quinta-feira, junho 16, 2005

"Messias, Deus, chefes supremos,/Nada esperemos de nenhum!/Sejamos nós quem conquistemos/A Terra-Mãe livre e comum!"

Não resisto a escrever qualquer coisa mas, porque estou uns furos abaixo do conhecimento necessário, também não resisto a que seja muito pouco.
Nos últimos dias, imensas pessoas variados quadrantes políticos e sociais falaram com um conhecimento de causa impressionante acerca da vida de Álvaro Cunhal. E das várias facetas do mesmo. Pareceu-me que alguns até se terão excedido um pouco, pois já estavam a entrar no campo da metafísica (o Pacheco Pereira, que evidentemente sabia do que falava, acho que se entusiasmou um bocado); mas desde o mais humilde militante comunista ao mais diametralmente oposto ideólogo neoliberal, todos sentiram qualquer coisa.

Num daqueles livros ligeiros que substituíram a televisão avariada no último fim de semana, era citado um provérbio etrusco, qualquer coisa do género: “os mortos não mordem”. A pedra de toque da historieta é que depois não é bem assim (o indivíduo que proclama frases semelhantes às da Rosa Amélia acaba por levar uns atrás já depois de finado e sem precisar de regressar do mundo dos mortos).
Também aqui não foi bem assim. Apesar de derrotado por diversas vezes em democracia, de perseguido durante a ditadura, de acusado de incoerência e de coerência em simultâneo (quanto a isso cada vez me baralham mais), de tentar impor um regime diferente da democracia parlamentar, eis que, ao fim de 91 anos e depois de morto, suscitou homenagens e receios (como os demonstrados por Ribeiro e Castro) que me impressionaram pela espontaneidade. Isto apesar de ser uma morte relativamente esperada.
Duvido que hajam muitos derrotados pelo decurso da história que tenham direito a uma despedida destas. Pela minha parte, desconfio que não viverei o suficiente para ver outra do género.
A foto foi delicadamente surripiada ao “Público”.
Lx

PS – e muita sorte teve este senhor de nos últimos 26 anos nunca se ter cruzado com o meu colega de blog numa qualquer sucursal bancária, lá por volta das 8:30. É que, segundo a sua adaptação livre do mecanismo de selecção adversa (enquanto formalização da teoria do espaço vital), pensionista madrugador em profanação de solo bancário deveria ser conduzido, sumariamente, à fábrica de sabão mais próxima...

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Andei estes dias a "vaguear" pelo Blog,a espera que dissessem algo sobre Álvaro Cunhal e eis que veio uma msg a dobrar(alguem ouviu as minhas preces)...
Depois de ler penso q a esta hora A.C.(meus respeitos)deve estar a "voar" para rsp aos nossos amigos...JAFINO-amigo da CERVEJA e JQUEST-amigo da procura...tvz nao tenha sido um homem com as ideologias mais sensatas mas fez parte da nossa revoluçao...e por consequencia da nossa historia...
deixou-nos escritos reveladores...
se tivessem lhe dado a oportunidade de ser prof,tvz tivesse mudado a mentalidade de alguma "juventude" que pensa que a revoluçao se fez num dia...

saudaçoes "pouco amistosas"
dan so ;)

8:32 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

o coment acima referido esta deslocado...devia estar n post d JAF(as minhas sinceras desculpas JQUEST).
26 anos!?O JAF ja era assim tao precoce?...
Falando da fabrica de sabao...Pelo JAF eu ja estava a lavar as costas a alguem (sou descendente de judeus)...
dan so

8:50 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Hoj morreu Jose Redondo,o "criador" do licor beirao...
fico a espera hic de um post hic em sua honra...:)hic hic hic(a soluçar)
"Licor Beirao hic, o beirao hic que todos gostam"...hic hic hic
dan so hic

9:21 da tarde  
Blogger Jq said...

eh lá! dan so, enigmática (e assustadora). Estou com medo de te perguntar o que significa o jquest e o "amigo da procura". É melhor responderes por email...
Só quatro(!) breves notas:
1)finalmente percebi qual a desvantagem de colocar títulos tão longos (ver imagem em cima...)
2)o silêncio sobre vários assuntos tem sido uma nota dominante nesta argolada virtual; a culpa não é só da vontade, mas vamos ver se isto melhora
3)Judia? Tás tramada... é uma questão de tempo até ele largar os velhos...
4)quanto aos "posts pedidos", tratas disso JAF?

2:37 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

quanto ao álvaro cunhal... descanso à sua alma. quanto à selecção adversa... vou dar a minha interpretação do conceito recorrendo a um exemplo prático (os economistas parece que gostam disso):
Vamos imaginar que um economista e um engenheiro (da mesma idade jaf) vão a um banco. O banco (como muito bem explicou o jaf) abre às 8:30. Os dois indivíduos (da mesma idade) chegam à porta do banco (às 8:24) exactamente ao mesmo tempo. À porta do banco está um polícia no seu último dia de trabalho antes da reforma (65 anos), uma ex trabalhadora de uma câmara municipal no seu primeiro dia de reforma (46 anos), e eu próprio. Eu, com a minha grande capacidade de análise, afasto-me logo, pois não quero que nada de mau aconteça ao país por minha causa. Em cena ficam os quatro intervenientes que descrevi, e à medida que me afasto sinto a tensão no ar, quase à moda de um duelo de pistoleiros nos filmes que retratam o velho oeste americano. sento-me no café bola de neve 1 (ao pé da sucursal bancária onde costumo ir), e fico à espera da abertura do banco para espreitar o desfecho da situação. Do sítio onde estou sentado consigo aperceber-me da mudança de direcção do reflexo do sol nas portas do banco, olho para o relógio instintivamente, e apercebo-me de que são 8:30! Então corro para a rua, entro no banco de repente e ouço o economista(da mesma idade do engenheiro) a perguntar ao engenheiro(da mesma idade do economista) se ele não se importa de esperar um pouco, uma vez que está com muita pressa e precisa de ser atendido, e ainda por cima as duas pessoas que estavam à frente deles não se importam de esperar, e blá blá blá... O engenheiro (da mesma idade do economista) com um encolher de ombros responde que não se importa nada, e senta-se no banco de pedra da instituição (extremamente confortável e imaginado por alguém que acha que faz bem à coluna). O economista(da mesma idade do engenheiro) é então atendido e demora uma eternidade, pois quer estar a par de todas as taxas, planos de poupança e outras mentiras que costumam circular nestes sítios. Esta demora não afecta o engenheiro(da mesma idade do economista), que tinha tudo previsto e avisou a sua entidade patronal que se apanhasse algum empata-fod#s no banco talvez se demorasse um pouco mais. O almoço que a senhora reformada tinha deixado no fogão(para adiantar) queima-se um pouco, mas não há problema porque o incêndio que lhe devorou a casa não poupou a mesa onde costuma almoçar. O polícia chegou atrasado logo no dia em que um grupo de jovens decidiu assaltar toda a gente que passava na rua onde devia estar a fazer o seu turno. O economista(da mesma idade do engenheiro) chegou atrasado na mesma por causa de todas as perguntas que fez e o seu patrão não o repreendeu. Isto tem alguma coisa a haver com selecção adversa?

abraços e beijinhos

PS - é só para te chatear jq, não me leves a mal!

1:48 da manhã  
Blogger Jq said...

Caro(a) leitor(a),
Denoto na sua análise uma ligeiríssima e quase imperceptível preferência por uma das classes profissionais representadas pelos indivíduos da mesma idade.
Apesar de ter apreciado particularmente o desfecho por si descrito, peço-lhe que para a próxima não seja tão ríspido para com essa profissão um tanto ou quanto misteriosa (sim, afinal quem são e para que servem?); apesar de tudo não serão completamente desmerecedores da nossa compaixão. Mesmo a caminhar no sentido de uma competitividade desenfreada, não podemos pura e simplesmente dizimar todos os engenheiros num ápice, que diabo...
Respondendo directamente à sua pergunta, creio ter detectado na sua exposição alguns indícios desse mito incontornável aqui no “fim da terra” – a selecção adversa.
Gostaria apenas de citar 2:
1) um banco que apenas consegue atrair esse tipo de clientela, a ter alguma selecção... é que polícias e reformados da câmara ainda vá lá, agora economistas e engenheiros... basta ver o que se passa no governo.
2) e que ainda por cima está ao pé do bola de neve 1... ááííííí...(rever o que se passa no governo).
Espero ter contribuído para o seu esclarecimento, caro(a) leitor(a).
PS – Essas lesões já acalmaram? Quando é que regressas ao squash?

12:10 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

não está fácil... só lá para fevereiro do próximo ano! entretanto vou testando a engrenagem numas corridas, mas nada de muito violento!
Diverte-te no squash,
1 abraço!

2:35 da manhã  

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