Reprogramar a birra
A questão é que o tipo tem personalidade. E faz birras. E eu que aguente. Está aqui mesmo em frente, consigo vê-lo da janela, paradinho há já 2 dias.
Nunca gostei de despertadores, mas ao sábado de manhã abomino-os. Contudo, quando o carro se lembra de não abrir, pois que me levanto à procura de uma solução. Os fins-de-semana sem carro são particularmente irritantes – precisamente ao contrário dos dias de semana (onde o “6” é impera). Parece que há uma loja de rádios, alarmes e diversos não especificados na Passos Manuel; tinham-me dito que poderia ser da bateria, mas acho que com o passar do tempo já lhe identifico melhor as motivações.
Ontem, houve mais um conviva que passou a gostar de cerveja Belga (eventualmente com algum excesso de entusiasmo), e o que eu sei é que não apetecia nada estar de pé. Nada a fazer, a não ser tentar aproveitar o facto. Não conheço lá muito bem o comércio da Passos Manuel, apesar de passar por lá quase todos os dias no tal de “6”. Estava à procura daquela loja; tinha, portanto, de olhar com atenção para todas, há stands que não vendem alarmes, oficinas que reparam só os plásticos, lojas de sapatos com um aspecto velhíssimo, material de cozinha, mercearias. Ao Sábado de manhã o comércio tem um stress mais descontraído. Ou então foi a Chimay.
Está fechado, phonix que está fechado. Volta atrás, mas espera lá que aquilo não é um stand, diz ali: “não sei quê e alarmes”. Ninguém parece particularmente interessado em atender-me, provavelmente é a minha barba por fazer que me confere um certo toque de classe, até combina com a indumentária. E as olheiras.
“E tal, por favor, será que me pode ajudar”
“É pá, o carro não abre, isso é muita mau!”
Finalmente abro os olhos e apercebo-me que estou num spot de “Tunning ya, props, cena fatela.” Só eu sei…
“Népia, vai ali à loja, lá é que te podem ajudar e coiso”
“Mas não está fechado?”
“Não, tipo o gajo tá ali no café, mas, olha bacano, ele tá agora a entrar”
Correcto e afirmativo “Ó Kapa, Props malta, vou ali numa de desenrasca, Yo!”.
Nova corrida, nova viagem. Bom dia e aquelas coisas, carro não abre, comandos com pilha, não deve ser bateria; “Hoje, não tenho cá o electricista”. E eu, Ok, submarino ao fundo…
“Espera aí que tenho aqui o nº dele.” Hã?! Vai-me dar o nº dele? Queres ver que o Tunning é o último reduto da fraternidade? Dá-me o telemóvel dele para a mão, para que eu passe o nº para o meu, enquanto discute uns altifalantes, entusiasticamente acompanhado por outro aficionado. Meio aparvalhado, lá aponto o nº (entretanto escolho um nº para mandar para o espaço, “lista de contactos cheia”, está bonito isto hoje). “É pá, telefona-lhe, pode ser que ele te desenrasque, chama-se Sérgio”.
E agora? Vou telefonar a um tipo ao sábado de manhã, tipo esse que não está a trabalhar, para vir até minha casa aturar o beicinho do carro? Vou dar uma volta a pé na paralela, vamos lá ver se não há por aí outra loja. Folhas secas no chão, até é porreiro andar em cima das folhas. Lisboa, um cão ainda desconhecido deixou o seu estimado contributo para que eu colocasse em causa a validade desta última tese. Primeira grande resolução do dia, estou farto de andar a pé, vou comprar o “Expresso” e tomar o pequeno-almoço, “and I shall say this only once”. Ucal e pastel de nata, se bem que o que me apetecia era mesmo um chá. Ai…
“Está?” “Olhe, bom dia, eu obtive o seu nº através da loja ali da Passos Manuel” (nunca decoro a #$*&= dos nomes). “Sim, tem pilha” “Bem, só aqui tenho um código, numa chapa” “Não, não tenho a certeza se é de origem, mas o comando não tem nenhuma marca” “Pois, dois comandos e nenhum abre” “Complicado, estou a ver” “Ao pé do Jardim Constantino, na padaria” “Rotunda da Estefânia? Golf Preto?” “Eu de calças de ganga e t-shirt” “OK”.
Afinal o tipo estava a trabalhar, mas noutra oficina. Nova marca pessoal no “engole pastel de nata ao sábado de manhã”. Tinha andado a passear pelas ruas durante algum tempo, a passar pelos mesmos sítios algumas vezes. Agora estava parado na rotunda, a olhar para os carros, a confundir Polos com Golfs e até preto com branco. Quando chegar a casa vou mas é dormir. Os transeuntes começam também a olhar fixamente para mim. Deve ser empatia, penso. Aquela senhora ali no táxi, pela forma como me olha, parece estar a encarar a minha performance de espera na rotunda como uma actividade profissional. Com jeito ficava a saber o meu valor de mercado, hehehe! Aquilo sim é um Golf, e sim, é preto.
Entro no carro, o tipo a falar ao telemóvel enquanto lhe dou as indicações para chegar ao grevista.
“Sérgio”
“Jq, muito prazer” “Pois, não reage”
“Vamos lá então” “Sabes o código? É que se rodarmos umas vezes para a esquerda e outras para a direita o alarme activa ou desactiva”
Pois, está bem, com essa é que me lixaste…
O Golf dele parado no beco, há ali um que quer sair. “Eh pá, tira aí o carro enquanto eu vejo isto”. Siga. Eu tinha a mania que não percebia nada de alarmes, carros e electricidade. Agora tenho a certeza. Absoluta. Parecia-me uma linguagem binária, a carregar sequencialmente nos botões. Eis que se encontra tudo reprogramado passado um quarto de hora, com direito a carro a funcionar e nível das pilhas dos comandos verificado. Estou com (mais) cara de estúpido (entretanto já passou, hehehe!).
“Bem, obrigadíssimo, quanto é que eu lhe devo?”
“Deixa lá isso” - Hã?! Deixa lá isso?!
“Espere lá, teve a deslocação, esteve a trabalhar, desenrascou-me, quanto é que eu lhe devo?”
“Não é nada, quando precisares tens o nº”
Não era suposto já não se encontrarem tipos destes?
Lx
Nunca gostei de despertadores, mas ao sábado de manhã abomino-os. Contudo, quando o carro se lembra de não abrir, pois que me levanto à procura de uma solução. Os fins-de-semana sem carro são particularmente irritantes – precisamente ao contrário dos dias de semana (onde o “6” é impera). Parece que há uma loja de rádios, alarmes e diversos não especificados na Passos Manuel; tinham-me dito que poderia ser da bateria, mas acho que com o passar do tempo já lhe identifico melhor as motivações.
Ontem, houve mais um conviva que passou a gostar de cerveja Belga (eventualmente com algum excesso de entusiasmo), e o que eu sei é que não apetecia nada estar de pé. Nada a fazer, a não ser tentar aproveitar o facto. Não conheço lá muito bem o comércio da Passos Manuel, apesar de passar por lá quase todos os dias no tal de “6”. Estava à procura daquela loja; tinha, portanto, de olhar com atenção para todas, há stands que não vendem alarmes, oficinas que reparam só os plásticos, lojas de sapatos com um aspecto velhíssimo, material de cozinha, mercearias. Ao Sábado de manhã o comércio tem um stress mais descontraído. Ou então foi a Chimay.
Está fechado, phonix que está fechado. Volta atrás, mas espera lá que aquilo não é um stand, diz ali: “não sei quê e alarmes”. Ninguém parece particularmente interessado em atender-me, provavelmente é a minha barba por fazer que me confere um certo toque de classe, até combina com a indumentária. E as olheiras.
“E tal, por favor, será que me pode ajudar”
“É pá, o carro não abre, isso é muita mau!”
Finalmente abro os olhos e apercebo-me que estou num spot de “Tunning ya, props, cena fatela.” Só eu sei…
“Népia, vai ali à loja, lá é que te podem ajudar e coiso”
“Mas não está fechado?”
“Não, tipo o gajo tá ali no café, mas, olha bacano, ele tá agora a entrar”
Correcto e afirmativo “Ó Kapa, Props malta, vou ali numa de desenrasca, Yo!”.
Nova corrida, nova viagem. Bom dia e aquelas coisas, carro não abre, comandos com pilha, não deve ser bateria; “Hoje, não tenho cá o electricista”. E eu, Ok, submarino ao fundo…
“Espera aí que tenho aqui o nº dele.” Hã?! Vai-me dar o nº dele? Queres ver que o Tunning é o último reduto da fraternidade? Dá-me o telemóvel dele para a mão, para que eu passe o nº para o meu, enquanto discute uns altifalantes, entusiasticamente acompanhado por outro aficionado. Meio aparvalhado, lá aponto o nº (entretanto escolho um nº para mandar para o espaço, “lista de contactos cheia”, está bonito isto hoje). “É pá, telefona-lhe, pode ser que ele te desenrasque, chama-se Sérgio”.
E agora? Vou telefonar a um tipo ao sábado de manhã, tipo esse que não está a trabalhar, para vir até minha casa aturar o beicinho do carro? Vou dar uma volta a pé na paralela, vamos lá ver se não há por aí outra loja. Folhas secas no chão, até é porreiro andar em cima das folhas. Lisboa, um cão ainda desconhecido deixou o seu estimado contributo para que eu colocasse em causa a validade desta última tese. Primeira grande resolução do dia, estou farto de andar a pé, vou comprar o “Expresso” e tomar o pequeno-almoço, “and I shall say this only once”. Ucal e pastel de nata, se bem que o que me apetecia era mesmo um chá. Ai…
“Está?” “Olhe, bom dia, eu obtive o seu nº através da loja ali da Passos Manuel” (nunca decoro a #$*&= dos nomes). “Sim, tem pilha” “Bem, só aqui tenho um código, numa chapa” “Não, não tenho a certeza se é de origem, mas o comando não tem nenhuma marca” “Pois, dois comandos e nenhum abre” “Complicado, estou a ver” “Ao pé do Jardim Constantino, na padaria” “Rotunda da Estefânia? Golf Preto?” “Eu de calças de ganga e t-shirt” “OK”.
Afinal o tipo estava a trabalhar, mas noutra oficina. Nova marca pessoal no “engole pastel de nata ao sábado de manhã”. Tinha andado a passear pelas ruas durante algum tempo, a passar pelos mesmos sítios algumas vezes. Agora estava parado na rotunda, a olhar para os carros, a confundir Polos com Golfs e até preto com branco. Quando chegar a casa vou mas é dormir. Os transeuntes começam também a olhar fixamente para mim. Deve ser empatia, penso. Aquela senhora ali no táxi, pela forma como me olha, parece estar a encarar a minha performance de espera na rotunda como uma actividade profissional. Com jeito ficava a saber o meu valor de mercado, hehehe! Aquilo sim é um Golf, e sim, é preto.
Entro no carro, o tipo a falar ao telemóvel enquanto lhe dou as indicações para chegar ao grevista.
“Sérgio”
“Jq, muito prazer” “Pois, não reage”
“Vamos lá então” “Sabes o código? É que se rodarmos umas vezes para a esquerda e outras para a direita o alarme activa ou desactiva”
Pois, está bem, com essa é que me lixaste…
O Golf dele parado no beco, há ali um que quer sair. “Eh pá, tira aí o carro enquanto eu vejo isto”. Siga. Eu tinha a mania que não percebia nada de alarmes, carros e electricidade. Agora tenho a certeza. Absoluta. Parecia-me uma linguagem binária, a carregar sequencialmente nos botões. Eis que se encontra tudo reprogramado passado um quarto de hora, com direito a carro a funcionar e nível das pilhas dos comandos verificado. Estou com (mais) cara de estúpido (entretanto já passou, hehehe!).
“Bem, obrigadíssimo, quanto é que eu lhe devo?”
“Deixa lá isso” - Hã?! Deixa lá isso?!
“Espere lá, teve a deslocação, esteve a trabalhar, desenrascou-me, quanto é que eu lhe devo?”
“Não é nada, quando precisares tens o nº”
Não era suposto já não se encontrarem tipos destes?
Lx
PS – Foto do World Press Photo, visto na semana passado e ainda sem direito a Post. Agora sim, vou dormir.
1 Comments:
Só por acaso, eu ontem paguei 15 euros parea um ucraniano me mudar o médio direito em 30 segundos...
Tiro e porta-aviões ao fundo daqueles que, como eu, acham Lx o reino da impessoalidade...
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