Quiero yo mi suerte echar
De repente apercebi-me que estava sentado num lugar reservado a senhoras grávidas, deficientes motores e mulheres acompanhadas por crianças de colo; e que estava uma senhora “de esperanças” em pé. “Acordei” e levantei-me para lhe dar lugar, até porque já só faltavam 2 estações para sair.
Eis que na minha penúltima paragem entra na carruagem um casal com duas “malas-carrinho-coluna”. Passo a explicar, era uma (ou melhor, duas) daquelas malas com uma pega, mas em vez da mala propriamente dita tinham uma coluna/aparelhagem de som. Eu, na minha inocência, ainda não me estava a perceber do que se estava ali a passar. Um, dois, experiência, e aqui vai disto: as “malas-carrinho-coluna” começam a debitar o instrumental da “Guantanamera” e, com direito até a um ligeiro “mexe mexe” ao som do musicol, eis que começam uma impressionante performance do clássico cubano, versão subterrânea.
Chegado à última estação, não consegui evitar de pensar no caricato da situação. Já tinha assistido a cegos a pedir esmola, a ciganos romenos a tocar acordeão, a africanos a vender relógios, mas esta do folclore cubano era nova. A linha verde sempre foi um trajecto enriquecedor.
O mais irónico é que “Guantanamera” corresponde a uma habitante de Guantanamo, e “Guajira Guantanamera” será qualquer coisa do género de “campina da região de Guantanamo”. A letra fala de amizade, coração, sinceridade, de viver entre os pobres da terra, de uma rosa branca que se cultiva aos cruéis no lugar de uma urtiga.
Guantanamo, o lugar da "sinceridade" Americana na linha verde, cantado por dois eventuais imigrantes ilegais (e para uns outros tantos "clandestinos") durante os 30 segundos que separam duas paragens de metro. O Mundo devia ter férias. Lx
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