domingo, outubro 23, 2005

Presidenciais II – “O regresso do Jedi”

Depois da ponderação possível, o óbvio, é escrever sobre o Aníbal.
A semana passada perguntaram-me se eu já sabia em quem ia votar nas presidenciais, dei por mim a dar uma esfrega valente ao interlocutor sem nunca ter respondido à pergunta. Não fiz de propósito, infelizmente (ou não) é neste pé que me encontro. Não consigo decidir. Em jeitos de aviso à navegação, isto hoje caminha a passos largos no mesmo sentido. Como tal, é da maior prudência dispersar para o post (blog?) mais próximo.
Porquê falar do Cavaco. Não, não é só porque, tudo indica, ele substituirá o Jorge Pá. No meu caso, é porque eu comecei a ligar a política na segunda era do reinado Cavaquista, quando este ganhou a segunda maioria absoluta (contra o Pá). O JAF recordou os fantasmas dele no Porto; eu revi um na televisão.
Ironia das ironias, foi também na altura em que comecei a ler o “Expresso”; hoje o corpo editorial deste semanário é um indefectível apoiante do professor (nada tenho contra isso, perdoem-me é o “Maquievelismo” de registar como coincidência que a mandatária para a Juventude de Cavaco Silva tenha sido a capa da “Actual” da semana passada). Na altura, este fazia uma oposição subtil e intelectualóide à pobreza de espírito que grassava à volta da tralha cavaquista (não consigo esquecer-me desses vultos como Duarte Lima, de Couto dos Santos, então ministro da educação, na pública e única televisão portuguesa, a não responder às perguntas dos convidados, candidamente coadjuvado pelo agora director de programação da TVI, José Eduardo Moniz; do papel de Fernando Nogueira, o Jorge Coelho da altura).
Tenho, portanto, um grave problema de atitude para com a figura e o culto da figura de Cavaco.
A imprescindibilidade das filiações partidárias para o acesso a cargos na administração pública, pelo que me lembro, foi aí que engrenou à bruta. Mais tarde a brincadeira repetiu-se (e repete-se). Só muda a cor da tralha. Hoje, para ser administrador de uma empresa petrolífera basta ter sido presidente da câmara do Porto, para administrador de participações financeiras da Caixa basta ter sido ministro da Juventude e Desporto ou presidente da Fundação para a Prevenção e Segurança (segundo se diz, com o 12º ano – perdoem-me o racismo académico). Mas, para mim, o Cavaquismo foi o início. Portanto, não lhe consigo reconhecer de barato as "hossanas" que agora se cantam.
As minhas memórias dessa altura também feitas de progresso terceiro mundista, construído a partir de obras de fachada. Tudo bem que algumas são discutíveis (na altura, choquei-me com o CCB; hoje, confesso que vou lá; mas mesmo aqui lhe apanhámos o jeito de quintuplicar, do orçamento para a execução). Aquela atitude sobranceira, aquele propagar da teoria do Portugal enquanto oásis económico (que o tempo veio desmentir), as auto-estradas como único investimento público de relevo, o esvaziamento das competências do parlamento (que, entretanto, ninguém encheu), o esbanjamento de fundos estruturais (pagos por contribuintes alemães) sem critério, não me sai da memória. A tal renovação do nosso tecido industrial dirigido à melhoria do nosso perfil de exportações, para produtos de alto valor acrescentado, que hoje tanto o preocupa; ou mesmo os elevados padrões de formação dos Portugueses, que nos permitam ganhos de competitividade real, sem a necessidade de recorrer à desvalorização da moeda (hoje impossível, mas utilizada na altura) poderiam aí ter começado.
Tem inflexibilidade e determinação, mas dispenso o folclore. O Messias que tudo sabe, o “Déspota Iluminado”, como diria Hobbes (não é o Tigre, é a suspeita inspiração do mesmo) recordam-me aquela história de ele ter em sua posse “dados seguríssimos” acerca da vitória de Fernando Nogueira nas legislativas que marcaram a sua saída do Governo (ganhas por Guterres).
Se calhar, acho que a “cor” do Presidente tem de ser diferente da de um Governo de maioria absoluta, mas não consigo ficar indiferente a alguns tiques. E, no fundo, talvez tenha é mesmo pena, pena que Cavaco não me convença. Nesse caso, talvez tudo fosse mais tranquilo.
Bom, por fim, uma breve referência ao primeiro incidente. Pode ser elucidativo de que ninguém controla tudo, nem mesmo Cavaco. Depois do habitual estudo ao pormenor do local, da decoração do cenário, dos acompanhantes, da inacessibilidade face aos apoiantes, do silêncio da “entourage”, dos oito minutos de duração do discurso, do teor “económico” do mesmo (desemprego, falta de competitividade, ultrapassados pela Grécia e tal), só mesmo uma “jota” para “lixar” o Professor: “Allez, Cavaco, Allez!” gritavam meia dúzia de laranjinhas atrás da multidão que seguia, em séquito, o D.Sebastião, à saída do CCB, sobressaltando o próprio candidato. Ninguém pode estar 100% tranquilo!
Lx
PS – Nunca aqui foi dito, mas evidentemente que as opiniões (políticas ou outras) que eu escrevo não vinculam mais ninguém. Ou seja, o outro gajo não tem culpa. Foto do "Público".

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