quinta-feira, março 09, 2006

O Aníbal matinal

Em dia de regresso ao Cavaquistão, o acesso ao local de trabalho voltou a revelar-se pitoresco. Poucas semanas há que eu não me cruze com uma "manif". Das várias insensibilidades que o urbanismo me conferiu, esta é sem dúvida das mais potentes: quero lá saber qual é a taxa de alcoolemia no sangue que dá direito a multa, dos direitos adquiridos dos funcionários da justiça ou da idade de reforma dos enfermeiros; de manhã, não quero é atrasar-me, portanto vão mas é trabalhar!
[Por momentos, senti-me a usurpar indevidamente o cargo de reaccionário deste blog, vamos lá ver se consigo equilibrar isto].
Mas hoje o dia é especial e tentei meter o meu ar mais composto enquanto cruzava os PSP’s de óculos de sol (eu e os CI’s), não fosse o Aníbal aparecer na varanda. Acho que não apareceu e ainda bem, ainda via ao longe os jardineiros negros, de calças rotas e gorros desfiados que ainda por ali andavam, perto dos jardins de S. Bento. Também era complicado, era preciso estar com o olho afiado; a fila de carros de alta cilindrada estava resplandecente, a rapaziada motorista aprumadíssima, enquanto comentavam os aspectos cruciais do jogo do benfas.
[Cá está: duas tiradas esquerdosas, equilíbrio restabelecido].
Deu ainda para admirar o helicóptero equipado com um sniper, daqui da secretária, espectáculo que recomendo vivamente. As nossas forças armadas melhoram a olhos vistos - há dez anos, destas coisas, só nos filmes.
Entretanto, chegam-lhe com “A Portuguesa”, mais uma vez brilhantemente interpretada pela banda da GNR. Eu desconfio que eles não ensaiam outra coisa, parecem-me cada vez mais afinados. O pessoal aqui da sala já quase que se põe em pé, hirtos em pose de Estado, sobretudo naquela parte já do final, em que os pratos entram em crescendo épico.
Bem, o mais curioso nesta paranóia de segurança é o aparato. Só um louco dispensaria cuidados redobrados nos dias de hoje, é certo, mas às vezes fico com a sensação que ela é desenhada para neutralizar uma horda de visigodos estridente, armada de machados. Isto porque, um tipo como eu, passa de mochila e auricular a escassos metros do centro nevrálgico da cerimónia.
Mas é melhor assim, Aníbal, não me cortes as ruas que ainda me atrapalhas mais. Já agora, cá fico à espera pela tão propalada cooperação institucional que tu e o Zé têm anunciado. Vá-se lá saber porquê, desconfio que os colunistas que encomendaram me estão a dar qualquer coisa de conversa fiada, embora reconheça que a estratégia de quem quer ser reeleito passe por aí. Tem é cuidado, que a vez dele chega primeiro.
Lx

4 Comments:

Blogger Jaf said...

Mas há algum reaccionário no blog?

Sei é que nã há vagas para neoliberais com complexos de esquerda...

Mais uma vez, Jorge, pá, a Presidente vitalício!!!

6:54 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

essa do helicóptero puxou-me apetite!

11:41 da tarde  
Blogger Jaf said...

Esqueci-me dizer que espero que este mandato do aníbal não passe de uma amena cavaqueira...

8:51 da manhã  
Blogger Jq said...

OK, a partir de agora começo a definir-te como neoliberal com complexos de esquerda.
Mas reaccionário dava-me mais jeito, escreve-se mais depressa.

4:10 da tarde  

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