sexta-feira, julho 29, 2005

Alerta Tinto: Não globalizem a Pomada!!!

Já não era para escrever sobre isto esta semana, mas devido à pausa para férias, resolvi ainda meter esta bucha...

Já repararam nas queixas recorrentes de que o nosso vinho não é suficientemente conhecido no estrangeiro? Depois de ver no cinema o documentário franco-americano Mondovino, eu afirmo: ainda bem que assim é!!!

(Pausa: Nota Mental - agora reparei que já vou ver documentários franceses ao cinema...; 2ª Nota Mental - arranjar uma vida urgentemente...)



No filme mostra-se que as pressões do grande mercado americano de vinhos levam a relações menos claras entre grandes produtores e certa crítica especializada omnipotente, mais uma vez americana...os efeitos secundários ou deliberados desta situação, é a standardização e massificação de métodos de produção vinícola, levando a que um vinho produzido na Nova Zelândia já não seja tão diferente de um produzido na Califórnia, Argentina. Sobretudo está-se a criar métodos para indiferenciar os vinhos franceses e italianos, tradicionalmente os mais reputados...a origem passa a ter apenas valor de mercado, ou de rótulo, já que se pretende que as qualidades reais do vinho sejam menos específicas, permitindo grandes aumentos de produção...

O crítico de vinhos mais famoso e respeitado no mundo (americano) juntamente com o melhor enólogo (francês), criaram uma noção de que os melhores vinhos serão aqueles envelhecidos em barricas de carvalho novo, cuja madeira liberta gostos fortes no vinho...isto implica que a importância relativa (para o gosto final do vinho) do terroir onde a vinha foi plantada originalmente seja bastante diminuída...ou seja, plantando o mesmo tipo de vinha em França ou na Austrália, haverá uma probabilidade maior de se obter um vinho com características idênticas...implica também que a empresa de consultoria do tal enólogo francês facture muitos milhões de dólares em 14 países diferentes...implica ainda que os grandes produtores americanos se estão a tornar silent (ou não tão silent) partners, de produtores famosos de vinhos franceses e italianos...

Não tenho nada contra a globalização, no sentido em que é porreiro poder beber um tinto alentejano em Tóquio ou no Congo Brazzaville...sou contra a globalização se nessa tal garrafa de tinto alentejano, o rótulo anunciar: Portuguese Wine, Produced and Bottled in Chile... e se a mesma garrafa contiver uma zurrapa diluída e asséptica...

Quanto ao filme em si, gostei de constatar que foi filmado com uma handycam normalíssima e que o tipo que estava a filmar ainda treme mais das mãos do que eu...era hilariante um pormenor: quando aparecia algum cão, o sujeito entrevistado podia estar falar do assunto mais importante e interessante do mundo, o plano mudava sempre para filmar o que o cão estava a fazer...O documentário não tinha narrador, o que, a meu ver, é uma vantagem em relação aos filmes do Michael Moore, por exemplo...no caso do Mondovino, o realizador deixa os juízos de valor para o espectador...é claro que a montagem do filme não é inocente ou desprendida, mas é decididamente muito menos sectária, pelo menos abertamente...

Quanto à minha relação que o vinho, havia de levar uma volta...porque ando a ver que um tipo, a chegar aos trinta, que queira fazer alguma coisa da vida, tem de perceber de vinhos, ir à Feira da Golegã e deixar crescer umas suíças marialvas...ou então não vai a lado nenhum e fica para tio...já aqui dizia no trabalho noutro dia um protótipo desse arquétipo acima descrito:
“-Visita em minha casa até só pode ter para comer uma tosta mista*, mas não sai de lá sem beber um bom vinho!!!”
*Nota do autor: a Tosta Mista Marialva consiste de Pão Saloio Alentejano (feito no Algarve), Presunto Pata Negra e Queijo da Serra...não se compadece com pão bimbo sem côdea, mortadelas e queijo em barra fatiado...

Vai ser difícil, porque a minha frequência universitária inibe-me de voltar a beber vinho branco maduro...quanto aos verdes (brancos ou tintos) até gosto, fresquinhos...tintos maduros só sei distinguir veneno “da casa” com sabor a 605 Forte de algo a que se possa realmente chamar vinho, de resto não consigo distinguir grande coisa...a mim não me apanham a dizer:
“...com vinhos a menos de 10€, nem me digno a provar...”


Isto reveste-se de especial gravidade, porque não posso fumar charutos, porque tenho medo de voltar a fumar cigarros e por outro lado abomino whisky...logo significa que: não percebendo de vinhos, queijos, presuntos, charutos ou whisky, não tenho aptidões sociais adultas de qualquer espécie, que me permitam singrar...resta-me aprender um desporto apaneleirado tipo golfe...ou comprar um cavalo e aprender a caçar perdizes...


Bom filme sobre vinho americano e inadaptados sociais é o Sideways, por acaso até me vi ao espelho, 15 anos mais velho, mas houve um final feliz...afinal há esperança no fundo da garrafa...e no site do filme até tem estes cartoons fixes e ensinamentos úteis...

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

o que tu precisas é de ir à casa tyrone beber uma vinhaça comigo jaf! abraços!

10:02 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

estamos todos a vossa espera...

7:20 da tarde  

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