E será de mim, ou o problema é mesmo dele?
Enquanto este blog está neste estado, cá fica mais um paste. Eu sei que o que escrevo é lamentável, que não me fica nada bem falar da escrita dos outros, que ando com algum mau feitio; mas, este senhor, é editor de economia do “Expresso”… eu que até respeito o “Expresso”...
Jorge Fiel
“Prozac na água da torneira”
Economia & Internacional
“HÁ ALGUNS anos, quando os meus dois filhos adolescentes ainda eram catraios e a A2 era ainda um projecto, a minha paciência de pai era posta à prova, durante a peregrinação familiar anual ao Algarve, pelo massacrar constante de perguntas vindas do banco de trás: «Ainda falta muito?» e «Quando chegamos?!».
Inventávamos, por isso, jogos, para distrair os miúdos. O mais popular era o da cor dos carros. Cada um escolhia uma cor. Só contavam os automóveis que viessem em sentido contrário. Ganhava quem acertasse primeiro em 20 carros com a cor escolhida. Com estes e outros entretenimentos conquistávamos períodos de trégua das perguntas infernais: «Quando chegamos?» e «Ainda falta muito?!».
Este jogo das cores dos carros seria hoje em dia irrepetível. Por falta de suspense. Ganharia sempre quem escolhesse o cinzento. No nosso parque automóvel, o cinzento triunfa com maioria absoluta, nas declinações metalizado, claro, escuro, rato, etc. Em segundo lugar surgem os carros pretos. E o pódio fica completo com os carros brancos. Tudo cheio de lógica, uma vez que o preto e o branco são o pai e a mãe do cinzento.
A Ana Bela Vieira, minha colega dos venturosos tempos da Revista do EXPRESSO, queria comprar um Fiat Idea cor-de-laranja. Pois não tinham nenhum para entrega nessa cor. Têm vários tipos de cinzento, branco, preto - até azul-bebé. Laranja é que não.
A Ana Bela não se resignou à ditadura do cinzento e encomendou de Itália o seu Fiat laranja - de que está à espera há dois meses.
Admiro a minha amiga pela sua intransigência. É preciso exterminar este sistema kafkiano de pescadinha de rabo na boca em que não há, porque ninguém encomenda, e ninguém encomenda, porque não há.
Eu sei do que falo. Tenho uma carrinha Fiat Marea cinzenta porque quando tive de a comprar, de um momento para o outro, o CEO do EXPRESSO à época vetou a decisão da direcção editorial de me oferecer o meu carro de serviço (uma Renault Espace azul) quando, no ano 2000, deixei de ser editor do Porto - a escolha era entre o preto e o cinzento. Mais nada.
Tal como o seu parque automóvel, Portugal está a acinzentar-se. Nas estradas, a monotonia dos carros cinzentos e de uma paisagem florestal de pinho e eucalipto, eucalipto e pinho, é um sintoma de decadência colectiva, de gente fraca, cheia de pena de si própria, e de um país consumido nas labaredas dos incêndios e das intermináveis sessões judiciais do caso Casa Pia.
Este país triste é o país do fado, que canta a dor, o passado, a impotência, o choro, a desgraça, a traição e a facada. O ressurgimento do fado com as roupagens «modernas», interpretado pelas Marizas, Mísias ou Kátias Guerreiro, é mais um sintoma da decadência colectiva de um povo que em vez de olhar para a frente teima em se virar para trás, cultivando a saudade e ostentando um estranho orgulho em ser escravo da fatalidade e prisioneiro do destino.
Não nos podemos resignar a ser eternamente o país do fado, habitado por invertebrados que com medo de afirmarem a sua opinião, em termos simples de «gosto» ou «não gosto», se refugiam na invenção das meias-tintas do «eu até nem desgosto disto».
Não nos podemos resignar ao triunfo da cobardia do Velho do Restelo sobre o espírito empreendedor, aventureiro e de risco que levou os nossos antepassados a desbravarem o mundo e enfrentarem o perigo e o desconhecido, personificados no Adamastor.
Não nos podemos resignar a ser um país de tristes e de cinzentos. Eu pelo menos não me resigno - como se vê. Para combater o fado, vale tudo. Até mesmo misturar Prozac na água da torneira...”
Lx
Inventávamos, por isso, jogos, para distrair os miúdos. O mais popular era o da cor dos carros. Cada um escolhia uma cor. Só contavam os automóveis que viessem em sentido contrário. Ganhava quem acertasse primeiro em 20 carros com a cor escolhida. Com estes e outros entretenimentos conquistávamos períodos de trégua das perguntas infernais: «Quando chegamos?» e «Ainda falta muito?!».
Este jogo das cores dos carros seria hoje em dia irrepetível. Por falta de suspense. Ganharia sempre quem escolhesse o cinzento. No nosso parque automóvel, o cinzento triunfa com maioria absoluta, nas declinações metalizado, claro, escuro, rato, etc. Em segundo lugar surgem os carros pretos. E o pódio fica completo com os carros brancos. Tudo cheio de lógica, uma vez que o preto e o branco são o pai e a mãe do cinzento.
A Ana Bela Vieira, minha colega dos venturosos tempos da Revista do EXPRESSO, queria comprar um Fiat Idea cor-de-laranja. Pois não tinham nenhum para entrega nessa cor. Têm vários tipos de cinzento, branco, preto - até azul-bebé. Laranja é que não.
A Ana Bela não se resignou à ditadura do cinzento e encomendou de Itália o seu Fiat laranja - de que está à espera há dois meses.
Admiro a minha amiga pela sua intransigência. É preciso exterminar este sistema kafkiano de pescadinha de rabo na boca em que não há, porque ninguém encomenda, e ninguém encomenda, porque não há.
Eu sei do que falo. Tenho uma carrinha Fiat Marea cinzenta porque quando tive de a comprar, de um momento para o outro, o CEO do EXPRESSO à época vetou a decisão da direcção editorial de me oferecer o meu carro de serviço (uma Renault Espace azul) quando, no ano 2000, deixei de ser editor do Porto - a escolha era entre o preto e o cinzento. Mais nada.
Tal como o seu parque automóvel, Portugal está a acinzentar-se. Nas estradas, a monotonia dos carros cinzentos e de uma paisagem florestal de pinho e eucalipto, eucalipto e pinho, é um sintoma de decadência colectiva, de gente fraca, cheia de pena de si própria, e de um país consumido nas labaredas dos incêndios e das intermináveis sessões judiciais do caso Casa Pia.
Este país triste é o país do fado, que canta a dor, o passado, a impotência, o choro, a desgraça, a traição e a facada. O ressurgimento do fado com as roupagens «modernas», interpretado pelas Marizas, Mísias ou Kátias Guerreiro, é mais um sintoma da decadência colectiva de um povo que em vez de olhar para a frente teima em se virar para trás, cultivando a saudade e ostentando um estranho orgulho em ser escravo da fatalidade e prisioneiro do destino.
Não nos podemos resignar a ser eternamente o país do fado, habitado por invertebrados que com medo de afirmarem a sua opinião, em termos simples de «gosto» ou «não gosto», se refugiam na invenção das meias-tintas do «eu até nem desgosto disto».
Não nos podemos resignar ao triunfo da cobardia do Velho do Restelo sobre o espírito empreendedor, aventureiro e de risco que levou os nossos antepassados a desbravarem o mundo e enfrentarem o perigo e o desconhecido, personificados no Adamastor.
Não nos podemos resignar a ser um país de tristes e de cinzentos. Eu pelo menos não me resigno - como se vê. Para combater o fado, vale tudo. Até mesmo misturar Prozac na água da torneira...”
Lx
1 Comments:
epá esse gajo já queimou o fusível... todo queimadinho coitado!
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