sábado, março 31, 2007

Back to the flat

E com alguns sintomas do recorrente bloqueio mental. Desta vez, contrariando a ausência de televisão, dei por mim, não no Youtube, mas no site da RTP. Por breves instantes (sensivelmente), consegui até ver a emissão online (espero que estes maduros estejam a trabalhar nisso, como de costume), mas foi por acaso, porque andava era à procura do António Barreto. Isto em terra árida, qualquer borrifo é um mergulho.
Barreto para a rua!

Não consegui apanhar (ainda…) os documentários que andam a passar na RTP (e parece que não os vou ver na emissão online); mas deu para ver a grande entrevista nos arquivos multimédia da TV pública. E sim, mandem o senhor para a rua, porque, só pelas entrevistas, parece-me que vale a pena.
Uma das últimas coisas que li na nossa imprensa antes de me fazer à estrada, foi a entrevista que deu à “Visão”. O bem-estar social aconselha curtos comentários, mas infelizmente o que se segue é o mais curto que consigo.

Na minha breve semana descobri que o nosso primeiro é licenciado e não engenheiro. Grande parte dos comentários eram do género: “Bem feita, que ele tem a mania que é esperto”. Nada do género:”Mas será verdade que há documentos forjados? É que se é, é a reputação e seriedade dele que está em causa, não se é esperto ou burro” (o governador do Banco de Portugal não tem doutoramento mas põe no bolso muito académico porque percebe da coisa; se calhar o que está em causa é que tipo de gajos temos lá à frente. E confesso que cada dia que passa e ouço: “O Sócrates é muito bom porque é determinado” me faz espécie – faz-me lembrar um tipo que quer as directas no CDS/PP).

Descobri igualmente que desde que se grite bastante e se interrompa a entrevistadora, qualquer acusação de corrupção é passível de ser branqueada em directo. Muitos papéis e a pose indignada também ajudam, mesmo quando a transcrição das escutas telefónicas são terrivelmente comprometedoras. O mais giro, diria, é que o Gondomar está numa divisão qualquer que ninguém nunca ouviu falar e não ganhou a Taça de Portugal. Daí que a minha ideia é que se calhar os crimes não foram assim tão graves, mas que aquele à vontade em usar a posição que detém para manipular e exercer coacção psicológica noutros é tão corriqueiro e banal que para o Major já tudo é natural, ao ponto de exclamar, singelo, “Estou de consciência tranquila!”. Pois, o Goebbels também considerava que qualquer vida humana era parca em comparação com a grandeza do nacional-socialismo Alemão. Consciências de ferro; quem pode, pode. O habitual argumento do qualquer gajo faria isso, se pudesse.

Tenho descoberto que em relação à Ota, poucos sabem e quem sabe não diz abertamente o que sabe. Há uns anos atrás, o na altura Presidente da Câmara de Lisboa João Soares defendeu a manutenção da Portela. Era o que lhe interessava. Foi ridicularizado porque estava a defender o indefensável: aeroporto sem capacidade de expansão, no limite das capacidades, cada vez mais no meio de uma zona urbana. Vieram estudos (poucos e secretos durante a fase de decisão), e agora parece que meio mundo especialista descobriu (só agora) que aquilo não é solução. Assim de repente, com duas ou três contas. Sendo nesta altura mais ou menos consensual que é preciso um novo, custa-me a perceber porque só agora alguns se dignaram a fazer as tais duas ou três contas e porque é que se há-de insistir em fazer ali se a opção não é boa só porque já se fizeram uns estudos para o local. É que o Gilberto Madaíl também está convencido que se falar muito tempo com a UEFA lhe dão outro europeu de futebol.

E confesso que o me deixou mais pensativo foi a eleição do Salazar como maior Português de sempre. Não queria acreditar. Como não podia deixar de ser, cá vai a minha opinião sobre o senhor.
Começou por pôr fim a um período extremamente atribulado da nossa história, quando ao fim da monarquia se sucederam uma data de governos republicanos, sem tempo para perceberem que existiam (do género contratações do Benfas na altura do Artur Jorge). Endireitou as contas públicas e seguiu uma ideologia fascista em consonância com outros países europeus. Há quem diga que aquilo não era bem fascista, há aspectos da política que se calhar não muito fáceis de catalogar – essa parte para mim não é muito clara. Mas fechou-se a ele e ao país. Perpetuou-se no poder. Corporizou o tecido económico. Limitou o investimento. Insistiu num modelo agrícola falido. Impediu a propagação de ideias. Limitou o papel das mulheres, mesmo quando comparando o que se passava à época nos outros países. Lançou a lusofonia numa guerra, ao adiar a descolonização, que descambou num vergonhoso abandono, mau até para os novos países, uma vitória envenenada – ou seja, em última análise, foi determinante para a ruína e desmantelamento do tal império português. Guerra, recorde-se, essencial para a emigração, a inflação, e outras demais gloriosas recordações que nos deixou (a sua última manifestação foi a Secretaria de Estado dos ex-combatentes, graças ao Portas). A coisa acabou de tal forma que na altura muita rapaziada achava interessantíssima a ideia de sermos subitamente todos comunistas (novo partido único, agora com outro nome) e reportar directamente a Moscovo; esses excelsos humanistas. E nem quero mencionar a parte da polícia política e censura.
Chamado a mandar a deliberada, o espectador diz que ele sim, é o maior Português de sempre. Valha o programa o que valer.

E vejo o Barreto na tevê (no portátil, vá lá) e na “Visão”, que foi para a rua, estudar e comparar as estatísticas. Depois de se ter exilado, de ter lixado a reforma agrária aos comunas, de se ter chateado com o Soares, de semanalmente chatear o Pacheco Pereira e o Miguel Sousa Tavares no saudoso “Terça à noite” da SIC, de ter sido o único a questionar se não seria desejável uma nova forma de actuação futura da Fundação Gulbenkian (na Fundação Gulbenkian, numa cerimónia comemorativa da Fundação Gulbenkian, em frente a um auditório de convidados da Fundação Gulbenkian), de em directo ter acertado o passo ao Professor Marcelo na noite em que nos livrámos do Santolas (e começámos a gramar com o licenciado Sócrates), de ter explicado ao João César das Neves (o “abominável homem das Neves” segundo o Pulido Valente) que a destruição da família em Portugal significou o direito ao divórcio, a possibilidade das mulheres votarem, de terem um emprego e serem independentes.
A dizer-me que é incrível a quantidade de transformações que o país teve em pouco tempo. Que isso fez despertar a capacidade de adaptação dos Portugueses. Mas a desmentir que somos os melhores, e tal, que o que é nosso é que é bom, os palermas dos outros são todos tansos. Que nenhum trabalho deste género é apolítico e que evidentemente nenhuma visão tem o exclusivo da verdade. E que esta é a dele. E que esbanjamos e convivemos confortavelmente com a corrupção. Que a educação está mais em quantidade e falta qualquer coisa mais. E que na saúde vários indicadores nos dizem que de facto melhorámos (ainda o hão-de citar para acabar com os genéricos).

Seja como for, numa altura em que pouco percebo do muito que se passa (em que algumas dinâmicas sociais me parecem injustificáveis), alguém com um passado suficiente confortável para estar em pantufas, estar disposto a explicar-me algumas coisas actuais, com alguma base científica; e expor-me ao mesmo tempo as limitações do que fez, foi-me terapêutico. E até parece fácil.

Às vezes tenho é pena de não reconhecer, pelo menos assim de primeira, tipos que possam substituir alguns destes dinossauros das anteriores gerações. De certeza que os há, mas interrogo-me se lá chegarão. Tenho a sensação que alguns comentadores/analistas/etc. que muito prezo estão a chegar ao final do seu ciclo activo, e que no final da vida há muita sapiência mas também muita inadaptação/desconhecimento do que é novo; assim como um desânimo, uma desilusão e indisfarçável azedume, eventualmente próprio da idade. O Medina Carreira, o Silva Lopes, o Pulido Valente, o António Barreto (só para citar alguns) continuam a aparecer frequentemente como comentadores de serviço, mas em todos noto que já falta ali qualquer coisa, que era importante um fôlego novo. E a minha questão é: quem é que os substituirá? Isto no seguimento do comentário do Professor Marcelo, contente por finalmente o Carvalho da Silva deixar de ser líder da CGTP (por lá estar há demasiado tempo, creio que por nada pessoal).
Eu perfilho da satisfação, até porque, para além da actual estrutura de dois grandes sindicatos extremamente politizados não ser aconselhável, penso que estão completamente desenquadrados das actuais necessidades do país. Contudo, três brevíssimas notas finais, Professor Marcelo; Quem os substituirá terá o mesmo perfil de abnegação? Se os actuais líderes sindicais poucos anos estiveram de facto a trabalhar, os que aí vêm, estiveram mais? E não resisto, Professor, então um dos mais antigos e regulares comentadores políticos a acusar alguém de longevidade? Olhe que os Gato Fedorento se calhar serviram para reformar o Herman, que já estava desadequado. E o senhor afirmou há uns meses, antes de uma decisão definitiva, que o Manuel Alegre devia rapidamente sair do palco das presidenciais, porque a chegada do Mário Soares o iria desgraçar.

As minhas desculpas pela longevidade disto. Em jeitos de consolação, se tudo correr pelo melhor, não devo escrever durante os próximos 2 meses (nada de novidades, portanto) - tenho de “submergir” para uns certos assuntos.
Yk

sexta-feira, março 30, 2007

Parabéns...2º Aniversário...

O Fisterra fez 2 anos esta semana.

Discursos mais ou menos inspirados, já os houve o ano passado...por isso este ano deixo uma prenda que eu e os outros membros do blog saberemos apreciar: a estagiária do Dr. House!!!


Ps: Para as leitoras femininas, peço desculpa mas não me apeteceu ir buscar o Rodrigo Santoro ao oráculo...

terça-feira, março 20, 2007

Twilight Zone...

Só visto...

Ajuste de contas II...


Há uns tempos revelava-me céptico. Ok...agora já vi o filme.

Reconheço que não sabia que aquela luta já era tão antiga para o Al Gore.

Reconheço que acredito em tudo que ali está descrito.

Reconheço que o Al Gore comunica de uma forma bastante simples e eficaz. Ele é mesmo muito bom.

Reconheço que o filme, embora se apregoe por aí o contrário, não é apolítico. A tentativa de relativização do 9/11, diz tudo.

Reconheço que, se o problema é tão grave, não podem atribuir 95% do tempo do filme a descrever o problema e 5% a apresentar soluções. 50/50 seria um bom começo. Porque as soluções não são assim tão fáceis. Não há varinha mágica neste caso.

Reconheço que, apesar de tudo, não fará mal nenhum à malta ver a “A verdade Inconveniente”...

Reconheço que continuo céptico.

Ajuste de contas...

Nas últimas semanas tenho vindo a recuperar tempo perdido em relação a alguns filmes que ficaram por ver em 2006.

“A Dália Negra”. Este desiludiu-me, talvez por esperar tanto dele. Os actores não estiveram à altura da recriação do ambiente pós-guerra. Desembrulharam a história demasiado perto do fim, demasiado rápido. Fica provado que nem sempre um filme com a Scarlett é um bom filme...A milhas de um dos meus favoritos de sempre: “LA Confidential”

“Um homem na cidade”. “De fraca moita, sai bom coelho...” expressão bastante usada pelo meu avô. A crítica teve essa opinião deste filme. Eu gostei bastante. Fica provado que nem sempre um filme com o Ben Affleck é um mau filme...

“A Samaritana”. Dos filmes coreanos que tenho visto tenho gostado muito de quase todos. Lixam-me é um pouco os miolos, a malta asiática não regula muito bem. Este não é excepção, é do do Kim-Ki Duk, realizador do excelente “Primavera, Verão, Outono, Inverno” e do “Ferro 3”, que ainda não vi, mas vou ver.

“Terkel em sarilhos”. Animação a rodos. Gargalhadas a mais que me livram da neura semanal do trabalho. Dinamarquês. Para quem não gosta do “South Park” por exemplo, será indigesto.


“Internal affairs”. Versão original do grande vencedor dos Óscares, “The Departed”. Este policial de Hong Kong é bastante bom, mas o Scorcese realmente ainda conseguiu-lhe adicionar bastante na sua versão. Porreiro o contraste entre os tijolos de Boston e o aço e vidro de Hong Kong, a máfia irlandesa e os gangs asiáticos. Vi a versão dobrada em inglês, fez-me lembrar porque não gostava dos filmes do Bruce Lee.
Posters em variedade de linguas graças ao oráculo, como de costume...

segunda-feira, março 12, 2007

Chicken Chicken Chicken

terça-feira, março 06, 2007

Essencial

sexta-feira, março 02, 2007

É certo...

...que quando se ouve um álbum dos Cypress Hill, pode-se sempre contar batidas sêcas com o matraquear galináceo do B-Real pontuado com os grunhidos de Sen-Dog. O que distingue realmente cada disco é o interesse das histórias e a qualidade da narrativa.

É certo que quando se vê um filme do Alejandre Gonzalez Iñarritu, pode-se sempre contar com o cruzamento frenético de histórias pontuado com uma não-linearidade temporal da narrativa. O que distingue realmente cada filme é o interesse das histórias e a qualidade da narrativa. Ah e da imagem também...

Convenceu-me em “Amores Perros”, desiludiu-me um pouco em “21 Grams” e voltou a ganhar-me neste Babel. Se bem que, para mim, é difícil resistir a um filme que tenha qualquer coisa passa em Tóquio. As histórias cruzadas de Tóquio, Marrocos e México/Califórnia estão cheias de subtilidades e são visualmente belas. Chego a pensar que também em Tóquio (como no México e em Marrocos) existe um deserto, mas o que está em falta não é água. Tóquio parece belo, é muito belo, aqui, ao de longe.

Gostei muito, mas penso que este modelo de filme/narrativa pode gastar-se rapidamente por sobre-exposição.
A minha vida profissional também dava um filme do Inãrritu: é um cruzamento frenético de histórias pontuada com uma não-linearidade temporal da narrativa. Enquanto a cabeça e o corpo aguentarem...