segunda-feira, abril 30, 2007

Sofrer em antecipação...

Já tenho comentado com amigos que, muitas vezes, a apreciação que fazemos de um filme ou de um disco depende muito da disposição com que estávamos quando o vimos ou ouvimos. Um filme fica mais engraçado se me arranca de uma telha mais profunda, fica menos comovente se o mau feitio está em pico...

Outro factor é a expectativa que consoante a sua dimensão pode distorcer a nossa percepção. O “Scoop” foi considerado um Woody Allen menor, como eu não sei, nem tenho grande vontade de descobrir um que é um Allen maior, a minha expectativa resumia-se às curvas da Scarlett e essa dificilmente seria defraudada.

Bom, o que é facto é que, apesar do final um pouco a martelo, o filme arrancou-me muitas gargalhadas e a personagem do Woody Allen consegui-me desviar a atenção da loura bombástica. Em certa altura diz: “Nasci no seio da fé hebraica, mas eventualmente converti-me ao narcisismo...”.

Eu nasci católico, cresci indiferente, adolesci cristão e acho que também professo o narcisismo, excepto nos dias em que professo o oposto. Viva os Allens menores...

As promessas de tensão sexual suburbana deixavam-me uma grande expectativa em relação a “Little Children”, mais do que as curvas da Jennifer Connelly e, em certa medida, da Kate Winslet, prometiam. Vi-o finalmente a semana passada.

Gostei muito do filme, mas devo confessar que o meu julgamento fica sempre distorcido quando vejo imagens da suburbia americana, especialmente nas redondezas de NY. Um paraíso verde com aquelas casas enormes de madeira com bosques e equipamentos sociais de primeira (ehehe), separado do cinzento mundo do trabalho por um confortável comboio. É um acrescento à minha obsessão escandinava.

O filme rodava, entre outras coisas, à volta de mamãs de classe média que tinham parado de trabalhar para cuidar dos filhos e de um papá que tinha feito o mesmo. Sim, um papá...

A realidade de um Portugal moderno de classe média já suficientemente distante, porque não existe condição económica que permita abdicar do salário que advém do trabalho de um dos membros do casal, para cuidar do(s) filho(s). Mais improvável seria que fosse o pai a assumir a paragem. Estou a fazer uma constatação. Não estou a verter paternalismo machista.

Ouvi em conversa de jantar de grupo uma amiga a referir que ela e o marido já ponderavam se um dos elementos do casal deveria desacelerar a carreira a bem dos filhos. Provavelmente caberia a ela, dizia melancolicamente...eu, o solteiro e sem filhos, meti-me e disse que se fosse comigo e havendo condições eu não me importava de parar e cuidar os pirralhos, para a minha mulher singrar. Os olhares variaram entre o espanto e doçura (femininos) e entre a reprovação e a condescendência (masculinos).

Em teoria a noção é gira, na prática, no meu actual emprego, parar dois anos é sair de um comboio que nunca mais se torna a apanhar. Acarretaria tais consequências de bom grado na suburbia americana ou na Escandinávia. No Portugal moderno...não...

Esperava com grande expectativa o segundo álbum dos Artic Monkeys. Metemos o disco no leitor do Panda do meu mano. Misto de desilusão:
JAF:”É mais do mesmo...”
MDJAF (mano do JAF):”Mas, o mesmo é bom. É sempre bom...”
Pois é. Comprei também o DVD ao vivo dos NIN que sabia não me ia surpreender, pois era próximo do concerto de Lisboa que assisti. Encheu-me as medidas.

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