sexta-feira, julho 29, 2005

Alerta Tinto: Não globalizem a Pomada!!!

Já não era para escrever sobre isto esta semana, mas devido à pausa para férias, resolvi ainda meter esta bucha...

Já repararam nas queixas recorrentes de que o nosso vinho não é suficientemente conhecido no estrangeiro? Depois de ver no cinema o documentário franco-americano Mondovino, eu afirmo: ainda bem que assim é!!!

(Pausa: Nota Mental - agora reparei que já vou ver documentários franceses ao cinema...; 2ª Nota Mental - arranjar uma vida urgentemente...)



No filme mostra-se que as pressões do grande mercado americano de vinhos levam a relações menos claras entre grandes produtores e certa crítica especializada omnipotente, mais uma vez americana...os efeitos secundários ou deliberados desta situação, é a standardização e massificação de métodos de produção vinícola, levando a que um vinho produzido na Nova Zelândia já não seja tão diferente de um produzido na Califórnia, Argentina. Sobretudo está-se a criar métodos para indiferenciar os vinhos franceses e italianos, tradicionalmente os mais reputados...a origem passa a ter apenas valor de mercado, ou de rótulo, já que se pretende que as qualidades reais do vinho sejam menos específicas, permitindo grandes aumentos de produção...

O crítico de vinhos mais famoso e respeitado no mundo (americano) juntamente com o melhor enólogo (francês), criaram uma noção de que os melhores vinhos serão aqueles envelhecidos em barricas de carvalho novo, cuja madeira liberta gostos fortes no vinho...isto implica que a importância relativa (para o gosto final do vinho) do terroir onde a vinha foi plantada originalmente seja bastante diminuída...ou seja, plantando o mesmo tipo de vinha em França ou na Austrália, haverá uma probabilidade maior de se obter um vinho com características idênticas...implica também que a empresa de consultoria do tal enólogo francês facture muitos milhões de dólares em 14 países diferentes...implica ainda que os grandes produtores americanos se estão a tornar silent (ou não tão silent) partners, de produtores famosos de vinhos franceses e italianos...

Não tenho nada contra a globalização, no sentido em que é porreiro poder beber um tinto alentejano em Tóquio ou no Congo Brazzaville...sou contra a globalização se nessa tal garrafa de tinto alentejano, o rótulo anunciar: Portuguese Wine, Produced and Bottled in Chile... e se a mesma garrafa contiver uma zurrapa diluída e asséptica...

Quanto ao filme em si, gostei de constatar que foi filmado com uma handycam normalíssima e que o tipo que estava a filmar ainda treme mais das mãos do que eu...era hilariante um pormenor: quando aparecia algum cão, o sujeito entrevistado podia estar falar do assunto mais importante e interessante do mundo, o plano mudava sempre para filmar o que o cão estava a fazer...O documentário não tinha narrador, o que, a meu ver, é uma vantagem em relação aos filmes do Michael Moore, por exemplo...no caso do Mondovino, o realizador deixa os juízos de valor para o espectador...é claro que a montagem do filme não é inocente ou desprendida, mas é decididamente muito menos sectária, pelo menos abertamente...

Quanto à minha relação que o vinho, havia de levar uma volta...porque ando a ver que um tipo, a chegar aos trinta, que queira fazer alguma coisa da vida, tem de perceber de vinhos, ir à Feira da Golegã e deixar crescer umas suíças marialvas...ou então não vai a lado nenhum e fica para tio...já aqui dizia no trabalho noutro dia um protótipo desse arquétipo acima descrito:
“-Visita em minha casa até só pode ter para comer uma tosta mista*, mas não sai de lá sem beber um bom vinho!!!”
*Nota do autor: a Tosta Mista Marialva consiste de Pão Saloio Alentejano (feito no Algarve), Presunto Pata Negra e Queijo da Serra...não se compadece com pão bimbo sem côdea, mortadelas e queijo em barra fatiado...

Vai ser difícil, porque a minha frequência universitária inibe-me de voltar a beber vinho branco maduro...quanto aos verdes (brancos ou tintos) até gosto, fresquinhos...tintos maduros só sei distinguir veneno “da casa” com sabor a 605 Forte de algo a que se possa realmente chamar vinho, de resto não consigo distinguir grande coisa...a mim não me apanham a dizer:
“...com vinhos a menos de 10€, nem me digno a provar...”


Isto reveste-se de especial gravidade, porque não posso fumar charutos, porque tenho medo de voltar a fumar cigarros e por outro lado abomino whisky...logo significa que: não percebendo de vinhos, queijos, presuntos, charutos ou whisky, não tenho aptidões sociais adultas de qualquer espécie, que me permitam singrar...resta-me aprender um desporto apaneleirado tipo golfe...ou comprar um cavalo e aprender a caçar perdizes...


Bom filme sobre vinho americano e inadaptados sociais é o Sideways, por acaso até me vi ao espelho, 15 anos mais velho, mas houve um final feliz...afinal há esperança no fundo da garrafa...e no site do filme até tem estes cartoons fixes e ensinamentos úteis...

O fim dos dias de ganhador...

Pouca pachorra para chatices no trabalho, inaugurações de pontes construídas há mais de 20 anos que me fazem chegar atrasado, o Summer Camp da JS europeia a 200m de minha casa, um torcicolo...enfim começam a ser chatices a mais para um só homem...ou para um homem só...

Estas férias (como todas), que começam amanhã, já pecam por tardias...Tenho de me por na alheta e é já! Parafraseando livremente uma banda de hip-hop figueirense já extinta, os Putos do Bairro, assobio:

“Não há remédio,
Ou injecção ke ma’ cure:
A única solução,
É uma eslava ke m’ature!!!”


Por isso, vou 15 dias em exploração das terras croatas com o comparsa de blog (o fisterra vai fazer o pleno), em missão, para cumprir o desígnio acima enunciado...e ver se aguento ainda duas semanas de mochila às costas ou se a sedentarização da minha vida já será demasiado grave...

Porquê a Croácia? É um lindo país, com lindas eslavas e...é considerado o destino nº1 para a Lonely Planet, o que significa enxames de jovens americanas sedentas de novas experiências no Velho Mundo...eu, pela minha parte, contribuirei com tudo o que for preciso...


Hoje o dia acabou por não acabar mal, entre uma feira de discos novos e usados junto à praia e um daqueles cestos de Cds a 5€ do hipermercado mais próximo, empazinei mais 4 títulos novos...um dos quais tem esta pérola, candidata a “Melancolia de Verão 2005”:

The winning days are gone,
because I know just where I’m seeing.
Was given eyes I know
I can hear.
‘cause underneath there’s gold.
I need to get around to find it.
And when I want to go,
I can dream.
I’ve been tryin’.”


The Vines, Winning Days

quinta-feira, julho 28, 2005

As filas

Como qualquer outro, abomino ficar à espera. Por vezes, isso basta para que embarque num evitável desfile de maus sentimentos. Até aqui tudo normal. A anormalidade, creio, surge quando a espera, a “seca”, se pode tornar interessante.
Como qualquer outro, tenho de repartir o meu dia em tarefas mais ou menos atraentes, mais ou menos úteis, sobrando-me pouco para pensar no que quer que seja.
Ontem, depois de 2 horas de viagem tive de esperar mais 2 até ser atendido. Não é propriamente simpático, sobretudo quando isso implica uma saída precoce do local de trabalho, devidamente autorizada pelo patronato, e a pequena diversão que são as nossas auto-estradas repletas de radares multantes.
Hoje, naquela ponte onde não julgaria ter problemas, nova espera, entre tráfego e obras, estancado no centro do tabuleiro.
A primeira resolveu-se com dois expedientes de manifesta (e manifestante) utilidade. Este Senhor, num dos seus pequenos textos, conseguiu-me fazer sorrir; dei por mim a recordar pequenos prazeres da vida. E desde aí que, como qualquer outro, me apetece falar muito nas minhas férias e porque é que as vou fazer. Ainda não, talvez amanhã (por hoje estão safos). Não evito apenas acrescentar o seguinte, por vezes tenho saudades da nicotina, da “acessibilidade” às noites perdidas, de contemplar (“porque a vida não acaba hoje”). Munido que estava do anti-depressivo portátil, daqueles com auscultadores, ouvi pela enésima vez esta grande malha. E recordei-me de 4 de Abril de 2004 (com crónica a 5); uma versão memorável de voz, viola e teclas. Um prodigioso solo de teclas.
Como qualquer outro, caio em lugares comuns de fala e escrita: a minha cidade é que é a aldeia do Asterix, a rainha das praias, o berço de sereias, o fim da terra (fisterra), o centro do universo, a Veneza do Corto Maltese, a Roma do Gordiano, a Flint do Michael Moore. Dentro do carro, preso no transito, o nascer do sol não me pareceu nada feio. E foi o segundo enésimo deste post que não me caiu a mais.
Lx

segunda-feira, julho 25, 2005

Sonhar é fixe: O Bochechas também tem “writer’s block”!!!

Confesso que já em pouco consigo pensar para além das férias que começam daqui a cerca de 96 horas...

O meu ritmo intenso de trabalho da semana passada em que a minha fábrica esteve parada, trouxe-me um ligeiro torpor e uma certa inibição de escrita aqui para o tasco...as fábricas são assim, quando se pára é quando se trabalha mais e o stress é maior...é um pouco como os mecânicos da F1 que têm os picos de trabalho quando o carro vai às boxes...

E o que foi que me tirou deste “writer’s block”?...bem, primeiro devo esclarecer que não sou um escritor, o inglesismo anterior destina-se a dar pinta ao texto...bom, onde é que eu ia...pois...o que me desbloqueou foi ouvir, ao acordar no domingo à uma da tarde, que o candidato da esquerda às presidenciais, vulgo carnum per canhonis est, é nada mais nada menos que o octogenário Mário Soares!!!

Primeiro ainda pensei que era mais um efeito secundário do excesso de bebida da noite de sábado que me deixou meio azamboado...mas, depois vi que era mesmo verdade...comecei a matutar nas razões que possam ter levado a esta situação, aqui vão algumas hipóteses:

a) Como o governo é do PS e agora há na Administração Pública tachos mais bem pagos do que ser P.R., os homens de esquerda em idade de trabalhar, não estão aqui para perder guito...

b) O José Sócrates acordou molhado ao sonhar com o poeta presidente Manuel Alegre, a discursar, na tão querida do nosso 1º. M. Washington D.C., em pleno Capitólio, exclamando:
”-... because nobody, nobody in here, tells me to shut up, OK?”...

c) Soares pensou que o candidato da extrema-esquerda, fundador do CDS, o Freitas, ia mesmo avançar...e viu a hipótese de reeditar o duelo de 86, apaziguando a sua dolorosa nostalgia de ouvir a juventude a gritar: “- Soares é fixe!!!”...

d) O Prof. Cavaco Silva é o papão...

e) Mário Soares também tem “writer’s block”...

Esta última, penso que seja a mais plausível, já que é sabido que o Soares queria iniciar uma carreira literária aquando do fim da sua carreira política. Mas averiguemos as suas chances como romancista, buscando inspiração:

1) Na sua vida amorosa: Casou com a castíssima Maria Barroso, logo nada de interessante daí virá...
2) Na vida amorosa do filho João: essa sim mais conturbada, mas convém não lhe estragar as hipóteses em Sintra...
3) Na sua luta anti-fascista: não se lhe reconhecem o atleticismo e jeito para o ciclismo evidenciado por Cunhal no romance “Até sempre Camadaradas!”, nem tão pouco usufruiu das sexys camaradas clandestinas ao serviço do Partido Comunista...

A única hipótese será escrever um livro de grande acção sobre os meandros da política internacional, talvez inspirado na história verídica da adesão de Portugal à CEE, para depois o Sydney Pollack adaptar ao cinema...aliás como só ele sabe fazer...para o papel de Bochechas proponho o Walter Mathau, mas acho que já bateu a bota...ou então o Bud Spencer, o saudoso Trinita, com lentes de contacto, que esse sim está vivo, porque ainda agora participou numa xaropada sobre piratas chineses do séc. XVIII falada em italiano que vi noutro dia no CAE...

Como vêem, o patriarca da esquerda já deve estar farto de olhar para a máquina de escrever, sem que os seus dedos se mexam, por isso, ou contrata uma estenógrafa jeitosa que o inspire...ou vai ter de continuar na política...a qualquer custo...


auto-flagelação

"NUMA semana em que se demitiu o ministro das Finanças, apetece recordar que Portugal tem excelentes economistas, que a nação ouve há trinta anos com silenciosa reverência.
Não falando do ministro que acaba de sair, é impossível ignorar João Salgueiro.
Ou Silva Lopes.
Ou Vítor Constâncio.
Ou Medina Carreira.
Ou Ernâni Lopes.
O que eles dizem ninguém contesta.
Fazem previsões - que raramente coincidem com o que vem depois a acontecer -, mas isso não diminui a sua competência nem a sua capacidade de análise.
O país discute os políticos, critica-os severamente, ridiculariza-os mesmo - mas não discute o que dizem os economistas.
Ouve-os com o temor reverencial com que o doente escuta o médico cirurgião.
O PROBLEMA é que todos já foram ministros das Finanças - e a situação do país tem ido sempre de mal a pior.
Os portugueses continuam a acreditar nas receitas de Constâncio, Medina Carreira e Ernâni Lopes, mas é inevitável perguntar: se eles têm razão, por que é que, quando foram ministros, não aplicaram as medidas certas?
Por que motivo não viram o plano inclinado em que o país deslizava, dando o grito de alerta que permitisse inverter a situação?
Salgueiro, Ernâni ou Silva Lopes terão hoje carradas de razão nos diagnósticos que fazem e nas terapias que recomendam.
Mas por que não conseguiram aplicá-las quando estavam no Governo, por forma a não cairmos no buraco em que estamos metidos?
PORTUGAL é um dos países onde deve haver mais respeito pelo economistas.
Ninguém os confronta - e eles também não se confrontam uns aos outros, numa atitude de defesa da classe que é, aliás, compreensível.
Por tudo isso, dir-se-ia que Portugal é um dos países do mundo que dispõe de melhores e mais capazes economistas.
Como se compreende, então, que o país esteja como está?
Que estranho mistério é este o de um país com tão bons especialistas económicos e que apresenta constantemente, na área económica, resultados tão maus?"

domingo, julho 24, 2005

Caiu ao chão

Uma das minhas habilidades recorrentes é partir as capas dos CD’s de que mais gosto. Alguns caminham já para a quarta caixa.
Estes “homicídios” ocorrem sempre de forma escusada e esta foi a última vítima. Vá lá que sempre serviu de desculpa para o voltar a ouvir. E de me perguntar porque é que não ouço mais vezes o que realmente gosto.

Aproveitando o balanço da veia saudosista, aqui estão uns tipos que tenho pena de terem desaparecido. Sem anúncio formal, sem site oficial na net, sem os ter visto ao vivo.
Lembro-me de terem vindo a Portugal, andava eu no 10º ou 11º. Foi no coliseu de Lisboa e li na altura a crítica do Blitz. Elogiaram a música, a luz, o som. Eu, que não costumo (em rigor, costumava, há muito que não leio) gostar das críticas destes tipos (prosa sempre muito sabichona e pretensiosa). Nunca os consegui ver e, desde aí, não paro de procurar um CD pirata de um concerto deles (que teve direito a artigo de opinião do “Expresso”). Só ainda consegui arranjar uma música com qualidade sofrível.
Provavelmente a música deles parou no tempo, mas a mim também já me apeteceu ter ficado nos 17.
Uma das coisas que mais lhes aprecio é a forma aparentemente desconexa como a letra e a música se combinam. Ao ler apenas as letras, não parece existir sequência lógica. E voz da Harriet…
A band
a que eu gostava de ter tido. Pudesse eu escrever este post da mesma forma como eles faziam música.
Picture myself as a thin white child
Back to the day I was born
They slapped me into line as it crossed my mind
I’ve felt better
I’ve felt worse
Lx

sexta-feira, julho 22, 2005

Talvez seja melhor eu não passar por Inglaterra nos próximos dias...

Imagens das câmaras de vigilância londrinas divulgadas hoje pela Scotland Yard que mostram quatro homens procurados pela polícia suspeitos de estarem envolvidos nas tentativas de ataques suicidas de ontem na capital britânica. Foto: AP/Polícia Metropolitana de Londres

quinta-feira, julho 21, 2005

“Não está jogando com’é gosto”

E se de repente “sobra terreno” (se “faltam pernas”), isso será, com certeza, “final d’época”.
É verdade, um dos momentos de felicidade que cada semana (ou quase) me reserva está relacionado com a incomparável prática do “desporto-rei”. Num pavilhão a cinco minutos da minha incompetência diária são realizados, às quintas, verdadeiros épicos de pé em riste, com direito a (des)organização técnico-táctica, tabelinhas que culminam com o isolamento do jogador “na cara do golo”, dissertações não de um, mas de vários “misters”, antes, durante e depois do jogo e cargas de ombro repletas de dinâmica, porque a bola é redonda e à meia-volta o remate sai cruzado.
Ora, nestas soirées existem convivas para todos os gostos: desde a juventude à veterania, do tecnicismo ao poder de choque, dos virtuosos aos limitados, dos inexcedíveis aos calões.
Acontece que, na semana passada, levei (ou melhor, a equipa em que joguei levou) uma verdadeira abada. Um “tareão”. E pensam vocês, “este está armado em vítima lá porque falhou umas bolas”. Ao que eu respondo “1-7”.
Mas a desgraça não se ficou por aqui. Na habitual “conferência de imprensa conjunta onde se disseca o resultado” (balneário) – que já deu origem à tese do “se ficou 6-5 e a equipa de seis jogadores é que marcou 6 golos, então foi empate per capita” – os comentários à minha prestação individual foram desde “pálida sombra de outros jogos” (imaginem, eu, pálido!) ao “não estava claramente nos seus dias”; com direito até à passagem pelo dilacerante “há jogos assim...”.
Ainda mais péssimo foi que dois dos indivíduos responsáveis pelo rescaldo são um que nunca o vi defender (“eu agora jogo à frente, está bem?”) e outro que não consegue fazer um passe de metro e meio sem ser “de bico” (“é pá, desculpe lá, às vezes pego mal na bola”).
Espero que seja apenas mais uma manifestação do final da época, mais uma boa desculpa para pensar “se calhar, já ia de férias”. Pelo sim pelo não (se a entidade patronal não invocar trabalho específico no “ginásio”...), hoje só me resta recorrer a uma atitude “à Mourinho”, “use the force”!
Lx

PS – o título provém do saudoso comentário deste senhor a um jogador que então orientava

Desafinado

É sempre delicado falar sobre o que é o povo. O que o povo sente, o que o povo percebe, o que o eleitorado pretende, o que mobiliza a sociedade civil. No entanto, arrisco-me a afirmar que, mais que nunca, o comum dos cidadãos (eu incluído) sente que as finanças públicas condicionam fortemente as políticas de um governo (e como tal o meu dia a dia); percebe que um país pobre não deve ziguezaguear na sua estratégia de investimento público; pretende políticos esclarecidos e determinados (ainda que suficientemente inteligentes para duvidar) à frente dos destinos da nação; não se mobiliza muito facilmente, ou seja, convém que não brinquem com assuntos sérios se pretendem a sua colaboração (vulgo sacrifício).
Posto isto, hoje algo não bate certo. Hoje percebe-se que alguém se enganou. Demitir um ministro não é invulgar e muitas vezes é apenas a tradução da lei da vida numa estrutura orgânica – faz parte, é necessário, pode ser inevitável, pode ser vital. Mas demitir um ministro das Finanças de um governo suportado por uma maioria absoluta, que sucede a um período de instabilidade política, após pouco mais de 100 dias da sua tomada de posse e numa altura em que este ministério necessita de um político forte que tenha a coragem de tomar medidas impopulares não é um acontecimento trivial. O cansaço e as razões pessoais que me desculpem.

Lx

PS – O título; a foto, como de costume, não é minha...("TSF")

quarta-feira, julho 13, 2005

“Muito bem!”

“O Sr. Ministro da Segurança Social e do Trabalho: - Sr. Presidente, vou procurar ser breve na resposta aos Srs. Deputados que tiveram a amabilidade de me colocar algumas questões.Permita-me no entanto, Sr. Presidente, antes de tudo, dizer que "palhaçada" não é uma expressão parlamentar,…
O Sr. Guilherme Silva (PSD): - Muito bem!
O Orador: - … mas é uma atitude para lamentar.
O Sr. Honório Novo (PCP): - E levantar-se para agradecer?!…
O Orador: - Não, eu levantei-me ligeiramente, porque tenho liberdade de movimentos, ao contrário de vós.
O Sr. Honório Novo (PCP): - Mas também não é uma atitude parlamentar.”

Finalmente a Internet ao serviço dos cidadãos.
Uma das coisas que mais aprecio no “tuga” é o “bitaite”. Há os profissionais, malta calejada que tem sempre a deixa certeira pronta, e os meros aprendizes (eu, pessoalmente, acho que sou sobretudo um simples aficionado, um observador; para quem um bom “chega-lhe!” se adapta facilmente à grande maioria das situações).
Há vários sítios e gurus que frequentemente tenho o privilégio de observar. Destaco apenas o estádio de Alvalade (onde tenho enriquecido significativamente o meu léxico) e um dos contínuos do edifício onde trabalho (Homem de certa idade, respeitável, de família e porta-chaves do Benfica; de quem já ouvi duas frases que me marcaram: “parece que esse Mário Soares até p#&/£!%o é!”; e um sentido “os lagartos lerpavam já hoje na UEFA qu’é p’r’amocharem”).
Mas nisto não há nada como os verdadeiros profissionais. Soube há momentos que a versão online da Assembleia da República disponibiliza as transcrições das sessões parlamentares. Pensava eu que apenas iria encontrar os discursos proferidos por cada interveniente. Mas não, está tudo. O “muito bem”, o “chega-lhe”, o “é o estilo cassete”, o “é de homem!”. E as discussões, por vezes metafísicas, como a transcrita no início deste post.
Infelizmente, não tive ainda tempo para desencantar as pérolas que a nossa democracia gerou, mas dado que é possível pesquisar por palavra, expressão e autor; presumo que acabei de acrescentar mais um item à minha rotina diária. Apenas uma primeira impressão, esta rapaziada nova que por lá anda agora são uns meninos. Pelo que já consegui constatar, ali no início (até ’85 vá lá) é que se faziam debates à homem.
Lx

PS- foto gamada à bruta na Web.

Eu queria largar o meu preconceito...

...em relação a certo cinema português, mas ainda não foi desta...

Embora encare as sessões de cinema ao domingo no CAE com total abertura de espírito, há filmes que eu de facto não compreendo, ou a interpretação que faço não me deixa retirar qualquer gosto pelo seu visionamento...atiro a toalha...

O "Adriana" é um desses filmes, faz-me pensar que o cliché de se afirmar que o cinema português é na sua maioria inacessível e pseudo-intelectualóide, tem de facto alguma justeza...mas, nem é bem isso que se passa neste filme, porque essas intenções ficam a meio...tanto as subtilezas artísticas de imagem, como as veladas críticas socio-políticas, religiosas ou culturais, são inseridas a martelo e desconexamente...

Por outro lado, eu não vejo no elenco actores de cinema, todos tratam as cenas como se estivessem num palco de teatro imaginário, o que lhes dá uma sensação de estranheza, uma sensação de não pertencerem aos locais onde ocorre a acção...cria-se um paradigma: de tanto "over-acting", tornam-se inexpressivos...perdoem-me a franqueza, mas as personagens mais honestas acabam por ser os mamilos omnipresentes da personagem principal e um papagaio chamado "Lola"...

Tenho pena que no retrato do "país real" que se pretendeu fazer, tenha-se sempre de incluir maioritariamente a Lisboa dos cabarets, dos travestis, dos gigolos, do fado...por mais fascinante que seja essa boémia, não é esse o cenário, com mais probabilidade de nos confrontar, quando aterramos perdidos em Portugal...

Resumindo, nem o filme é suficientemente caricatural, nem é sério na sua apreciação da realidade...esta incoerência mal gerida desiludiu-me...

Ocorre-me que tinha o mesmo preconceito com certo cinema europeu ou com o cinema francês, mas os filmes franceses que tenho visto, especialmente os que têm uma acção contemporânea, têm-me surpreendido pelo seu realismo que chega a níveis que o cinema americano (ou de Hollywood) normalmente não atinge. As personagens parecem gente de carne e osso como nós, o que nos dá a oportunidade de parar o tempo e observar a nossa vida de fora... permite e identificar e analisar as pequenas comédias e tragédias de que a nossa vida é composta...

O filme português mais visto o ano passado foi o "Sorte Nula", unanimemente considerado péssimo pela crítica, crítica essa que foi prontamente apelidada pelo realizador de “snob”, ”elitista”, ”pedante”, etc... ora, eu não sou crítico e muito menos tenho aquelas características e também achei que o filme não valia a ponta de um chavo...mesmo considerando a cena do strip da Carla Matadinho “y su compañera” pseudo-lésbica anónima...mesmo gostando muito de filmes de entretenimento puro, que eu chamo de “filmes pipoca”, o “Sorte Nula” nem isso fez, entreter-me...e o facto do Bruno Nogueira e o Unas participarem em tal coisa sem graça, deixa-me preocupado...mas quando a banda sonora é dos Xutos, pressente-se a desgraça... se bem que eu gostei do “Tentação”, que também tinha os Xutos...

Serve isto tudo para lembrar que somos nós todos que pagamos estes filmes por via de subsídios do estado...assim deve continuar a ser por uns tempos, porque a indústria ainda é débil, mas...é melhor ir vendo os filmes portugueses para observar como se gasta o nosso dinheiro e reclamar um pouco quando notamos que cinema é feito só para alguns, quer seja para elites culturais, quer seja para grunhos inconscientes, e não para todos...


Ps: Para que não restem dúvidas e não achem que eu sou parcial, aqui está a nota de intenções da realizadora para o filme "Adriana":

"Uma ilha mítica no arquipélago dos Açores corre o risco de desaparecer por falta de população. Adriana, filha do mais abastado patriarca, é enviada ao Continente com a missão de "constituir família por métodos naturais". Eis a situação.
O objectivo consignado a Adriana em breve se transforma num pesadelo equívoco: verdadeiro road-movie, odisseia sexual e photomaton do Portugal de hoje com as suas múltiplas vozes, cores, pronúncias, cantos, classes e trabalhos. Como continuam e não continuam os homens e as mulheres, as suas felizes e infelizes contradições, no "desconcerto do mundo".

A viagem de Adriana é um percurso pela orla atlântica dos Açores até ao Norte de Portugal; tapeçaria que deverá reflectir personagens a um tempo divertidas e actuais e fazê-las revelar-se em situações de comédia.
Adriana é uma comédia; uma feérie com os seus alçapões, um tom por vezes trágico e lírico, nada incompatível com o género. A afinação, a ironia, o ritmo são a difícil arte da comédia. O tom, o tempo justo. Nada a mais, nada a menos. A realidade, mesmo grotesca, ultrapassa a ficção.
Fazer sorrir, rir (há algo de melhor?) e não cair na caricatura, no traço grosso, na pornografia. Quis que Adriana fosse um exercício de ironia, benevolente mas por vezes cruel sobre o Portugal de hoje, com as suas muitas e variadas vozes. "É tudo falso, mas falso do melhor que há", diz a falsária que se faz passar por Adriana.

Simular uma idealização do país e lançar sobre ele um olhar claro. Neste filme há sempre alguém que se substitui a outrem. O que é verdadeiro e o que é falso? Não há julgamento. A única prova é o corpo (maravilhoso) dos actores. Prova da "grande ilusão" que é o cinema (e a vida).
Margarida Gil"
Quanto a mim falhou...

terça-feira, julho 12, 2005

Sinceramente...Parte II: A Caixa.

Se bem se lembram, um dos posts mais polémicos foi este, servirá o abaixo descrito para suportar as minhas queixas?

8:24 - Porta em frente à Caixa. População:
- 11 (onze) Idosos
- 3 (três) Adultos+1 (um) Puto Rabugento
-1 (um) Eu.

8:26 - Idosa exclma "Apre!...que isto nunca mais abre..."

8:29 - Abertura dos balcões.

8:32 - Idoso encrava actualizador de cadernetas.

8:37 - Sou atendido por causa de um problema com o cartão de crédito.

8:40 - Saio do banco sem o problema resolvido, reparando num "mosh" junto ao actualizador de cadernetas entre 3 idosos e o gerente do banco, que exclamava "- Um de cada vez, por favor!!!"... e resguardo-me de uma possível bengala voadora tresmalhada.

9:01 - Pico no absentímetro a escassos dois minutos do limite...

Após telefonemas aos serviços centrais e de novo à dependência bancária da minha conta, descubro que, devido à cara-de-pau e incompetência generalizada dos funcionários, não há ninguém que me possa resolver o problema...um funcionário chega-me a dizer:
"- O melhor que o senhor tinha a fazer era desconfiar dos prazos que lhe prometemos, e defender-se, anulando o cartão antecipadamente..."
o que traduzido dá: "nós somos incompetentes e por isso nunca confie nas informações que lhe dermos".

Na carta que anunciava a substituição do maldito cartão dizia para, em caso de dúvida, telefonar para o 808 blá blá...a voz feminina que me atendeu perguntou-me porque é que eu liguei para aquele número para me resolverem um problema, ali só se davam informações gerais, ou seja: Palha!!!

Depois venham-me os sindicatos bancários falar em aumentos salariais e fundos de pensões especiais...e tal...

As minhas Cassandras

Não sei muito bem precisar quem, mas houve um comentador que recentemente reintroduziu a expressão “essas Cassandras que para aí andam”, sound-byte prontamente propagado por uma data de outros colunistas.
Confesso que fiquei impregnado pela expressão. Aos poucos apercebi-me que ela se deixou, latejante, preguiçosamente latejante, instalada na minha parca memória.
Lembro-me de algumas razões para que tal suceda. Por um lado, guardo uma pequena ideia da história da mitológica Cassandra, creio que de origem Grega. Qualquer coisa como uma bela mulher que a partir de um certo dia transportou uma característica que se revelou uma maldição: a de conseguir prever o futuro. Maldição porque, apesar de o prever, não só ninguém nele acreditava, como tão pouco tinha o poder de o alterar (nomeadamente a hora da sua morte).
A outra Cassandra que conheço vem de um livro que li há uns tempos. Um enredo levezinho passado na Roma antiga, na qual uma personagem (mais uma vez uma bela mulher) vagueava pelas ruas, sendo ocasionalmente assolada por supostas convulsões através das quais expunha hipotéticas profecias. Esta última não se chamava Cassandra, mas era por esse nome que a tratavam, devido às similitudes para com a Cassandra original. O mais marcante desta personagem foi, para mim, a mescla entre a aura angelical e a faceta de vilã; entre a proximidade com as esferas do poder e o desprezo que a populaça Romana lhe nutria; a beleza que lhe foi conferida pelo autor e as vestes sujas, esfarrapadas, com que a ornamentou. O desequilíbrio e a sensatez, a serenidade e a convulsão são conceitos demasiado díspares para que alguém lhes consiga resistir quando personificados em conjunto, principalmente para o “anti-herói” à volta do qual a colecção se desenrola, que inadvertidamente cede perante os encantos desta aglutinadora de emoções.
O que me diverte é que (como se pode depreender deste post) a minha iliteracia associa muito mais o nome “Cassandra” à “segunda” aqui descrita (a “herege”, a “profana”, a espia) do que à “original” (a “mitológica”), o que desvirtua muitas vezes a forma com que encaro a mensagem dos tais colunistas.
Lx

segunda-feira, julho 11, 2005

OK Computer

Finalmente ressuscitou. Não foi à primeira mas à terceira, já comigo a recitar vernáculo em cada mudança de direcção. Não está perfeito, mas a parte das afinações dá sempre um certo gozo. Acabou-se um filão de desculpas para atrasos, impasses e desarrumações. E o jeito que elas me deram…
Lx

sexta-feira, julho 08, 2005

pois, pois, e eu cá sou do Benfica...


O Governo Regional da Madeira considera que houve "interpretações abusivas" e "descontextualizadas" das declarações do seu presidente, Alberto João Jardim, sobre os imigrantes chineses, garantindo que na região prevalece o espírito de "respeito e tolerância por todos".
Público
Lx
PS - imagem "aligeirada" a Asterix

No melhor pano cai a nódoa...

"Tenho conhecimento que [Alberto João Jardim] mandou uma pessoa à feira de Cantão para comprar coisas e poder ganhar as eleições." A revelação foi feita ontem, por Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal (LCP), que acompanhou uma delegação dos TSD numa visita em Vila do Conde, onde existe uma numerosa comunidade de comerciantes da China."
Público

quarta-feira, julho 06, 2005

"Beoua, Tiague, Beoua!!!"

..esta foi a minha tentativa de imitar o Alberto João Jardim (AJJ) a incentivar o rapazola do Tiago Monteiro, pois ele está na linha da frente para demonstrar a superioridade da raça portuguesa sobre os "monhés", passe a expressão...

Como aliás, demonstra a foto abaixo tirada em Monte Carlo, onde na luta dos Jordans de cor "amarelo-banana-da-madeira", oTiago passa o pobre Narain Karthikeyan, piloto indiano que, ao contrário que muitos portugueses pensam, tem tão bom currículo Pré-F1 como o nosso Tuga...

O Tiago anda a voar baixinho e a ganhar o que pode ganhar com aquele calhambeque e isso é o que interessa...

O AJJ devia-se lembrar que o Tiago é filho de emigrantes em França, e que, se os franceses e suíços "não os quisessem por lá...", não seriam possíveis estas fotos...Quanto às palermices do palhaço, eu por mim, dava independência à Madeira experimentalmente por um ano. Independência económica, porque independência política já a deve ter, devido à impunidade política do seu grande líder...a Madeira parece um adolescente mal agradecido, malcriado e estúpido a quem os pais ricos continuam a fechar os olhos, dando uma grande mesada...só que Portugal não é um país rico...

Se calhar é melhor o AJJ mandar recolher à base todos os emigrantes madeirenses, por exemplo na África do Sul, porque também "não os querem lá..." e prescindir do dinheiro que eles enviam para a Madeira fruto do seu trabalho...já agora ponha esses mesmos madeirenses a trabalhar sem contrato e segurança social nas obras dos inúmeros empreendimentos turísticos que surgem como praga em Porto Santo, assim também se livrava dos imigrantes de leste, brasileiros, africanos, etc...seria uma medida popular sem dúvida!

Os lacaios rastejantes do grupo parlamentar do PSD-Madeira, que já tinham defendido uma moção de apoio à firmeza do AJJ aquando do episódio "bastardos", debitavam hoje na telefonia que as declarações de AJJ foram descontextualizadas e interpretadas abusivamente (!!!)...diante de tanto descaramento, eu repito: dêem-lhes a indepêndencia, já!!!

Os principais patrocinadores da Jordan, para além da Galp energia, Governo Português e uma empresa de vitaminas de performance sexual (não necessariamente por esta ordem), são a TATA e a Benson&Hedges, que muita nostalgia me trazem a uma viagem a Moçambique em 99.

Era TATA, o minibus que me levou numa viagem de milhares de quilómetros ao norte de Moçambique, largando peças por tudo quanto era lado e à estonteante velocidade de 70km/h, quer na estrada nacional, quer na ocasional picada mato adentro...

Eram Benson&Hedges mild, os cigarros que eu regateava aos vendedores de rua de Maputo e eram bem bons, dos melhores que fumei nos meus dias de fumador, que entretanto já acabaram...é curioso que nos países onde é proíbida a publicidade ao tabaco, eles tapem algumas letras e só se leia nas asas do Jordan "Benson&Hedges"...permitam-me completar:

"be on edge, of lung cancer!!!" ou "be on edge, of a heart attack!!!"

Para terminar, já que o post já vai demasiado longo, não resisto a contar um episódio da tal viagem ao norte de Moçambique: uma noite a TATA resolveu avariar no meio do nada, a quilómetros de nenhures, no meio do mato...eu e uns colegas deitámo-nos na estrada para aproveitar o calor do alcatrão e começámos a observar em silêncio o céu estrelado do hemisfério sul, que era uma novidade para alguns de nós...o silêncio foi interrompido quando um de nós disse:

"Isto é mesmo outro mundo, pá..."- ao que outro respondeu:

"Pois é! É o 3º..."

Quando o AJJ fala, eu lembro-me desta estória...

Irracional fora de época


Ora então cá estamos. No defeso, mas nem por isso menos irracionais.
Começando pelo princípio (bravo!) fica aqui uma breve referência ao último jogo da temporada 2004/2005 no estádio de Alvalade. Não vale a pena alongar-me muito porque a época transacta já lá vai (daí o “transacta”) e porque foi um jogo sem grande história. Três golos forasteiros fora de jogo (sobram dois...), arbitragem lamentável, estádio com muito pouca gente, equipa de cabeça perdida e treinador gnu. E, segundo consta, Polga “polguita”. Já lá vai e não se fala mais disso.
Não sabia eu na altura que era a última vez que iria ver o Capitão e o Rui Jorge de Leão ao peito. Isso entristece-me. Mais que isso, preocupa-me.
Por vezes o público de Alvalade é ingrato. O Pedro Barbosa (que, confesso aqui, sempre foi um dos meus alvos mais óbvios para umas piadolas) fez uma época soberba. Sempre que entrou em campo a equipa começou a jogar melhor. Sempre. Creio que o meu “arquivo futebolístico” nunca apagará a sua elegância, apesar de lenta; o seu drible, apesar de lento; a sua frieza (aqui já não fica bem o lenta...). Cheguei até a formular uma teoria sobre o sucedido. Tenho cá para mim que o Barbosa é surdo. Não no sentido de ser indiferente aos insultos, de ser imune à pressão do público ou alienado das indicações do treinador. Não, não; no sentido de não se aperceber que aquilo afinal era um motor de um avião e não um secador de cabelo em tamanho familiar.
O Rui Jorge era um jogador extremamente inteligente. Já não rápido ou impulsivo, mas nem por isso mais previsível. Uma das razões pelas quais o Paíto ainda não é um substituto à altura é porque não tem 1/3 do sentido posicional. E isso contou muito.
Juntos iniciaram muitas vezes as jogadas de ataque. De forma lenta, mas que culminava frequentemente com um cruzamento em boas condições para a área (à procura da competência de outros).
Fica aqui a minha homenagem. Vocês foram fenomenais esta época. Temo é que as saudades comecem apertar logo nas primeiras jornadas. E, nesse caso, duvido que a atmosfera seja silenciosa...
A foto foi tirada no final do jogo e da época. Não exactamente de onde eu insultava o Peseiro, mas pertinho.
Lx

PS – ainda não percebi muito bem se este vai ficar. Se sair também vou ter pena, até porque o grito que as claques lhe dedicam é hilariante: “hou há Douala! / hou há Douala!”. Pode ser que neste particular seja substituído pelo Makelele (já estou a imaginar: o Directivo de um topo “huelélélé!” e a JuveLeo em resposta do outro: “Makelele!”)

terça-feira, julho 05, 2005

As bananas da Madeira

São diferentes. Não, diferentes é pouco. São únicas, excelentes, imperdíveis, amorosas, são este mundo e o outro, são a minha fé, força “bananas da Madeira Allez”.
Por elas faço tudo e tudo perdoo. São caras, não faz mal, é porque sabem bem. Subsidiadas, melhor ainda, são parte da nossa cultura. Levem o meu IRS, levem o meu IVA, levem tudo e insultem-me todos os anos, porque o que eu gosto são delas e sem elas não seria ninguém.
Não lhes retirem autonomia orçamental, não vão eles abandonar a banana. Eu pago, e pago bem, porque como a banana da Madeira não há ninguém. Pobre cubano que nada sei, protejam bem a banana e o seu rei.
E que suba bem alto esse fogo de artifício, essa classificação na superliga, esse insulto ao compatriota, enquanto desce fundo, bem fundo, mais um túnel na ilhota.
Ele tudo sabe, até comprava todos os “Expressos” que lá aterravam, por isso nada lhe poderei ensinar. Que o monhé se afaste e o amarelado se cuide. Pois sem elas seríamos só nós. E aí, sim, tudo seria incompreensível.
Lx

PS – Foto suprimida à Universidade Independente

"Tiro aos melros"...

...é uma expressão que ganhou duplo significado este fim-de-semana...

O primeiro significado nasce do facto de mais um elemento da minha "crew" do liceu e faculdade se ter casado no sábado. Sempre nos imaginei a nós, aos rapazes, como melros aterrados num galho, enquanto que as cachopas nos tentavam caçar com essa pressão de ar carregada a pedras de sal que é o casamento...este melro foi abatido e caiu com toda a dignidade...

Já o segundo significado poderá ser atríbuido ao facto de ter sido convidado pelo dito melro para um dos fotógrafos oficiais da boda, já que não ia haver fotógrafo profissional contratado...tudo bem, não fosse a organizadora do evento (do "staff" do local), ter-me mandado trabalhar umas duas vezes, ao que eu solicitei um emblema a dizer "amigo do noivo"!!!...ou os olhares reprovadores da barwoman que parecia dizer "este gajo 'tá aqui para mamar ou tirar fotos?". A este propósito, confirmo, tal como o meu colega o fez (neste evento o Fisterra fez o pleno) que a água tónica se degusta melhor com gin e se a sua proporção roçar o 1/3 de gin não se perde nada...apesar de já o saber há muito, confirmei num ensaio científico com uma série de 5 réplicas...o que, com uns martinis à mistura, me levou a encarar com entusiasmo a tarefa de tirar fotografias aos comensais desconhecidos no intervalo dos diversos pratos do almoço...disparei indiscriminadamente, como naquela ordem dos sargentos americanos nos filmes de guerra: "fire at will!!!".

Assim o fiz, mas nunca deixei de pensar que devia arranjar uma fotografia para o Fisterra, já que me parecia na altura, que provavelmente iria escrever sobre este dia...a maneira que encontrei de conservar as devidas distâncias das nossas vidas pessoais foi esta, que está aqui em baixo...o reverso de uma das muitas fotos de grupo com os noivos...



Se a menina que caçou o melro meu amigo ainda procura as suas sandálias, elas estão aqui, minha querida...



O que me inspiraria para um final de dia e noite perfeito...melro ainda por caçar, dancei bem ébrio o "Sandálias de Prata" (versão remix drum'n'bass do DJ Marky), enquanto revia os meus 249 troféus de caça da safra do dia, sob a forma de .jpg's...

domingo, julho 03, 2005

Um maravilhoso gin tónico

Gosto só da água, mas isolada não atinge a plenitude da degustação. Já os houve muito bons e na altura certa, e os outros. Este último caiu no sítio e hora certa.
Talvez possa igualmente ter sido fruto do reencontro com algumas caras que já raramente vejo num ambiente semi-descontraído (entre vestidos cuidadosamente escuros e gravatas devidamente ponderadas); de caras novas coloridas e sorridentes; do trânsito de orgulhos paternais sentimentalmente desabafados (afinal de contas, este foi mais um desses dias).
Apesar do título, foi um dia e uma noite pacífica. Tão pacífica que já não me lembrava de acordar “naturalmente” ao 7º dia tão cedo.
Aqui sem fotos, pelo menos daquelas que se tiram com as máquinas.
FF

sexta-feira, julho 01, 2005

A minha vida dava um filme português...

...ou seja, parece por vezes aborrecida, especialmente quando se descobrem certas histórias que se cruzam com a minha...

Eu tinha, ou melhor, eu tenho uma escala para medir o potencial das miúdas, cuja a unidade de medida é o “rosnar”...é mais ou menos isto:

Grrr!!! – Míuda Gira ou com Personalidade Atraente;
Duplo Grrr!!! - Míuda Gira e com Personalidade Atraente;
Triplo Grrr!!! – Miúda tão atraente aos meus olhos, que não consigo olhar para mais ninguém e nem quero saber da personalidade dela, ou da ausência da mesma...ou seja, daquelas que provocam comportamentos quase obsessivos...

Quando eu era caloiro na faculdade, passava pela praxe aos caloiros de Eng. Electrotécnica e de Eng. Informática e não raras vezes estavam 249 caloiros de “quatro” e uma menina de pé, muito bonita, muito nórdica, muito...chamava-se Rafaela e era definitivamente um Triplo Grrr!!!.

A meio desse primeiro ano de faculdade deixei de a ver, disseram-me que se tinha transferido para Inglaterra, nunca mais a vi, nunca mais soube dela...até hoje...ao desfolhar o DN:música, encontrei nas páginas centrais numa fotografia e artigo generosos, os grandes olhos azuis dela, da Rafaela Ribas ...agora até sei o seu nome completo...continua tão, ou mais, bonita como na última vez que a vi...

Transferiu-se para o Royal College of London porque achava o curso em Portugal muito teórico (a sério?...estou contigo Rafa!), fez um estágio de verão na Nokia, que se prontificou a pagar-lhe o resto dos estudos, e começou uma vida profissional de sucesso...paralelamente: embrenhou-se nos circuitos do rock underground londrino, andou a colar cartazes na ruas de concertos de bandas sem contrato dos amigos, resolveu ser manager dessas bandas e gravar-lhes os discos, logo fundou a Feline Records (alguma coisa a ver com o meu Grrr!!!?), foi modelo da Vivienne Westwood, entrou em vídeos dos Suede e Chemical Brothers (pelos vistos tenho bom gosto!!!), voltou agora para Portugal como consultora, infelizmente já casada com um músico canadiano e já apostou numa banda portuguesa para a sua Feline, ufff...

Se a inveja mata, hoje já morri um pouquinho duas vezes...por causa de ti, Rafaela ...e do teu marido...


Também me lembro que ela parecia um bocadinho snob e vai daí... não é que ela gosta de mostrar no site da Feline o artigo histérico que a Vogue portuguesa fez sobre ela em 2003, confirmem aqui...mas a um Tripo Grrr!!! perdoa-se tudo...

O "azarrastão"

Estava para aqui eu a pensar que ando atreito a azares. Exemplos? Só(!) três.
Ontem, durante a futebolada semanal consegui, na equipa com um elemento a mais, perder o jogo, falhar golos e levar uma valente bolada nos... no... ora bem, aonde a minha sensibilidade atinge níveis escusados. Não contente, passei 45 minutos no trânsito para chegar a uma loja e não comprar uma prenda de casamento de uma lista já fechada (com a agravante de estar quase sem bateria no telemóvel, altamente conveniente para avisar os restantes cúmplices desta intervenção a roçar o final do prazo de validade). A amostra é completada com a presença de três carros de polícia, um de bombeiros e uma carrinha do canil da câmara à porta de casa (a cena é, infelizmente, demasiado mórbida para ser contada, dado que envolve um idoso de um apartamento próximo que não dava sinais de vida há alguns dias).
Apesar de me sentir na pele de “Rei Midas ao contrário“, cada vez mais me apercebo que não passo de um amador. Há por aí verdadeiros campeões. E de quem é a culpa? Lá de quem é, não sei, mas que ninguém lhe escapa...
Consta que o tal de Midas acabou a vida miserável (desprezado pelos Deuses, pobre e com orelhas de burro). O melhor é tentar acreditar que este é o caminho certo...