terça-feira, agosto 29, 2006

Sessões

Faz a coisa certa, como o Spike Lee, dizem eles. Eu, por este, acho que têm razão.Por vezes, bons actores não fazem um bom filme, mas o senhor Lee parece ter acertado na vocação. As personagens parecem todas ter a densidade adequada; serenas, firmes, como se no fundo fossem todos bons amigos e ninguém tivesse nada a perder. Pode não parecer verosímil, mas vê-se muito bem.
Denzel Washington, actor sobre o qual não consigo ter uma opinião estável, voltou a soar-me equilibrado. Tanto gosto muito da sua prestação num filme, como o acho dispensável no seguinte; talvez porque algumas das suas personagens acabem por ter tiques muito semelhantes.
Achei um piadão ao Clive Owen, num papelão do género “Who’s the man?”, mais para o frio e menos para o machão.
E o Spike consegue dar uma luminosidade sempre muito apelativa, umas penumbras muito nítidas. Só por isso, vale a pena. Para mim, porque tenho ideia que a crítica especializada não foi na cantiga (mas se quisessem crítica especializada, em relação ao que quer que fosse, não deveriam estar a ler este blog)


Quanto a "Tsotsi", o comentário é um daqueles mistos. Não é um “não gostei”, e não sei se é um “gostei”.
Anda-me a acontecer com alguma frequência o “enquanto o estive a ver, não me pareceu grande espada mas, à medida que o tempo passa, parece-me que aquilo afinal sempre tinha qualquer coisa”.
Em primeiro lugar, encontro sempre um certo fascínio por filmagens, tão reais quanto o possível, da vida em “bairros de lata”; sejam eles no Brasil, na Somália, em Lisboa, ou, como neste caso, no Soweto (os estrangeiros que me perdoem a associação a Lisboa, não é coisa que se diga a ninguém, escapou-me). E fascínio, atentará assertivamente o leitor, porque não vivo lá, não sinto como elas mordem, de facto.
A história não me prendeu logo de início, demorei a converter-me ao andamento do enredo. Parecia-me algo inverosímil e gratuito. Para o fim já me tocou mais e, à medida que passam os dias após o ter visualizado (como diria o Humberto Coelho), sinto que valeu a pena (manias...).
Já gora, banda sonora à maneira. E étnica.

Apenas mais um comentário, desta feita politiqueiro e pseudo-esquerdalho: creio ter lido algumas vezes que a Academia estava atenta à imagem externa que os filmes “made in USA” estavam a passar para o exterior. Que era recomendável uma certa gestão dos danos - insistir em enredos de violência passados no país das oportunidades não deveria ser valorizado, no que a Óscares diz respeito.
Curiosamente, 2 dos nomeados para melhor filme estrangeiro (ou em língua estrangeira) no último ano eram este, e um outro sobre terroristas palestinianos (“Paradise Now”, que ainda não vi).
Não quero com isto dizer que existe uma campanha de “lavagem de imagem interna”, em oposição a uma “calúnia externa” (até porque isso seria demasiado complexo, inexequível), mas que talvez hajam filmes interessantíssimos sobre a América, que hoje, são mais difíceis de fazer, ou divulgar.
(Por acaso, assim que acabei de escrever isto, lembrei-me do "Syriana", do qual nunca aqui falei, mas que é em inglês, maquiavélico... e também foi nomeado - se calhar, na prática, isto não é bem verdade).
Lx

PS – No seguimento de falar sobre o FM de cada vez que falo sobre filmes (!!!), ontem, a caminho de casa, dei por mim a ou vir Leonard Cohen (de quem nunca gostei) numa música cuja letra achei terapêutica. Toda a gente sabe:

sexta-feira, agosto 25, 2006

A queda de um mito...

Há um mês fiz uma ressonância magnética (RMN) às costas, que para quem não sabe implica estar dentro de um "caixão" apertado sem nos mexermos durante 20 minutos...eu não sou clautrofóbico, mas achei assustador...ia-me passando. Acho que deviam dar um Xanax antes do exame, ou então dois copos de moscatel, ou então meia garrafa de Dão Casa de Santar, ou então umas passas de...adiante...
O resultado foi que afinal não tenho hérnia!!!...recapitulando:
Janeiro 2006 RaioX: é pá você tem aqui um disco comprimido!
Março 2006 TAC: é pá você tem aqui uma hérnia!
Julho 2006 RMN:é pá você afinal não tem hérnia, mas tem aqui um disco comprimido!
Volta de 360º...
Como já estou há 8 meses sem fazer desporto, a usar cinta de sustenção lombar e a fazer dieta porque não posso fazer desporto (e tou aqui, tou a fumar um Camel...), isto tudo com dores crónicas do caraças que não passam, nem com injecções no rabo, nem com fisioterapias, calores húmidos e o camandro, resolvi mudar de um talhante (leia-se ortopedista) para um ourives (leia-se neuro-cirurgião) a ver se me resolve esta m$%&#!!!
Vou de férias uma semana, não tenho net em casa, nada de blogues portanto...xau.

quarta-feira, agosto 23, 2006

A solução (final) – breve ensaio

Eu sei que tenho o hábito de estar sempre a bater na mesma tecla (por exemplo: kkkkkkkkkkkkkkkkkkk), mas após ter vislumbrado um curto excerto de um discurso do Alberto João Jardim, ser-me-ia desumano continuar a resistir à tentação de dar, uma vez mais, o meu excelso contributo para tão elevada discussão – "A Ilha da Madeira, que futuro?"

E não só, não é novidade que o anterior Presidente da República lia este blog, e como tal, mais dia menos dia, o Aníbal também não resistirá a um "loadzinho" (assim que conseguir sair das primeiras páginas do “Expresso”).
No excerto do discurso do Alberto, ouvi qualquer coisa do género “Digam de uma vez por todas se querem ver a ilha da Madeira como parte integrante da República, porque para nós basta destas indecisões”.
Bravo, Alberto! Faça-se o referendo!

O primeiro aspecto a reter é que segundo o Alberto, a Madeira faz (fazia?) parte da República. Isto, à primeira vista não soa nada bem, mas consultando a Constituição, parece que é mesmo assim. De uma forma ou de outra, somos confrontados com a evidência do Alberto ser compatriota dos cubanos, esquerdalhos da comunicação social, homossexuais, cretinos, jacobinos, ingovernáveis, sacripantas, judeus, etç do continente. A isto chama-se progresso; o Alberto, afinal, se grita, se esperneia, se vocifera, é porque é, republicanamente falando, cá dos nossos (às tantas, gosta mesmo de nós).

O segundo, é que temos de dizer se continuamos a querer que a Madeira faça parte da república. Isto, para mim, confesso, também é novidade.
Destinamos parte do Orçamento Geral do Estado à Madeira, subsidiamos a produção da banana, o turismo; como aliás se espera, de acordo com o princípio da subsidiariedade. Ou seja, temos a obrigação, enquanto Estado, de privilegiar as regiões mais carenciadas ou com maior probabilidade de terem carências. Até é por isso que recebemos fundos dos outros países (mais ricos) da União Europeia, para que haja uma convergência das oportunidades, níveis de vida e afins.
Mas eu, ano após ano, ouço o Alberto a queixar-se: isto está tudo mal, esses tipos do continente não sabem nada, e troca o passo.
Entretanto, a Madeira tem um sistema de assistência social, de saúde, extremamente favorável à população (e muito bem); não se contêm em inaugurações, em túneis, em festividades pagas pelo Governo Regional – tudo isto pago pelo: contribuinte da República!
E eu pensei que era ele que queria, não nós. Isto por uma razão muito simples, um tipo aprende que o ser humano é racional, sendo que isto se traduz, no essencial, por querer ter mais, a ter menos (entretanto, dos bancos da faculdade para a vida real, percebemos que a racionalidade é um conceito um bocado mais discutível, mas adiante). E eu, enquanto contribuinte da República, não quero ter menos, quero ter mais (ambiciono ser racional, caramba!). Logo, se paguei à Madeira, não foi propriamente porque eu quis. Ou só porque eu quis. Segundo este pressuposto, quem devia querer eram eles, não eu. E encarava este processo como uma fatalidade, eles “querem” e nós “temos de”.
Mas parece que afinal “não temos de”, desde que a malta diga educadamente: “Obrigado, mas por agora não desejo mais” - tipo rodízio.

O que nos remete para o terceiro ponto fundamental: se ele faz parte da República, nós pagamos e ele insulta, podemos abdicar de pagar e ele de insultar (Alberto dixit), creio ter chegado o momento da maralha do continente, esta cambada de preguiçosos ingovernáveis, se pronunciar devidamente por forma a dizimar este sofrimento que nos assola mutuamente. Dou o meu modesto contributo para a questão a colocar (modesto, não sou jurista e estou sempre limitado na capacidade de complicar suficientemente as perguntas referendárias – dei contudo o meu melhor). É daquelas mutuamente exclusivas, se escolhe uma opção, não pode escolher a outra

- O contribuinte Republicano continua interessado em manter a ilha da Madeira enquanto território Português, sendo que desta forma tem de suportar o custo a ela associado, e tendo presente que se lhes (Madeira) for conferida independência, não vão desaparecer de um dia para o outro, continuam a falar português (ou muito parecido) e precisarão de receitas provenientes do turismo para se manterem economicamente, pelo que até se poderá continuar a passar lá umas férias, embora a preços mais módicos.
(Dê-nos o seu nº de contribuinte ___________________, que mais logo fazemos contas).

- Infelizmente, o contribuinte Republicano, apesar do elevado interesse e apreço que detém pela vida insular, do profundo e secular respeito, estima e consideração pelo património histórico, paisagístico e cultural da Ilha da Madeira; e dado que se manifestaram ao longo de todos estes intermináveis anos, incontornáveis diferenças de perspectiva quanto à gestão de fundos públicos; e que esta terrível opressão sobre os ilhéus o envergonha para lá do suportável; entende, com pesar, chegada a hora de conferir ao povo irmão da Madeira a total e irreversível independência em matéria política, legislativa, orçamental e cultural; pois agora nem para a contabilização da Zona Económica Exclusiva aquilo interessa - qualquer badameco da União Europeia, marroquino, etç, cá pode vir pescar.
(insira a sua morada _________________________________________, por forma a receber a Insígnia Autonómica, a mais alta condecoração conferida pelo Governo Regional da Madeira).
Lx

quinta-feira, agosto 17, 2006

xaropada histórica

Continuo a dar por mim a não estar devidamente calado em relação ao já citado código. Ou seja, continuo a insistir na tese da falta de honestidade intelectual do autor ao não citar devidamente as suas principais fontes, nem em distinguir, no início ou no fim do livro ,até onde foi a ficção por si criada (ou por outros), e o que é historicamente aceitável.
Mesmo quando confrontado com o argumento de que se a história for verdadeira não se podem citar todas as fontes, que um romance histórico tem sempre uma parte de ficção mesclada com a realidade, e que não vale a pena discutir algo relacionado com a fé individual de cada um, ainda por cima relativo há 2000 anos atrás (mais coisa, menos coisa).
Mas, porventura inspirado no finado Adriaanse a jogar com três defesas diante o Inter, continuo com um problema de atitude em relação ao Brown, custa-me a aceitar que aquilo não seja deliberadamente tablóide.

As últimas coisas que tenho lido atiram um bocado para o romance histórico. E alguns, embora possam também ser criticáveis quando à idoneidade, pareceram-me mais credíveis (pouco ou nada têm a ver uns com os outros, mas vamos lá embarcar numa pseudo-crítica literária de opereta – quem de facto lê livros e não está para aturar isto, talvez seja prudente passar ao próximo post).

Uns que já me distraem há algum tempo, são os da colecção sub-rosa de Steven Saylor (Quetzal - aqui o site em estrangeiro, não consegui encontrar nenhum em português), passados na Roma antiga.
Literatura ideal para descansar o neurónio veraneante, mas igualmente útil para dar um bitaite intelectualóide ocasional (do género: “As minhas Cassandras são outras” ou “Ouve lá pá, mas tu sabes a origem da expressão «erro Crasso»?”).
Goste-se ou não, tive sempre a ideia que o autor tem algum cuidado não só a fazer a pesquisa como também a enquadrar as fontes e a explicar até onde puxou a corda da imaginação.
Claro que, por alguém nos Estados Unidos ter escrito uma tese de doutoramento acerca do romance entre a Cleópatra e Júlio César, não implica que a reprodução dos diálogos do senado sejam fidedignos (até porque o Júlio, na altura, gostava que o tratassem pelo primeiro nome, Ditador… talvez se possa ponderar que os registos sobreviventes possam conter alguns enviesamentos).
No meu caso, a coisa é também irracional, simpatizo com a principal personagem à volta do qual tudo gira (e que nunca existiu). O que mais gostei foi o “O enigma de Catilina”, sendo que o piorzinho (talvez porque a fórmula se esgota à vista desarmada) foi o último, “Um gladiador só morre uma vez”. Já agora, sim, é verdade, os romances em causa não são todos heterossexuais - digo isto antecipação ao eventualmente fatal comentário homofóbico…

Outros que achei interessantes (embora mais velhos que as táctica do Fernando Santos durante a pré-época do benfas) são “O rei de ferro” e “A rainha estrangulada” de Maurice Druon (Gótica – novamente site em estrangeiro).
Reportam-se ao ambiente político francês no período imediatamente anterior à guerra dos cem anos, mas, claro está, com uns romances à mistura. Nestes, podem-se ler brevíssimos resumos da vida das principais personagens da altura (realeza, rapaziada do governo, bispalhada, etç); assim como algumas notas históricas referentes a alguns pormenores (um ou outro até me pareceram a despropósito) e uma diferente opinião acerca da perseguição então encetada aos templários.
Obviamente que se pode questionar a veracidade de alguns relatos e das tramas descritas (a história é sempre escrita pelos vencedores): “Então como é que o senhor Druon atesta assim com tanta certeza que a rainha de Inglaterra se deixou tão facilmente influenciar pelo Conde de Valois, quando a descrição dada é de que ambos se encontraram em privado, sozinhos, e que prometeram segredo acerca do pacto estabelecido?”
Ok, também não vou dizer que isto é inatacável...

Num registo ligeiramente diferente, só agora acabei o “Equador” do Miguel Sousa Tavares (Oficina do Livro – não consegui o site em estrangeiro...).
Diferente porque não pretende a descrição de uma história verídica; pretende, isso sim, conferir um retrato fiel da época e de algumas personagens históricas (e contar um romance). Mas lá estão no final as referências que permitirão a alguém (maluquinho desocupado, com certeza) confrontar o que é escrito com os documentos citados.
Já agora que me meti nisto, gostei bastante do livro, mas creio que o enredo tem alguns solavancos, e talvez a escrita do senhor Tavares ainda não esteja totalmente adaptada ao formato romance (isto, vindo de um gajo como eu, que nunca escreveu nada, mas adiante).
Mas surpreendeu-me pela positiva, porque à primeira vista, imaginar que este tripeiro abrutalhado pudesse ter escrito um romance, causava-me alguma perplexidade. Ainda por cima, dado a reconhecida isenção com que o senhor analisa o nosso campeonato de futebol, onde tão frequentemente consegue não tomar partido descaradamente por um clube liderado há uns 30 anos por um cacique demagogo e populista do Norte; a catalogação do romance como “histórico”, deixou-me (antes de o ler) algo apreensivo.

Por último, um inacabado (de ler), que de romance não tem nada. A obra sobre Mao (Bertrand, mais uma estrangeirada) está-me a custar a digerir. A senhora que tão bem (na minha humilde opinião) escreveu “Cisnes selvagens” parece-me ter perdido em demasia a objectividade (às tantas, um tipo acha que o Mao não pode ter sido assim tão mau - a mim, que sempre me fizeram espécie os maoístas portugueses como o “Cherne” ou o Pacheco). Embora, pelo percurso pessoal dela, se perceba que não se poderia esperar uma jura de amor eterno ao facínora.
Se acabar este, não prometo que não volte a massacrar-vos.
Lx

Abatendo o Tamboril...






...em S.Pedro de Moel, entre amigos. Cores a roçar o artificial...

quarta-feira, agosto 09, 2006

"O Velho e o Mar"...

...infestado de tubarões. Ao contrário da história do Hemingway, desta vez perdeu o velho...
O Co Adriaanse era profissional, culto (de futebol e não só) e acima de tudo, tinha espinha. Por isso só é de admirar que tenha durado mais do que uma época no futebol português.
Embora tenha suportado alguns amargos de boca, eu apreciava-lhe o estilo obstinado, imune a escolas de samba e aos delinquentes a soldo...Aqui lhe presto a homenagem.
Este truque de despedir gajos na pré-época já nos deu muitos amargos de boca...grande porra...

Verão, amor em percentagens e graxa...

O verão na Figueira teve segunda oportunidade em Agosto. Gente, demasiada gente. Mas a verdade é que quando dizemos que a cidade está vazia, há um certo desapontamento. No fundo gostamos da invasão...

Se há gente, demasiada gente também há gente bonita, demasiada gente bonita e também há mulheres bonitas, demasiadas mulheres bonitas. Mas penso que no fundo, nunca poderão ser em demasia...É uma festa para os sentidos, corpos bronzeados, muita cor de canela, muita roupa leve. O meu processador de homem solteiro entra em “overclock”. Tenho uma queda para miúdas do pseudo-jé-te-sé-te. Mas à distância, não tenho muita vontade de falar com elas...

E se há gente, demasiada gente também há gente conhecida, demasiada gente conhecida. Há noites em que grande parte da minha famigerada lista se materializa. Não sei se é porque o meu chefe está de férias, se é por andar com quilos a menos, se é por andar mais moreno ou porque de noite está uma temperatura amena e agradável, o facto é que ando mais solto. Distribuo “Olá menina...”’s, “Estás boa?”’s e “tudo bem”’s sorridente e com surpreendente desenvoltura. Congratulo-me com a retribuição geral da simpatia...devo ter muito amor para dar...

A meio do liceu também tinha muito amor para dar. Disse a uma “...sabes que eu gosto de ti, não sabes?” e disse a outra “...é porque gosto de ti, porque mais haveria de ser?”. Não contava que conversassem as duas e as duas me aparecessem no corredor de braços cruzados e olho franzido, qual gémeas falsas. Bem falsas porque uma era alta e cabelos e olhos castanhos e outra baixinha de cabelos claros e olhos azuis, uma era alternativa, a outra nem por isso...
“E então em que é que ficamos?” disse uma e a outra em delay:
” Sim, em que é que ficamos? Não me digas que gostas das duas...”
Eu na altura ainda achava que ia ser cientista (o que me aconteceu entretanto?), de modos que respondi:
“Sim, gosto das duas...talvez 75% de ti e 25% de ti...” apontei timidamente.
A menina dos 75% deu meia volta e sempre de braços cruzados, desapareceu furiosa...ainda tivemos um namorico. A menina dos 25% franziu o sobrolho para além do fisicamente possível e vociferou:
“Eu pensava que tu eras diferente dos outros...” deu meia volta e passou o resto do liceu a retribuir os meus olhares com uma expressão de tu-gostavas-mas-daqui-não-levas-nada-porque-eu-não-deixo.

Curiosamente ouviria aquela frase recorrentemente ao longo da minha vida.

Não aprendi nada e por isso, nesse mesmo ano, resolvi aplicar o mesmo método para outros fins. Disse na aula de Fisica-Química, Matemática e Alemão para cada uma das professoras: “Sabe stôra...huh...só não vou ter cinco na sua disciplina...”
No dia seguinte, ia para o bar comprar a minha pirâmide diária e dou de caras com a tripla:
“Anda cá!!! Com que então só não ias ter cinco na minha disciplina, hein?” vezes três... e vezes três os sobrolhos franzidos. Só consegui esboçar um sorriso comprometido e coçar a cabeça...
Mas na pauta só apareceram cincos. Nessa altura decidi reformar-me da carreira de graxista. Queria terminar em grande forma...

É dificil. A corda é bamba entre a falta de auto-estima e o narcisismo...

terça-feira, agosto 08, 2006

E é assim


Ora finalmente. Depois de algumas películas às quais não sabia muito o que lhes dizer, eis que surge finalmente uma ida ao cinema digna de registo. No que a estes moldes diz respeito, vá lá. E vá se lá saber porquê, mas a reedição da clássica série de bala perdida e rego à mostra dos "eighteis", espevitou-me o bitaite. Um tipo chega ao cinema em pés de lã: conseguirão hoje estes copinhos de leite da era dos piercings igualar os tiques de machão, envoltos em pisadelas na bochecha do traficante, cocktail elaborado a combinar com a fatiota branca enquanto vou ali buscar o meu Ferrari preto; encarnados por malta calejada que verdadeiramente percebia da poda, há 20 anos atrás?
A questão ganhava acrescida pertinência de cada vez que me lembrava do papel que o branco em causa desempenhou no duvidoso "Alexander" do Stone. A personagem histórica inigualável, a quem ninguém regateou o título de "O Grande" (e que Egípcios e Romanos em vão tentaram igualar) ficou associadíssima ao penacho na cabeça passeado ao longo da selva num cavalo branco. Não chocará ninguém imaginar que aqui se exigia um registo diferente.

Bem, já se sabe que não será candidato a Óscares, que não mudará a vida dos líderes de amanhã, que nenhum ministro o citará como o filme da sua vida, mas apeteceu-me vir cá postar o que retive; que (a meu ver) é boa a adaptação da série ao formato de filme, que é também (a meu ver) boa a adaptação do enredo ao novo século; é interessante a parcimónia na utilização dos efeitos especiais (ninguém se limitou a empacotar explosões afinadas em tecnologia digital, para espectador ver), assertivo o equilíbrio no doseamento dos super-poderes dos heróis (é certo que ainda se viu um axandrar a cachopa com uma mão, enquanto que, com a outra, se azimbravam ao nazi sacanolas dois cartunhos por baixo do jipe, naquele cair de pano onde os mauzões lerpam que nem tordos, para que se saiba quem é que a leva direita – houve quem tenha aplaudido na sala, mas pareceu-me exagero, um bom "Chega-lhe!" faz as vezes –; contudo, refrearam-se os devaneios de Kite-surf no capot do carro, em fuga ao tsunami).
Então mas também é brejeiro? Descai numas de tuning à pimba rambito? E a cachopa embarca no "parlapier" assim à inconsciente? Com certeza. Todavia a questão é logo exposta no título: "Miami Vice"; nenhum queixume será pertinente com um enunciado destes. E também estou de férias, eventualmente também poderá ser disso.
Vm
PS – Abusando do tempo de antena, que até tenho estado em silêncio ("E só foi pena não teres continuado", como atestará o leitor - "Mas qual leitor?"); a caminho de casa vinha o Prince no FM no choradinho "Purple rain". Será novamente das férias, ou aquele início tem um perfume de Amália? A confirmar daqui a uns dias.
A foto é uma palermice minha com a webcam.

segunda-feira, agosto 07, 2006

"Raging Workaholic" em apuros...

...e a praia aqui tão perto...
Noutro registo e adaptando a história de Dickens: este fim-de-semana apareceu-me o(a)fantasma de verões passados. Tocou-me ao de leve para ver se ainda me arrepiava. Espero tê-lo(a) enganado...
Ontem vi o "Good Night and Good Luck" do Clooney. Simples, inteligente e com muitos cigarros. Muito bom...