domingo, setembro 11, 2005

O regresso do irracional - em VIII actos

“Próxima estação: Campo Grande. Há ligação com a linha verde.”
Foi mais ou menos por esta altura que redireccionei as minhas antenas para um dos diversos recantos da minha irracionalidade: o desporto-rei. Depois de ter provado a época passada, repito a dose este ano (agora ligeiramente, mesmo muito ligeiramente, mais descaído para a central).
Dado que há sempre muito que dizer, pensei que talvez fosse melhor organizar isto. Vamos lá então, com o texto repartido por oito partes:

I. Quis o acaso que a minha estreia este ano se desse com o SLB (eu normalmente vou ver futebol, mas tudo bem, quando se compra um bilhete de época tem que se ver tudo por atacado, doutra forma pode não compensar; assim cada jogo fica perto dos oito euros). Tinha estado em casa a espreitar uma das meias finais do US Open e só me apercebi ao que ia de facto quando, pouco antes de sair de casa, o Progenitor me telefona a perguntar se sempre queria ir ao jogo; é que já tinham sido disparadas balas de borracha. Tento descansá-lo, ia levar o cachecol certo, pelo que não devia correr grande perigo. “Quando o jogo é em Alvalade, normalmente atiram aos de vermelho”. Acho que não o descansei muito.
Chego às imediações a uma hora do apito inicial.

II. Segundo telefonema da noite, pequeno acidente doméstico, a espera deve demorar cerca de 20 minutos. Tudo bem, sempre vou coleccionando mais uns motivos de reportagem.
Ambiente tenso. Muito tenso.
O ano passado fiquei impressionado pelo civismo. As pessoas no metro eram ostensivamente dos dois clubes, mas o ambiente era saudável. Só ao chegar ao estádio é que vi 2 imbecis a fazerem asneira. Mas a polícia estava sempre por perto, ficou claro que não ia dar abébias, ninguém se esticou.
Este ano, nada vi no metro mas, cá fora, havia demasiada gente a querer violência. A muita polícia acalmou os ânimos, mas ficava sempre aquela sensação de os quererem apanhar desprevenidos, nem que fosse por 8 breves segundos…

III. Dado que o "anti-depressivo" também inclui a função radiofónica (posso memorizar cerca de oito frequências), vou tentar perceber os dois “onzes”. Reparo que o Porto está empatado e que ouve problemas com umas tranças. “Ah, era tão lindo!” - mas também para esses andámos a formar estrelas… (como mais tarde viria a descobrir).
No “meu onze” tudo relativamente espectável, mas no Benfica há mexidas. E eu que tinha (no gozo) sugerido a entrada deste tipo durante toda a semana! Será que o Koeman

IV. Chega a companhia (este ano com um reforço) e seguimos para a fila de entrada. Ou melhor para o filão! “Nunca tinha visto isto assim” (e não era a primeira vez que o estádio enchia). “Hé pá, estão a abrir outra entrada!”. Aquilo que seriam 30 minutos transformaram-se em cerca de 8.
Ao passar nos torniquetes (sem nunca ter sido revistado…), um pequeno ecrã continuava a não anunciar novidades, o FCP mantinha-se em branco.
Primeiro contacto com a “nova curva”. Sim senhor, já dá para perceber um bocadinho melhor o que se irá passar no outro lado do campo.
Ouço um “A vossa atenção para os ecrãs” e começo a rever aquela exibição do Manuel Fernandes. Pelas imagens descubro que afinal foi 7-0… “Espera, não”; ouviam-se os comentários do Rui Tovar, afinal esse jogo teve 8 golos… Manuel José sobe ao relvado e lá consegue puxar de umas tímidas palavras, enquanto o estádio o ovaciona em pé. Por pouco não entra a maca pela primeira vez...
Entretanto o Porto marca. Quaresma, quem mais? (Pois é, ainda marcariam mais dois). Mas agora o Mundo vai parar…

V. O estádio em pé quando as equipas entram. Ambiente infernal. O som habitual: “Viva o Sporting”. Começam os petardos (mais de 20 ontem, talvez até uns 3x8…). Coreografias das três claques com muita tralha à mistura. Pequenos incêndios no fosso. “Em cada Lampião / Há um c……”.
Ou o estádio tem boa acústica ou o barulho é mesmo ensurdecedor. Por muito fortes que os jogadores sejam psicologicamente, só um autómato não ficaria intimidado com aquele ambiente. E talvez o Barbosa.

VI. Primeira parte relativamente tranquila. O árbitro deve ser familiar do Barbosa (que era o número 8); algumas faltas pareciam-me (a mim e à maioria do público) ao contrário. O Tonel nervoso a sair para o ataque, mas seguro na defesa. O Polga a não comprometer, mas a parecer-me demasiado lento (sem sobressaltos, contudo). O Luís Loureiro não é, de facto, o Rochemback: a defender dá conta do recado, mas a atacar está tudo demasiado confuso. Talvez o plantel deste ano não…
Começamos a assentar. E o Tonel arranca o primeiro grande aplauso quando limpa a jogada e na, saída para o ataque, senta o Simão. Estamos a chegar lá.
Canto. Tello marca, Tonel assiste de cabeça, Deivid deixa passar, Loureiro… bem, golão… tudo, mas mesmo tudo, de pé.
“E quem não salta / é lampião”. Petardos, demasiados petardos. Intervalo.

VII. Segunda parte. Parece que isto vai lá. O Nuno Gomes já em campo. Entrada duríssima sobre o Rogério. Não vi quem foi, mas o Rogério fica estendido no chão. Ele não é dos que fingem, aquela não foi para brincadeiras. Vermelho directo. Ricardo Rocha exaltado, mas nada a fazer, tem de sair. Voltam os cânticos. “Estão nas cordas, temos de aproveitar”. Não estamos a aproveitar. O Koeman parece acertar nas substituições, eles não deixam que o jogo se desequilibre. Estão unidos, não perderam a cabeça. O Miccoli movimenta-se muito bem e tem pormenores “de jogador”. Polga com falta palerma. “Caramba, à entrada da área, e está lá o Judas”. Pois é, uma política de exportações também traz dissabores. O Simão tinha sido insultado durante todo o jogo, fartou-se de reclamar com o árbitro sem apanhar amarelo; a bola ainda bate no Tonel, mas o placard não mente. 1-1. Descubro que a minha bancada tem imensos SLBistas que gritam a bom gritar (tirando um mentecapto ou outro, o público “da casa” respeitou as comemorações – são, aliás, compreensíveis; eles ainda não tinham marcado esta temporada).
Ai Peseiro, ui, phonix e o camandro. C’oa breca, que entra o Wender. O Loureiro desinibido já faz lançamentos longos. O Tello finalmente arranja espaço para cruzar, Liedson! Entre os centrais! Resolve! O Luisão parecia um Dodo
Petardos e mais Petardos. Saem pessoas feridas. O corpo de intervenção está a uma nesga…a minha bancada grita para a JuveLeo “Palhaços! Palhaços!”.
“É sempre a mesma coisa, sofremos até ao fim…” mesmo com 10 o SLB jogou mais este ano que o ano passado. Sem mais incidentes (porque este ano não houve Mantorras) apito final. Alívio, parece que me tiraram oito anos de cima…

VIII. Chegado ao oitavo e último ponto, uma nota (mais) pessoal. Este irracional já tinha visto 35 minutos da doméstica Naval ao vivo (chega-lhes Fogaça!) - numa bancada, digamos, superior; mas entre adiamentos e oportunidades perdidas a crónica vaporizou-se no espaço e no tempo. Este irracional, embora não acompanhe a doméstica, não dormiria descansado se não lhe dedicasse estas linhas. Gostaria até de lhe dedicar umas outras linhas, mais racionais, mas hoje o dia é de festa e os assuntos sérios ficam para outras contendas. Agora, talvez seja melhor pensar no jantar, antes que cheguem as oito da noite…
Lx

PS – Foto absorvida à UEFA. E desculpa o tamanho da coisa JAF, mas por muito que tentasse, não era possível escrever menos. Um tipo que eu conheço é que costuma dizer: “Um adepto do FCP, como não tem na mesma cidade outro grande, nunca perceberá o que isto é”. Apesar de existirem para aí uns oito clubes no Porto…

1 Comments:

Blogger Jaf said...

Se eu fosse a ti preocupava-me mas era com a qualidade dos jogo apresentado pelas duas equipas. Mesmo o teu querido Sporting não jogou nada.

O FCP se tiver juízo (e poucas extensões de cabelo) ganha este ano com uma perna às costas...

12:05 da tarde  

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