Uma festa...
Na minha concepção da coisa, a ideia costuma ser bastante simples, andar por sítios onde normalmente não vou e apreciar a festarola.
DJ’s domésticos, ou seja, pessoal que aproveita o facto da sua rua estreita ser hiper-movimentada para abrir literalmente as portas (e janelas) de casa e, com aparelhagens a roçar o profissionalismo, darem o seu “show”.
Grupos de rapaziada que monta o seu estaminé artesanal para vender a jola a 1 euro, o rissol, a tarte, o “quish” (também tudo a 1 euro…) - houve um de fato e gravata a despachar mercadoria do porta-bagagens de um “Clio”.
Tudo se vende, inclusivamente as idas à casa de banho (50 cêntimos, num dos cafés). O masculino desenrasca-se sempre, melhor ou pior (apesar da movimentação das ruas, a vontade, quando aliada à descontracção de meia dúzia de jolas, não se compadece com vergonhas). Já no feminino, todo o cerimonial que envolve o alívio, inibe uma resolução tão descomprometida.
“WC só para clientes”. Nesse caso queríamos ser clientes, dado que até havia mesa.
“Escreva aqui neste papel o que quer.” – talvez o elixir da juventude eterna, mas lá optámos por um chouriço assado, uma jola e uma sangria.
Seguiu-se a espera. Entra mais gente. Uns também queriam integrar-se nesse selecto grupo dos clientes, outros só queriam a casa de banho. Nós já estávamos filiados, a seguir a ela, fui eu.
Sinto sempre qualquer coisa de transcendental quando finalmente consigo exportar o excedente de 4 cervejas; o mundo recomeça a andar mais devagar e até a redução do défice público me parece uma meta razoável. Mas este momento de simbiose espiritual foi bruscamente perturbado por uma reposição da legalidade.
Um tipo pouco condescendente com as regras impostas pelo estabelecimento, optou por uma estratégia de confronto para com a hierarquia da casa, e irrompeu pelos lavabos. A reacção foi pronta e eficaz; munida de uma vontade férrea, a guardiã da regulação da sua economia de mercado, inviabilizou esta OPA hostil e remeteu o indivíduo em causa para fora da bolsa de excedentes. Não consome, não reúne os pressupostos exigidos por lei, deslocalize-se para um qualquer mercado emergente.
De regresso à mesa, tive também eu de rebater uma acusação igualmente mediática: “Se só bebem, têm de vagar a mesa, temos muita clientela hoje.”
Mas eu tinha os estatutos blindados: “Escrevi há pouco num papel que queria um chouriço assado (do qual estou à espera há 15 minutos), acho que os regulamentos nos contemplam o usufruto de mesa”.
Conflito sanado, eis que surge o tal de chouriço, comigo já esganado de fome (não estava mal, e se calhar foi do cansaço, mas ainda agora não me ocorre nenhum factor justificativo para que custasse sete euros e meio).
Tive assim o privilégio de assistir a diversas negociações que envolviam o WC, enquanto dava cabo sete euros e meio de chouriço e de dois pães de 50 cêntimos a peça.
Bandos de cachopas de olhar alucinado e suplicante por quatro paredes e uma sanita encontraram, invariavelmente, a determinação olímpica da nossa anfitriã; se há mesa podem-se sentar e ser clientes (e para isso, minhas caras, não basta beber), caso contrário, cantiga da rua…
Já no fim de festa, à procura do táxi, ainda tropeçámos numa festa um tanto ou quanto bizarra, música e tudo a dançar no meio da rua.
A confusão costuma ser assinalável (e o público diversificado), por isso nunca me atrevi a levar máquina – os meus agradecimentos à “sócia” por alinhar em trazê-la. Renovadas desculpas pela falta de qualidade das imagens; para além de algum mau feitio digital, nestas noites, vários outros factores contribuem para uma certa falta de discernimento na altura do clic…
Lx
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