“Ho happy day!”
É sempre agradável voltar a reencontrar uma cara amiga, e esta história de grupos de gospel sempre me fascinou. Sou agnóstico contudo, contagiam-me os entusiasmos de alegria, o “poderio vocal”, aquela atitude, quase de desafio. Claro que dispensava os “Gritem comigo: Jesus ama-nos”; mas é sempre complicado subscrever gostos a 100%.
Foi também engraçado ver uma mistura de brancos e negros em palco (nunca me foi confortável dizer pretos). A cara conhecida é imigrante. E negra. Acabou cá um curso e ainda não sabe se vai voltar. Pareceu-me integrado, pela forma como cantava. O que me remete hoje para um assunto que me tem andado a incomodar.
Já tinha tentado começar a escrever sobre ele, assim:
“O que se passa em França é tudo menos de fácil análise. Tenho visto (e lido) alguns dos muitos comentários que têm sido feitos e a facilidade de com que se tiram algumas conclusões assustam-me. E assustam-me as posições do Ministro do Interior Sarkozy (personagem que eu desconhecia por completo). A última deste é expatriar todos os imigrantes envolvidos nos tumultos, ainda que legais e com autorização permanente de residência.”
Bazófias à parte, vinha aqui só registar que ontem clareei significativamente o meu espírito acerca de algumas questões relacionadas com a imigração. E não foi preciso aumentar o meu glossário de esquerdalhices.
Não costumo ler imprensa francesa e acho que se deve ler com cuidado a informação em segunda mão da portuguesa. Mas vi na televisão o senhor Sarkozy explicar que quem incendeia e rouba é criminoso (não que o meu francês seja grande espingarda, o dele é que também não foi propriamente erudito, comunicação simples e eficaz).
Já agora, eu ajudo-o, quem viola e lava dinheiro também. Eu nunca chegarei a Ministro do Interior Francês e também já tinha percebido isto. Sozinho (ou quase, vá lá).
Mas no que a sua superior inteligência me poderia auxiliar (e eu agradeço, porque não percebi ainda como é que estas coisas se podem resolver) era como é que partir para declarações em que se apelidam concidadãos (como os filhos de imigrantes, já com nacionalidade Francesa) de escumalha, apenas por residirem em subúrbios pobres de Paris (caso contrário deveria ter tido o cuidado de separar os criminosos dos restantes residentes no seu discurso, a não ser que considere todos criminosos) o ajudariam a melhorar o clima de guerra social que existe em França, se ele conseguisse chegar a Presidente Francês (pelos visto, o seu legítimo desejo).
Só porque ele acha que tem lindos olhos e discurso de homem forte? Consta que exclusão social construída em 30 anos (de crescimento económico) não se resolve em 4 ou 8 anos (de recessão) apenas com discursos musculados. De esquerda ou de direita. E o problema do dele não é ser de direita. É ser errado.
Lx
PS – Ainda me estou aqui a rir com uma do Inimigo Público de hoje. Eu sei que é plágio, mas “Portugal envia um Canadair”...
O título.
6 Comments:
De qualquer maneira não se deve ignorar que existe sempre uma tensão base devido ao choque de culturas.
Países como a Holanda ou a Suécia que têm políticas de integração activa têm os mesmos problemas. Especialmente com imigrantes de cultura islâmica. Por exemplo acredito que os sistemas de ensino europeus não correspondam às expectativas de muitos pais que pretendem uma educação para os seus filhos de acordo com a sua cultura.
Já alguém pensou que as aspirações que estas pessoas têm podem não ser dadas pela sociedade europeia. Ou seja ter uma carreira de sucesso na Europa pode não ser compatível com a cultura que se trás do país de origem.
O racismo latente e a exclusão sobre os imigrantes existe seja qual for a cor da pele. Mas também existem outro tipo de estereótipos, como seja que todos os médicos em Inglaterra são indianos ou paquistaneses de 2º geração. Ou que os as crianças de leste são alunos muito bons nas nossas escolas. Parte disto tem a ver com a cultura que trazem com eles e acontece porque as susas ambições pessoais são compatíveis com a nossa sociedade com todos os seus defeitos.
Ora isto nem sempre é assim. A grande parte da culpa é dos governos, parte é da recessão, que essa sim não é racista, mas não podemos fazer de conta que as comunidades imigrantes estão isentas de responsabilidades.
Como dá muito trabalho a escrever, só escrevi isto, e por isso pareço o Luís Delgado. Mas não sou, hã?
Devo (re)começar por referir que me sinto sempre diminuído por tentar opinar com alguém que (como diria o Mário Crespo "e estou a citar") afirma: "não me venham contrariar com os argumentos esquerdalhos, porque os conheço a todos e mais alguns". Começo por pedir desculpa por me permitir intervir.
(Na realidade não vou contrariar ninguém, vou só deixar mais umas larachas porque não tem dado para escrever posts).
Sim, há tensão. Sempre houve tensão. Já alguém pensou o que sucederia se não existissem fluxos migratórios? E o papel de um ministro é acentuar o choque?
Ali no Martim Moniz consta que o ambiente é um bocado pesado e a nossa política de integração de imigrantes é... existe?
Mas que tal o Alberto Costa abrir o telejornal, a seguir a uma onda de assaltos na linha de Sintra, a dizer que vai varrer a escumalha do Martim Moniz, da Pedreira dos Húngaros, do Bairro Amarelo em Almada? Que vai utilizar as mangueiras de alta pressão para restabelecer a ordem?
Dos delinquentes que participaram nos desacatos, quantos são imigrantes ilegais? Quantos são cidadãos franceses? Quantos se juntaram aos motins por motivos políticos? Quantos tiveram apenas um comportamento mimético? Quantos são brancos?
Alguém sabe?
Já agora, quantos se juntaram aos motins depois de proferidas as declarações?
Nunca como agora a Europa necessitou tanto de imigrantes (antes tínhamos emigrantes). Pode parecer um paradoxo, quando avaliamos a progressão das taxas de desemprego dos últimos 5/6 anos; mas quando reparamos que existe emprego para os imigrantes, como estão os nossos sistemas de Segurança Social e as actuais taxas de natalidade, a coisa já não parece assim tão bizarra (aliás, quase sempre houve desemprego e hoje ninguém intelectualmente honesto pode atribuir o crescimento da taxa de desemprego aos fluxos de imigração).
Nenhuma comunidade apenas comete desacatos. Se o Sr. Sarkozy está, de facto, interessado em resolver problemas relativos à integração de imigrantes (os tais tipos necessários), em que medida a sua intervenção constitui uma mais-valia? E se estiver interessado em acabar com o regabofe de incêndios, as famosas declarações, ajudam? E como é que, de repente, toda a gente sabe que os desacatos em 116 cidades se resumem a questões de imigração ilegal?
Por último, eh pá! Elevado nível intelectual!? Eruditos!? Essa foi baixa... eh pá, e tu parecido com o Delgado? Só se for nos óculos, hehehe! (só mandei esta piada seca para não nos insultarem outra vez).
Se fosses rigoroso completavas a minha frase, o que eu disse foi: "não me venham contrariar com os argumentos esquerdalhos, porque os conheço a todos e mais alguns, concordo com a maior parte deles".
É claro que não defendo as declarações do ministro. Mas também se deve tentar perceber as razões que levam um ministro a falar assim. Para além de ele ser estúpido, claro.
Se há capacidade de mobilização par os desacatos também devia ahaver para manifestações pacíficas. Quanto há justiça apenas acho que deve aplicar a lei tal como ela é, igual para todos.
Segundo a maioria dos analistas (volto a parafrasear o Mário Crespo, "e estou a citar"), as razões passam sobretudo por uma luta interna que decidirá qual o futuro candidato presidencial daquela área política (Sarkozy vs Villepin).
E em rigor, quem é que conhece todos os argumentos esquerdalhos?
Gostava só ainda de esclarecer que nunca (esta é mesmo, mesmo nunca), defendi a aplicação discriminatória ou diferenciada de qualquer lei.
Leis como as que regem o expatriamento.
Quanto às manifestações pacíficas, claro que estou de acordo. Mas se calhar, primeiro, é melhor demitir o tal ministro. Só para desanuviar o clima. Naquela do exemplo vir de cima.
esse ministro françês do interior era bater-lhe com um gato morto até ele miar.
quanto aos disturbios:
será que eu sou o único que pensa que a maior parte dos miudos que provocou esses disturbios foi só pelo gozo que lhes deu insurgirem- -se contra a polícia?
peace
não, não és o único...amen.
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