terça-feira, dezembro 23, 2008

Demagogia...


Hoje numa troca de emails com a UBI - Universidade da Beira Interior, reparei no footer que dizia:

Imprima este email só se for mesmo necessário. A UBI é amiga do ambiente. As árvores são um bem imprescindível.”

Ora eu já tenho visto isto tipo de mensagem noutras empresas e aí perdoo. Agora numa universidade não. Uma universidade devia ter cuidado com o que escreve, a frase está errada. A frase certa é:

Imprima este email só se for mesmo necessário e garanta que recicla o papel gasto. A UBI é poupa recursos.”

Agora pergunta o leitor, mas ó JAF tu não trabalhas numa empresa que produz mais de um milhão de toneladas de papel por ano? Não serás parte interessada?

Sim e ...sim. Mas na minha empresa só se imprime quando é preciso e não se desperdiça papel. Ou tenta-se...Eu tento.

A parte errada da frase é que não se salvam árvores nenhumas por não consumir papel.

Ninguém vos diz “...não comam couves porque as pencas são inestimáveis.” ou não comam frango assado porque um mundo sem galinácios é triste...”.

As árvores que nós usamos para fazer papel são uma cultura agrícola como outra qualquer, apenas têm ciclos de colheita de 10 anos. Por cada árvore que é cortada obviamente outra é plantada. só queremos árvores de florestas sustentáveis.

Todas as partes da árvore que não servem para a produção do papel são usadas para produzir energia verde. Verde porque é limpa e verde porque é renovável. As emissões gasosas são baixas e as cinzas são usadas como fertilizante na silvicultura. 

A nossa empresa capta mais CO2 do que liberta. A razão é simples:

Assim como quando uma pessoa é jovem tem mais capacidade respiratória, um eucalipto quando é jovem tem mais capacidade de fazer fotossíntesse, libertando oxigénio, e tem mais capacidade de crescer, fixando carbono. Árvores velhas perdem estas capacidades, logo a renovação da floresta melhora a qualidade do ar.

E o papel reciclado? Deve-se reciclar obviamente, mas também, se não se gastarem papéis finos (impressão e escrita) não haverá nada para reciclar e assim jornais, embalagens, cartões serão feitos de fibra virgem em vez de material reciclado.

Existem outros produtos feitos com celulose como fraldas e papel higiénico e como nunca iremos limpar o nosso rabo ao iPhone ou lavar fraldas de pano sem utilizar água e detergentes, a mensagem é: não desperdicem, mas também não pensem que vão salvar o mundo.

Eu não defendo que se abatam florestas milenares para fazer silvicultura agressiva. Mas existe mais que espaço para plantar as árvores necessárias ao nosso consumo de papel. O ciclo é fechado.

A reciclagem de papel, embora necessária, é dos processos industriais que mais água gasta, por outro lado como as tintas que usamos não são solúveis em água, tem de se usar solventes poderosos para tratar o papel. E a água, essa, sim é um bem inestimável.

Quando vim trabalhar para esta indústria sabia da sua reputação ambiental, preocupava-me vir a ter consciência pesada. Não tenho.

A nossa empresa baixou os consumos de água em cerca de 60% nos últimos 15 anos, utiliza 95% de energias renováveis no seu processo, tem uma eficiência energética bastante alta.

Não entendo como poderá compensar economicamente poluir. No caso das emissões líquidas e resíduos sólidos a teoria é simples, quanto menos sair, menos terá que entrar, neste caso matérias-primas e água. No caso das emissões gasosas também: toda a gente sabe que um carro que carbura mal consome mais combustível, quando as nossas chaminés não estão limpas significa que não estamos a queimar combustível de uma forma eficiente e por conseguinte estamos a gastar mais para produzir a mesma energia.

Ou seja a uma ineficiência ambiental corresponde sempre uma ineficiência processual e por isso um prejuízo económico.

Escrevi este texto de memória, deve conter imprecisões, porque ninguém mo encomendou.

Acho que essa história de não consumir papel para poupar as árvores, num país civilizado é demagogia e a demagogia não salva o ambiente.

Quando deixarmos de consumir papel alguém se vai lembrar de as plantar para lenha e assim voltamos à Idade Média, porque uma árvore queimada para energia gera 9x menos valor do que uma árvore usada para fazer papel.

E aí sim, seremos uns meninos à volta da fogueira...

Imprima este post só se achar necessário. Ninguém o vai ler, quanto mais imprimir...

2 Comments:

Blogger pin girl said...

Confesso que imprimir, não...porque sou poupadinha, e também porque, de tão poupadinha que sou, não tenho impressora em casa.
Mas lá ler, li.
E não podia estar mais de acordo com o que li.

Durante séculos abateram-se árvores para os mais diversos fins. Fins necessários à sobrevivência e ao bem-estar do ser humano. E não me parece que o tenham sido porque essas árvores foram, am algum momento, inimigas de alguém.

A ecologia sem demagogia consiste apenas numa coisa muito simples que me ensinaram em casa desde pequena: a não desperdiçar nada que possa vir a ser reaproveitado.
Deve também ser por isso que guardo indefinidamente coisas que me parece que vou poder utilizar mais tarde e...lá que é engraçado quando preciso de uma coisa e sei que tenho guardado algo que serve, é!
Sabe bem!

11:37 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Eu também li... Por meio de algum trabalho...
Mas o que se ouve dizer aqui é, sem dúvida, um voto de confiança no futuro. Mas não te preocupes JAF, um dia todos vão pensar assim.
É obrigatório.
Abs do LAM.

10:40 da tarde  

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