Para quem achava que não iríamos ter reformas estruturantes...
Lx

PS – Imagem de Quino.

segunda-feira, outubro 17, 2005

Negro Irracional

Silêncio da Juve Leo. Nunca tinha visto (ouvido) tal coisa desde que me meti nisto de ir ver jogos de futebol a Alvalade. Muitas vezes aqueles tipos irritam-me com os “allez” e os “força Sporting”, porque me parece que sem chinfrim se poderia apreciar melhor o jogo. Mas ontem não foi o caso. E o silêncio só começou na segunda parte.
No início, variados apelos para um apoio massivo e incondicional à equipa. E justiça nos seja feita; às vezes não houve grande apoio, mas também se dispensaram as comoções dos últimos jogos. Mesmo quando razões não faltavam.
O jogo, propriamente dito, sem grande história. Até porque não chegou a ser propriamente um jogo; a Académica fez o que lhe competia e aproveitou uma falha (de um dos tipos que eu mais gosto de ver jogar) a marcar. Ainda desperdiçou algumas outras ocasiões, é certo, quando o SCP se encontrava desequilibrado no ataque ou displicente na defesa. A Académica não foi uma equipa deslumbrante, mas deslumbramentos em Alvalade… pois...
O Polga e o Ricardo fizeram, na minha humilde opinião, das melhores exibições da época (não, não me enganei); o Tello foi irregular, o Moutinho tímido e o João Alves (tudo bem que não estava a jogar na sua posição natural) continua sem me dar razões para que eu o elogie (sabendo eu que ele vive muito bem sem isso). Os restantes estiveram lá, mas eu, a partir de certa altura, parecia que não. Desde a travagem brusca no final da A1 que as minhas emoções se anestesiaram e, se me posso gabar de muita sorte por ninguém me ter me ter batido, parte da habitualmente barulhenta JuveLeo não se arrogar do mesmo.
A oito minutos do fim, após um ligeiríssimo laivo de bom futebol leonino (culminado sempre em maus cruzamentos, mas já com algumas palmas – às vezes o pessoal não se importa assim tanto de perder, desde que os tipos corram e se esforcem) a Juve voltou a fazer-se sentir, acompanhada pelo Corpo de Intervenção. E cirurgicamente dirigiu-se a Dias da Cunha e a Peseiro.
E cá vou eu então falar também do Gnu, que treina a equipa desde o ano passado e já me presenteou neste com duas eliminações europeias (a última diante de uns cepos suecos) e uma derrota face à capital do móvel. Nunca quis que ele saísse prematuramente, mas hoje acho que ele já não se vai aguentar. Comete erros e diz coisas que não devia. A solução que desencantou para lidar com o Ricardo (deste falarei noutra ocasião) é na minha opinião uma valente palermice. Aquele ar de puto mimado, que vai para a escola primária de mão dada com o avô, que se esforça por decorar a tabuada dos sete mas tropeça sempre na dos seis irrita-me e, percebe-se porque é que é treinador e não jogador. Mas ontem a culpa não foi dele. Se o Douala não acertou um passe, se ninguém se esforçou por pressionar um atacante adversário, escusam de gritar “Peseiro , ca#$&, pede a demissão”. Os tipos o ano passado pressionavam. A equipa não se esforçou, não se mexeu, não quis. Concordo que a motivação que um treinador possa ou não dar seja crucial; mas quando ninguém quer correr ele continua a dispor apenas de 3 substituições. E ponham lá um Camacho qualquer, se disso precisarem para chegar à mesma conclusão. Rapaziada, sem brio profissional, quem se safa é a “Briosa
Com a barulheira no final de ontem, creio que este já foi “out the window”:

"he was smart
he was wise
he'd profoundly philosophize
empathy for all humanity
'til one day by an open window
there's a note that read
I've gone out the window - I'm dead
he said yes to life for all of his life
but then one day he said no
I gotta go out the window
we all go out the window
catch me I am falling
catch me I am calling
catch me we are falling
catch me we are calling"
Lx
PS – Imagem da UEFA, e vejam esta do “Professor Marcel”... volta Barbosa...

sexta-feira, outubro 14, 2005

“So get up!”

Na realidade, não tenho razões de queixa; mas este misto de sono e moleza minam-me a concentração e confundem-me o singular com o plural na passagem da terceira para a quarta vocalização. O mau sono não pode ser desculpa para tudo; hoje, se as faixas de segurança não se desenquadrarem, até estão asseguradas algumas gargalhadas dissertativas recuperadas da lá de perto da terra dos canivetes. Daquelas que, enquanto cá estiverem, ninguém é arrastado (pelas correntes, já por “fantas de chocolate”, “não temos”, “então era mais um...”...).
Para as desminagens há um outro antibiótico eficaz. Passa por alguma ousadia e pela peça de museu. Dado que palavras leva-as o vento, e que este último revolve a ondulação, o melhor é não me comprometer com nada (os tempos de campanha estão de intervalo e o fresquinho do atlântico não se compadece com processos de intenções...). Mas lá que era boa ideia, era.
Lx

PS - A foto, do declive cartográfico umbilical, tem mais uma vez proveniência analógica, pelo que se repete o agradecimento. Para que a coragem de enfrentar a temperatura prevaleça.
O título.

“Urros quase desumanos” – desculpem, mas eu tinha que fazer um "paste" disto

"A tentativa de extrair uma leitura política nacional das autárquicas, a roçar inevitavelmente a forma de referendo à popularidade do Governo, é, a meu ver, uma tentativa, precipitada, demagógica e, como disse António Lobo Xavier, perigosa. Compreendo que, por mais avisos que todos façam à necessidade de não confundir autárquicas com legislativas, seja quase irresistível para os vencedores não ceder à confusão de mensagens, na hora de celebrar a vitória. O PCP, claro, vê em cada derrota intercalar de qualquer maioria a derrota do respectivo governo e a necessidade de "mudar de política": é assim há 30 anos e já ninguém espera outra conclusão dos comunistas, seja qual for a eleição, sejam quais forem os resultados. Suponho que, para o PCP, o facto de eu, por exemplo, poder ter votado em Ruben de Carvalho em Lisboa não implicaria qualquer mérito próprio do respectivo candidato, mas apenas que estaria contra as políticas do actual Governo. Acontece que, naquilo que sobretudo o PCP combate, eu não estou contra as políticas do actual Governo: antes pelo contrário. Quero que os magistrados deixem de mandar na justiça, que os professores deixem de mandar na educação, que os farmacêuticos deixem de mandar no orçamento da saúde, que terminem os privilégios e mordomias dos "corpos especiais" da administração pública, quero que, tirando casos verdadeiramente excepcionais e de senso comum, todos tenham de trabalhar o mesmo número de anos para ganhar a reforma e que se salve o que se conseguir salvar de um sistema de protecção social ameaçado por causas naturais. Ao contrário do que diz Pacheco Pereira, estas reformas, longamente reclamadas por pessoas como ele, não são populares. É verdade que cada sector, por si próprio, é capaz de discordar da greve do vizinho e da sua contestação a medidas que a maioria reconhece como justas; mas, quando toca a si mesmo, já acha justa a greve e a contestação. Porém, o critério de justiça que as reformas devem ter exige que elas toquem a todos por igual e, simultaneamente, que a todos incomodem, que a todos causem prejuízo efectivo e ponham fim a sagrados "direitos adquiridos". Por isso mesmo é que nenhum governo até hoje - incluindo os tão injustamente afamados "governos reformistas" de Cavaco Silva - se tenha atrevido a tentar mexer no "pântano". Porque o preço a pagar é justamente este: eleições perdidas, autarcas e caciques locais revoltados, aparelhos partidários desmotivados. O bem comum há-de ser sempre o prejuízo dos interesses instalados. É verdade que há outros factores atendíveis de descontentamento para com o Governo de Sócrates, o principal dos quais é o saque da turba socialista sobre o aparelho do Estado, tratado como despojos de vitória depois de Março. Mas eu duvido de que o comum dos eleitores se tenha servido dessa percepção para castigar o PS. Assim como duvido de que a maioria se escandalize com as sumptuárias "obras de regime", como a Ota e o TGV, que os ministros que representam a clientela de interesses socialistas defendem como salvação para a crise económica - e que os portugueses, tradicionalmente, aceitam como boa solução, assim como aceitam qualquer medida supostamente milagrosa que os dispense do caminho mais difícil: o aumento da produtividade, da competitividade, da inovação, da iniciativa individual. Continuo a pensar que o essencial da derrota do PS nestas autárquicas se ficou a dever à dificuldade de apear presidentes camarários em funções e à escolha localizada de maus candidatos. Mas nem sequer vejo uma derrota assim tão demolidora, muito longe do que foi a dimensão e o significado político, aí sim, da derrota de 2001. Bastaria que o PS não tivesse perdido para o PSD 11 câmaras por menos de cem votos, que Francisco Assis tivesse vindo de Bruxelas para fazer campanha no Porto um mês mais cedo ou que tivesse sido escolhido qualquer outro candidato em Lisboa, e toda a leitura política destas eleições teria de ser revista à luz de outros resultados. Mas os 20 ou 30 desfechos locais que permitem ver no desfecho global uma derrota clara dos socialistas não consentem, nem podem consentir, uma extrapolação política para a relação de confiança entre o eleitorado e o actual Governo. Essa leitura é ilegítima por natureza e perigosa para o futuro imediato. Se fosse para ser levada a sério, convidaria Sócrates a desistir de quaisquer veleidades reformadoras, a governar simplesmente para as próximas eleições.Vivemos tempos muito complicados e muito difíceis, em que é dramaticamente necessário que quem tem responsabilidades ao nível da formação da opinião não desista da lucidez e da coragem. Não é preciso ter assistido ao discurso miserável de Fátima Felgueiras ou àqueles urros quase desumanos de Valentim Loureiro para perceber que a governabilidade do país e a própria democracia estão ameaçadas pelo mais terrível dos vírus, que é o da demagogia populista. Vai ser preciso fazer sangue, suor e lágrimas, e não é aceitável que, à primeira sondagem, às primeiras greves e manifestações, ou ao primeiro voto intercalar, se desate a concluir que o "Governo tem de arrepiar caminho" ou "explicar melhor as suas medidas". Mas explicar melhor o quê? Há alguém de boa-fé que não tenha ainda percebido que a segurança social caminha para a falência rápida se nada for feito, que não é possível manter os actuais gastos com a saúde pública, dos maiores da Europa per capita, que não é possível continuar a tolerar uma justiça que só se serve a si própria e que é um factor de paralisação da vida económica e pública, que não é possível continuar a falhar sucessivamente a batalha da educação para não mexer nos interesses corporativos instalados, que não é possível que os grandes negócios do país se continuem a fazer tendo o Estado como cliente subserviente, e que não é possível continuar a confundir descentralização com o grande regabofe das despesas autárquicas que sustentam os caciques que depois decidem os congressos partidários? Há alguém que ainda não tenha percebido que chegou a hora de todos serem responsabilizados pelos resultados alcançados e não pelo estatuto adquirido? O mais irónico desta leitura "nacional" das autárquicas é que ela implica atribuir ao PS um mérito que ele não teve: o de ter perdido as eleições porque não desistiu, no Governo, de tomar as medidas impopulares mas necessárias. O PS perdeu por outras razões e o absurdo é os seus adversários atribuírem-lhe o que seria uma louvável derrota. Infelizmente, nem sequer foi o caso. Antes fosse."
"A democracia perigosa"
Miguel Sousa Tavares
Jornalista
Lx

quarta-feira, outubro 12, 2005

Duas horas de fantasia

Desde o seu início, e mais ou menos como nas nossas autárquicas, existe alguma dificuldade em perceber o que é maldição ou o que é aldrabice.
A sensação dominante é que quem finge saber lidar com feitiços mais tarde ou mais cedo se lixa, o que confere alguma mensagem de esperança ao enredo.

“Trouxe” também que talvez queimar florestas não resolva nada a ninguém, por muito grande que seja o exército;

que talvez os feitiços escolham miúdas giras (ou talvez as miúdas giras escolham os feitiços –

a parte da escolha não ficou muito clara);

que talvez as equipas se desfaçam (talvez só em parte);

que talvez mauzões com más intenções se enganem num bom sentido;

e que talvez o final seja feliz.

Fantasy is what people want
Reality is what people need

Disse, acompanhada só da viola, a senhora que felizmente fala sobre tudo. Aqui, e durante duas horas de cinema, fiquei-me pela primeira.
Lx

PS – Há uns 2 anos “palmaram-me” a carteira no “49”. Eu reparei ainda a tempo e, um transeunte polícia à paisana com mais coragem que egocentrismo racional, interceptou um deles. Feitas as contas, eu fiquei sem carteira e o Liberiano sem solo Português. Eu já tenho outra carteira. As fotos vêm do site oficial.

terça-feira, outubro 11, 2005

Descubra as diferenças...


Se ele é o taliban analógico, isso fará de mim o taliban digital.

Aqui vai o meu lado da história.

O “delay” do “taliban” analógico

Talvez seja prudente voltar a adoptar o chapéu de chuva como parte da indumentária. Isto hoje foi por pouco... Uma das últimas vezes que não escapei foi lá para os lados do título. Com fotos escuras, como esta.
Lx
PS – Renovados agradecimentos ao Cunhado.

quinta-feira, outubro 06, 2005

O indivíduo

Sempre ouvi dizer que “O que nasce torto, raramente se endireita”. Fica aqui o meu modesto contributo para a confirmação do ditame.
Estaríamos nós lá para 90? 91? Já não sei lá muito bem, mas sei que tinha ido a uma festa de anos de uma colega minha (chamemos-lhe "AI") dos tempos de ciclo (isto no 7º/8º ano equivalia já a uma relação de amizade estável).
Lembro-me que, como lhe tinha garantido que iria, tive de convencer os meus pais a saírem de um almoço em casa dos pais de uns amigos (por esta altura, a audiência já adormeceu, mas aguentem aí pestana tana; só desta vez) para me irem levar de volta à Figueira, direito à dita festa de anos. Tecnicamente, creio que a isto se chamará “birra”.
Chegado ao local, deparo-me não só com uma baixa concentração de raparigas (na altura, nós, os rapazes, encarávamos estas festividades como locais de prospecção; hoje já não, claro, deixamos isso para as raparigas…hehehe!) como também com um tipo com qual eu tinha embirrado desde o primeiro dia que o conheci no 1º ano do ciclo (chamemos-lhe indivíduo “S”).
Com o “S” existia uma insuportabilidade mútua e, naquele dia, o gajo teve ainda o desplante de se fazer acompanhar por um outro indivíduo, igualmente irritante, chato e inconveniente. Passados breves momentos, devo ter logo ali antecipado e comunicado a este segundo espécimen (com esta invulgar capacidade de vaticínio/síntese…) que, quando ele crescesse, viria a dar qualquer coisa entre um adepto ferrenho do FCP e um Engenheiro. Evidentemente, isto não se diz a ninguém (OK, eu já estava a ficar de cabeça perdida), pelo que foi por uma unha negra que não desatámos logo ali à bofetada. Já não me lembro lá muito bem, mas creio que até deve ter havido alguma intervenção das hostes femininas para acalmar a fervura. Chamemos, a este segundo indivíduo, “JAF”.

Passados uns 15 anos, comecei a fazer um blog com ele, sempre na ânsia de que se arreie outra vez a giga e assim surjam novos motivos para a uma sessão de pancadaria (nunca me perdoei de ter falhado aquela oportunidade…). O resultado está à vista.
Hoje é o dia dele. Parabéns pá!
Lx

PS – A foto é aí o rapaz, a banhos na incursão turística do "fisterra" à Croácia. Não, não é o tipo em destaque, é o outro que parece uma baleia assassina a iniciar uma investida aos banhistas indefesos. O próprio nadador salvador ficou um bocado "à rasca"; eu depois de tirar a foto (com a polaroid do indivíduo e publicada sem autorização do mesmo) lá fui descansá-lo. “É um mamífero terrestre, está tudo bem”. Hehehe!
Quem quiser pegar na deixa, deixe aí também uns insultos (sempre poupam uns sms, hehehe… e podem usar mais caracteres…).

terça-feira, outubro 04, 2005

Já agora comprometam-se publicamente com a reflorestação

"Serra da Boa Viagem reduzida a cinzas
Há uma angústia e revolta nos figueirenses que viram arder de novo toda a Serra da Boa Viagem. De nada valeram tantos meios (62 viaturas e 3 aviões) e tanto esforço de 234 bombeiros que não foram suficientes para evitar tão grande tragédia. Subir a Serra é um experiência desoladora, que causa revolta. Tem que haver uma explicação que justifique esta tragédia, pois não se compreende como é que depois de tantos estudos, com viaturas modernas, auto-tanques com grande capacidade de transporte de água, aviões e dezenas de bombeiros, tudo se tenha revelado impotente para segurar as chamas que voltaram a dizimar a Serra da Boa Viagem. Esta é a questão/desabafo dos figueirenses, já no rescaldo do incêndio, que deflagrou cerca das 15h30 de domingo, na encosta entre Quiaios e Vale de Jorge, onde o fogo poderia ter sido travado, mas um ligeiro atraso na chegada das corporações - que andavam no sul do concelho a combater outros fogos - foi suficiente para que entrasse nos Condados e Saltadouro e dai em diante ninguém mais o segurou, dado o vento forte que se fazia sentir. Com a aflição vivida pelas populações do Saltadouro, Condados, Vais, Casal dos Piratas, Senhora da Encarnação e Cabo Mondego, os bombeiros preocuparam-se essencialmente em proteger as pessoas e os seus bens, deixando as chamas lavrar na zona de mato e floresta, áreas que os aviões foram tomando a seu cargo. Todavia, com o cair da noite, foram obrigado a parar a sua intervenção e as chamas voltaram a ter domínio absoluto sobre a serra. Às primeiras horas de ontem, o fogo chegou à serra pelos Vais e Cabo Mondego, rompendo encosta acima, deixando para trás um manto preto de terra e árvores queimadas, pior do que aconteceu há 12 anos. Os aviões combateram as chamas durante a manhã entre as 8h00 e as 10h00 e depois entre as 12h00 e as 16h00, abastecendo no estuário do Mondego, onde se juntou uma multidão a apreciar a movimentação das aeronaves, que ali chegavam de quatro em quatro minutos.Por volta das 16h00 de ontem o fogo estava controlado, registando-se apenas uma pequena frente activa, com as corporações de bombeiros a combaterem alguns pequenos focos ou reacendimentos.
Comando Operacional defende investigação.
O comandante operacional dos bombeiros de Coimbra, António Bernardes, defende uma investigação aos fogos que desde sábado atingiram a Figueira da Foz e concelhos limítrofes, aludindo a 14 incêndios. «Alguém tem de investigar isto e não somos nós, bombeiros, que o vamos fazer», afirmou António Bernardes aos jornalistas. «Foram cinco incêndios na Figueira, um em Montemor-o-Velho e oito em Soure», disse o comandante distrital, sublinhando que na tarde de domingo, aquando da deflagração do incêndio em Vale do Jorge, topo leste da serra da Boa Viagem, os bombeiros combatiam outros dois focos no sul do concelho. Por seu turno, Duarte Silva, presidente da autarquia da Figueira da Foz, presente no posto de comando do incêndio, montado junto ao parque de campismo da cidade, considerou «muito estranhos» os incêndios que têm assolado o município. «Acho muito estranho e também que sejam sempre ao fim-de-semana. Foi assim ao longo de todo o Verão», sustentou. Duarte Silva. (PSD), que se recandidata à autarquia, decidiu suspender a campanha eleitoral por dois dias e justificou a decisão com a situação de «catástrofe» que se abateu sobre o concelho. O presidente da Câmara lamentou ainda que os dois meios aéreos pesados (aviões Canadair), que combateram o incêndio ao final da tarde de domingo, não tenham podido «chegar mais cedo». No entanto, Duarte Silva reconheceu que «também havia outros fogos» a lavrar no país, nomeadamente na zona de Viseu, onde os aviões Canadair estacionados em Seia actuaram. As chamas lavraram com intensidade numa zona urbanizada na encosta sul da serra da Boa Viagem, tendo ao longo da noite existido diversas habitações em perigo, com «a zona dos Vais a ser a mais preocupante», de acordo com António Bernardes. O comandante distrital disse desconhecer a existência de casas ardidas, embora os bombeiros tenham registado «alguns palheiros e anexos» atingidos pelas chamas. No entanto, os proprietários de uma quinta, na zona dos Vais, revelaram à Agência Lusa ter ardido uma casa pré-fabricada no interior do espaço, embora a habitação principal não tenha sido danificada. Em Buarcos, ao início da noite de domingo, as chamas atravessaram a zona conhecida como Senhora da Encarnação, ameaçando residências e prédios de apartamentos. Os residentes de alguns prédios de Buarcos foram obrigados a combater as chamas em redor das duas habitações, usando extintores e lanços de mangueira retirados dos sistemas de combate a incêndio dos edifícios em questão.Também a candidatura de Victor Sarmento (PS) lamenta profundamente o nefasto incêndio ocorrido na Serra da Boa Viagem e zonas adjacentes e suas consequências, realçando «a coragem de todos aqueles que se entregaram ao combate contra as chamas, protegendo, com o seu sacrifício, pessoas e bens».Ao tomar conhecimento da gravidade do incidente, decidiu a candidatura socialista, à semelhança da decisão de Duarte Silva (PSD) suspender de imediato todas as iniciativas da campanha eleitoral, até ao final do dia de ontem."
Lx

segunda-feira, outubro 03, 2005

"This fire is out of control...

...we're gonna burn this city, burn this city!"...é o refrão que estes rapazes escolheram para uma das minhas malhas preferidas dos últimos tempos.

Agora que o inferno de 1993 se repete já não me apetece tirar a "air-guitar" do saco...

Querem-nos tirar a Serra ou despi-la outra vez...quando a vista for só betão não sei a quem vão vender apartamentos...

Desta vez o jogo foi demasiado perigoso...a cidade ia subindo pela serra...agora o fogo desceu pela cidade...


Não há dúvidas que foi fogo posto, agora haja espinha e coragem política para não deixar contruir mais e obrigue-se a reflorestação.

A imagem, roubada ao IOL, é real...e a cena passar-se-á a menos de 1 km da minha casa e da de muitos outros.

sábado, outubro 01, 2005

No início era o verbo…


“Eu blogo”. Foi este o título de um email que recebi em meados de Janeiro deste ano. Eu também já tinha pensado nisso, mas por esta altura ouve de facto um “clique”. Deve ter sido semelhante à primeira vez que vi alguém meu conhecido a “surfar”. Porque não?
Mesmo antes da ideia surgir, já tinha passado a vista por alguns blogs. Mantive-me relativamente atento a alguns, embora poucos. Seja porque só gosto deles parcialmente, porque o tempo escasseia, enfim, por uma data de outras boas desculpas. O meu silencioso “manifesto” sobre estas coisas será qualquer coisa do género de achar que há espaço para todos. É que eu gostava de poder ler muitos mais. Por muito diferentes que sejam das minhas áreas de esquerda ou de direita, das minhas referências, do meu clube, da minha filosofia, da fotografia que queria e não consegui, da minha timidez, da minha linguagem, do livro que não li. Do meu silêncio, da minha música ou dos meus hipotéticos propósitos que ainda não decifrei enquanto blogo. Gostava de ver muitos mais a arriscar (seja lá o que isso for). Pela parte que me toca, nunca consegui perceber exactamente o que se pode seguir.
Entretanto, a minha responsabilidade é diluída com outro distinto colega e, o que aqui se passa, continua a ser uma barafunda. Culpa exclusivamente nossa, evidentemente.

A minha “itinerância” baralhou sempre a contabilidade das afinidades. Tenho consciência de que não sou caso único; por entre o que faço e onde estou, os encontros e desencontros sucedem-se.
Parece-me que o tempo se esbate em períodos cada vez menos lineares; depressa se ganha e depressa se perde. Ou se vai perdendo ou ganhando, talvez seja isso. Algumas pessoas reservam sempre uma qualquer rubrica do activo, indiferentes a essa tal de “itinerância”. Outras inscrevem-se no passivo. E têm havido reencontros. E é assim, sempre foi assim.
Aquela sala é feita de pessoas, por muito que a lógica da actividade não o contemple. As passagens fugazes são frequentes, mas tem vindo a sobressair uma “estrutura” mais fixa, que já existia antes de mim. Dessa “estrutura”, registou-se ontem uma despedida. Foi de alguém que, nem que seja a divagar sobre piolhices diametralmente opostas às que me atormentam, involuntariamente ajudou a despoletar em mim este “fim do mundo”. Passados uns tempos decidi também arriscar. E, com esse tal de distinto colega, lançámos esta pérola…
Uma última referência, a que não resisto, é só para deixar cair que, especialmente tendo em consideração o ambiente sempre circundante (repleto de preocupações com as escolhas racionais do consumidor, num contexto de relação de agência, numa conjuntura de recessão e sem instrumentos monetários à disposição do governo da República, etç, etç); digo eu que foi hilariante a diversificação abrangida por algumas discussões, sobretudo à hora do almoço:

From the ice-age to the dole-age
There is but one concern
I have just discovered :
Some girls are bigger than others
Some girls are bigger than others
Some girl's mothers are bigger than
Other girl's mothers

Lx

PS 1 – A foto, finalmente da minha safra, veio de Finisterra. Esta bota com mau aspecto encontra-se no extremo do cabo, na escarpa adjacente ao farol.
PS 2 - Os meus agradecimentos ao Cunhado, porque isto de não tirar fotos em formato digital remete-me recorrentemente para questões relacionadas com o scanner