xaropada histórica
Continuo a dar por mim a não estar devidamente calado em relação ao já citado código. Ou seja, continuo a insistir na tese da falta de honestidade intelectual do autor ao não citar devidamente as suas principais fontes, nem em distinguir, no início ou no fim do livro ,até onde foi a ficção por si criada (ou por outros), e o que é historicamente aceitável.
Mesmo quando confrontado com o argumento de que se a história for verdadeira não se podem citar todas as fontes, que um romance histórico tem sempre uma parte de ficção mesclada com a realidade, e que não vale a pena discutir algo relacionado com a fé individual de cada um, ainda por cima relativo há 2000 anos atrás (mais coisa, menos coisa).
Mas, porventura inspirado no finado Adriaanse a jogar com três defesas diante o Inter, continuo com um problema de atitude em relação ao Brown, custa-me a aceitar que aquilo não seja deliberadamente tablóide.
As últimas coisas que tenho lido atiram um bocado para o romance histórico. E alguns, embora possam também ser criticáveis quando à idoneidade, pareceram-me mais credíveis (pouco ou nada têm a ver uns com os outros, mas vamos lá embarcar numa pseudo-crítica literária de opereta – quem de facto lê livros e não está para aturar isto, talvez seja prudente passar ao próximo post).
Uns que já me distraem há algum tempo, são os da colecção sub-rosa de Steven Saylor (Quetzal - aqui o site em estrangeiro, não consegui encontrar nenhum em português), passados na Roma antiga.
Literatura ideal para descansar o neurónio veraneante, mas igualmente útil para dar um bitaite intelectualóide ocasional (do género: “As minhas Cassandras são outras” ou “Ouve lá pá, mas tu sabes a origem da expressão «erro Crasso»?”).
Goste-se ou não, tive sempre a ideia que o autor tem algum cuidado não só a fazer a pesquisa como também a enquadrar as fontes e a explicar até onde puxou a corda da imaginação.
Claro que, por alguém nos Estados Unidos ter escrito uma tese de doutoramento acerca do romance entre a Cleópatra e Júlio César, não implica que a reprodução dos diálogos do senado sejam fidedignos (até porque o Júlio, na altura, gostava que o tratassem pelo primeiro nome, Ditador… talvez se possa ponderar que os registos sobreviventes possam conter alguns enviesamentos).
No meu caso, a coisa é também irracional, simpatizo com a principal personagem à volta do qual tudo gira (e que nunca existiu). O que mais gostei foi o “O enigma de Catilina”, sendo que o piorzinho (talvez porque a fórmula se esgota à vista desarmada) foi o último, “Um gladiador só morre uma vez”. Já agora, sim, é verdade, os romances em causa não são todos heterossexuais - digo isto antecipação ao eventualmente fatal comentário homofóbico…
Outros que achei interessantes (embora mais velhos que as táctica do Fernando Santos durante a pré-época do benfas) são “O rei de ferro” e “A rainha estrangulada” de Maurice Druon (Gótica – novamente site em estrangeiro).
Mesmo quando confrontado com o argumento de que se a história for verdadeira não se podem citar todas as fontes, que um romance histórico tem sempre uma parte de ficção mesclada com a realidade, e que não vale a pena discutir algo relacionado com a fé individual de cada um, ainda por cima relativo há 2000 anos atrás (mais coisa, menos coisa).
Mas, porventura inspirado no finado Adriaanse a jogar com três defesas diante o Inter, continuo com um problema de atitude em relação ao Brown, custa-me a aceitar que aquilo não seja deliberadamente tablóide.
As últimas coisas que tenho lido atiram um bocado para o romance histórico. E alguns, embora possam também ser criticáveis quando à idoneidade, pareceram-me mais credíveis (pouco ou nada têm a ver uns com os outros, mas vamos lá embarcar numa pseudo-crítica literária de opereta – quem de facto lê livros e não está para aturar isto, talvez seja prudente passar ao próximo post).
Uns que já me distraem há algum tempo, são os da colecção sub-rosa de Steven Saylor (Quetzal - aqui o site em estrangeiro, não consegui encontrar nenhum em português), passados na Roma antiga.
Literatura ideal para descansar o neurónio veraneante, mas igualmente útil para dar um bitaite intelectualóide ocasional (do género: “As minhas Cassandras são outras” ou “Ouve lá pá, mas tu sabes a origem da expressão «erro Crasso»?”).
Goste-se ou não, tive sempre a ideia que o autor tem algum cuidado não só a fazer a pesquisa como também a enquadrar as fontes e a explicar até onde puxou a corda da imaginação.
Claro que, por alguém nos Estados Unidos ter escrito uma tese de doutoramento acerca do romance entre a Cleópatra e Júlio César, não implica que a reprodução dos diálogos do senado sejam fidedignos (até porque o Júlio, na altura, gostava que o tratassem pelo primeiro nome, Ditador… talvez se possa ponderar que os registos sobreviventes possam conter alguns enviesamentos).
No meu caso, a coisa é também irracional, simpatizo com a principal personagem à volta do qual tudo gira (e que nunca existiu). O que mais gostei foi o “O enigma de Catilina”, sendo que o piorzinho (talvez porque a fórmula se esgota à vista desarmada) foi o último, “Um gladiador só morre uma vez”. Já agora, sim, é verdade, os romances em causa não são todos heterossexuais - digo isto antecipação ao eventualmente fatal comentário homofóbico…
Outros que achei interessantes (embora mais velhos que as táctica do Fernando Santos durante a pré-época do benfas) são “O rei de ferro” e “A rainha estrangulada” de Maurice Druon (Gótica – novamente site em estrangeiro).
Reportam-se ao ambiente político francês no período imediatamente anterior à guerra dos cem anos, mas, claro está, com uns romances à mistura. Nestes, podem-se ler brevíssimos resumos da vida das principais personagens da altura (realeza, rapaziada do governo, bispalhada, etç); assim como algumas notas históricas referentes a alguns pormenores (um ou outro até me pareceram a despropósito) e uma diferente opinião acerca da perseguição então encetada aos templários.
Obviamente que se pode questionar a veracidade de alguns relatos e das tramas descritas (a história é sempre escrita pelos vencedores): “Então como é que o senhor Druon atesta assim com tanta certeza que a rainha de Inglaterra se deixou tão facilmente influenciar pelo Conde de Valois, quando a descrição dada é de que ambos se encontraram em privado, sozinhos, e que prometeram segredo acerca do pacto estabelecido?”
Obviamente que se pode questionar a veracidade de alguns relatos e das tramas descritas (a história é sempre escrita pelos vencedores): “Então como é que o senhor Druon atesta assim com tanta certeza que a rainha de Inglaterra se deixou tão facilmente influenciar pelo Conde de Valois, quando a descrição dada é de que ambos se encontraram em privado, sozinhos, e que prometeram segredo acerca do pacto estabelecido?”
Ok, também não vou dizer que isto é inatacável...
Num registo ligeiramente diferente, só agora acabei o “Equador” do Miguel Sousa Tavares (Oficina do Livro – não consegui o site em estrangeiro...).
Diferente porque não pretende a descrição de uma história verídica; pretende, isso sim, conferir um retrato fiel da época e de algumas personagens históricas (e contar um romance). Mas lá estão no final as referências que permitirão a alguém (maluquinho desocupado, com certeza) confrontar o que é escrito com os documentos citados.
Já agora que me meti nisto, gostei bastante do livro, mas creio que o enredo tem alguns solavancos, e talvez a escrita do senhor Tavares ainda não esteja totalmente adaptada ao formato romance (isto, vindo de um gajo como eu, que nunca escreveu nada, mas adiante).
Mas surpreendeu-me pela positiva, porque à primeira vista, imaginar que este tripeiro abrutalhado pudesse ter escrito um romance, causava-me alguma perplexidade. Ainda por cima, dado a reconhecida isenção com que o senhor analisa o nosso campeonato de futebol, onde tão frequentemente consegue não tomar partido descaradamente por um clube liderado há uns 30 anos por um cacique demagogo e populista do Norte; a catalogação do romance como “histórico”, deixou-me (antes de o ler) algo apreensivo.
Por último, um inacabado (de ler), que de romance não tem nada. A obra sobre Mao (Bertrand, mais uma estrangeirada) está-me a custar a digerir. A senhora que tão bem (na minha humilde opinião) escreveu “Cisnes selvagens” parece-me ter perdido em demasia a objectividade (às tantas, um tipo acha que o Mao não pode ter sido assim tão mau - a mim, que sempre me fizeram espécie os maoístas portugueses como o “Cherne” ou o Pacheco). Embora, pelo percurso pessoal dela, se perceba que não se poderia esperar uma jura de amor eterno ao facínora.
Se acabar este, não prometo que não volte a massacrar-vos.
Num registo ligeiramente diferente, só agora acabei o “Equador” do Miguel Sousa Tavares (Oficina do Livro – não consegui o site em estrangeiro...).
Diferente porque não pretende a descrição de uma história verídica; pretende, isso sim, conferir um retrato fiel da época e de algumas personagens históricas (e contar um romance). Mas lá estão no final as referências que permitirão a alguém (maluquinho desocupado, com certeza) confrontar o que é escrito com os documentos citados.
Já agora que me meti nisto, gostei bastante do livro, mas creio que o enredo tem alguns solavancos, e talvez a escrita do senhor Tavares ainda não esteja totalmente adaptada ao formato romance (isto, vindo de um gajo como eu, que nunca escreveu nada, mas adiante).
Mas surpreendeu-me pela positiva, porque à primeira vista, imaginar que este tripeiro abrutalhado pudesse ter escrito um romance, causava-me alguma perplexidade. Ainda por cima, dado a reconhecida isenção com que o senhor analisa o nosso campeonato de futebol, onde tão frequentemente consegue não tomar partido descaradamente por um clube liderado há uns 30 anos por um cacique demagogo e populista do Norte; a catalogação do romance como “histórico”, deixou-me (antes de o ler) algo apreensivo.
Por último, um inacabado (de ler), que de romance não tem nada. A obra sobre Mao (Bertrand, mais uma estrangeirada) está-me a custar a digerir. A senhora que tão bem (na minha humilde opinião) escreveu “Cisnes selvagens” parece-me ter perdido em demasia a objectividade (às tantas, um tipo acha que o Mao não pode ter sido assim tão mau - a mim, que sempre me fizeram espécie os maoístas portugueses como o “Cherne” ou o Pacheco). Embora, pelo percurso pessoal dela, se perceba que não se poderia esperar uma jura de amor eterno ao facínora.
Se acabar este, não prometo que não volte a massacrar-vos.
Lx
2 Comments:
Ontem na TSF deu um pessoal e transmissível com a senhora que escreveu a biografia do mao.
quando lhe perguntaram qual a reacção que esperava ao livro, curiosamente descreveu a tua opinião...
Ainda não acabei de ler...
Isso deve estar no site da TSF, fiquei com curiosidade de a ouvir.
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